EUROSATORY – EMBT, o demonstrador de tecnologia para o MGCS

Em 2015, após a apresentação do T-14 Armata, o primeiro MBT (“Main Battle Tank”, ou tanque de batalha principal em tradução literal) de 5ª geração (ou 3ª, segundo alguns autores), este autor cunhou o termo “Efeito Armata” para definir o novo padrão a ser seguido, caso ele se tornasse uma realidade (fato que ainda não ocorreu), e o futuro carro de combate europeu poderá se tornar o primeiro exemplar desta nova tendência.

O Inicio

Em 2012, França e Alemanha iniciaram estudos para substituir os MBT de seus exércitos, o Leclerc e o Leopard 2, respectivamente, iniciando o chamado projeto MGCS (“Main Ground Combat System”), cuja a fase de conceito estava prevista para ser concluída em 2017, mas o surgimento do Armata mudou estes planos.

O EMBT apresentado na Eurosatory de 2018 (Foto: KNDS)

Em 2018, durante a EUROSATORY, a empresa KNDS, uma joint venture da alemã Krauss-Maffei Wegmann (KMW) com a francesa Nexter, apresentou seu primeiro veículo conceito para o programa MGCS, que recebeu o nome de EMBT (Enhanced Main Battle Tank), porem este nada mais era do que um chassi do Leopard II, com algumas modificações, equipado com uma versão da torre do Leclerc, dotada de sistemas de última geração, cujo objetivo estava mais no simbolismo de se mostrar a compatibilidade da tecnologia dos dois países do que apresentar um carro de combate realmente novo.

Após o evento, a empresa resolveu investir no projeto e criar um verdadeiro demonstrador tecnológico, incluindo o que há de mais moderno em tecnologia européia para carros de combate. Este protótipo foi concluído poucas semanas antes da EUROSATORY 2022 e o resultado foi um sistema de armas com mudanças nitidamente mais profundas que a versão anterior.

Concepção artística apresentada antes do evento (Foto: KNDS)

Chassi

 Em uma vista rápida, o chassi do EMBT, desenvolvido pela KMW, aparenta ser o mesmo das últimas versões do Leopard 2, mas dotado de diversas câmeras e sensores dispostos ao seu redor,  visando auxiliar sua condução. Porem, após uma análise mais detalhada, verifica-se que quase todos os seus elementos foram modificados ou substituídos.

Seu motor é um MTU 883 EPP, com 1.500 hp, o mesmo que equipa os MBT Leclerc dos Emirados Árabes Unidos e bem mais compacto que o do Leopard 2. Esta nova unidade de propulsão liberou um espaço de cerca de um metro, o que fez que parte dos sistemas hidráulicos fosse deslocada, que permitiu a inclusão de um novo tanque de combustível adicional com capacidade de 200 litros de combustível.

Outra mudança significativa foi à retirada do depósito de munições do chassi, ficando a viatura com apenas as 22 munições alojadas na torre, o que diminuiu sua capacidade ofensiva, mas aumentou a proteção de sua tripulação com a eliminação do “Efeito Pula Pirata”, que vem castigando os carros de combate russos durante a invasão da Ucrânia.

O chassi do EMBT se assemelha, em uma primeira vista, ao do Leopard II, mas ele é uma grande evolução.

O anel da torre foi recuado em 20 cm, a fim de maximizar o volume disponível na frente do chassi, onde estão dois tripulantes. O motorista, posicionado à direita, dispõem de um “cockpit” digital, com telas panorâmicas que exibem os dados dos vários sensores (e sistemas ópticos convencionais como contingência) e controles eletrônicos do tipo “drive by wire”, com alto nível de automação. À esquerda, há um operador de sistemas, uma nova função a bordo de um MBT, cuja função é aliviar a carga de trabalho do comandante, ao  gerenciar os vários sistemas auxiliares dos veículos, sensores, sistemas de armas remotamente controladas (SARC), sistemas de autoproteção, guerra eletrônica e, futuramente, veículos aéreos não-tripulados (“unmanned aerial vehicle” – UAV).

A ergonomia para a tripulação também foi melhorada, sendo que a viatura pode acomodar tripulantes com até 1,87 m de altura, uma clara melhoria em comparação com as gerações anteriores de veículos.

Torre

 A nova torre da Nexter, claramente influenciada pela que atualmente equipa o MBT Leclerc, abriga o artilheiro e o comandante, mantendo em comum apenas o armamento principal, mas isso deve mudar.

O demonstrador está equipado com um canhão Nexter de 120 mm, de 52 calibres, mas espera-se que seja equipado com o novo ASCALON (do acrônimo “Autoloaded and SCALable Outperforming guN”) de 140 mm, ainda em desenvolvimento. Segundo a empresa, este será capaz de disparar munições cinéticas a 13 megajoules, capazes de perfurar qualquer blindagem (atual ou projeto) há mais de 4.000 metros, ou a 10 megajoules em baixo recuo, na versão para equipar carros de combate mais leves, como os MMBT.

O Nexter ASCALON, de 140 mm, poderá poderá ser a arma principal do futuro MBT europeu.

No evento foi apresentada também a nova munição 120 SHARD®, desenvolvida pela Nexter Arrowtech, que é considerada a nova geração de munição cinética APFSDS (“armor-piercing fin stabilized discarding sabot”), ao estabelecer um novo padrão de desempenho, com maior capacidade de penetração combinada com altíssima precisão.

A munição 120 SHARD®, da Nexter Arrowtech, é considerada a nova geração de munição cinética APFSDS.

O demonstrador também estava equipado com dois SARC: um ARX 30, equipado com o canhão 30M781, de 30 mm (o mesmo do helicóptero Eurocopter Tiger) e um T2B, equipado com uma metralhadora 12,7×99 mm (.50 BMG), ambos desenvolvidos pela Nexter, além de uma metralhadora coaxial.

O ARX 30 possui uma arma com uma alta cadência e capaz de disparar uma ampla gama de munições do tipo perfurante, explosiva ou ABM (“air burst ammuni­tion”), que são capazes de destruir blindados mais leves, além de possuir um alto grau de elevação, o que permite lidar plenamente com ameaças vindas do ar, com aviões voando baixo, helicópteros, UAV e munições autônomas (“loitering munitions”, conhecidos como “drones suicidas”), já que está totalmente integrado ao sistema de defesa ativa da viatura.

O SARC ARX 30 aumenta consideravelmente a capacidade ofensiva e defensiva do EMBT.

O principal sistema optrônico, localizado à esquerda do canhão, é fornecido pela Safran e seu sistema de autoproteção é complemente novo, incluindo 14 lançadores granadas 80 mm Galix, da Lacroix Défense, sendo oito de fumaça e seis despistadores; sistema de defesa ativa Trophy APS e passiva E-LAWS LWS, da israelense Rafael; e sistema de detecção acústica PILAR V, da francesa Metravib, capaz de detectar, identificar e localizar ameaças em tempo real, seja mísseis ou RPGs, garantindo uma a reação imediata e o fogo de retorno de forma eficiente e autônoma. Toda esta integração foi pensada desde a fase de concepção do projeto, estando os radares e sensores perfeitamente integrados no projeto da torre, cobrindo um arco de 360º ao redor da viatura.

Existem estudos para dotar as próximas plataformas com diversos tipos de UAV, que aumentariam a consciência situacional do comandante para além do alcance visual, e diversos  sistemas de mísseis.

O sistema de detecção acústica Metravib PILAR V é capaz de detectar, identificar e localizar ameaças em tempo real, seja mísseis ou RPGs, protegendo a viatura e engajando o atacante de forma totalmente automática.

O futuro do demonstrador

 O EMBT não é um o protótipo do MGCS, mas sim um demonstrador de integração de conceitos tecnológicos, uma vitrine para as possibilidades da KNDS, totalmente desenvolvido com recursos financeiros da empresa, e que permitirá o desenvolvimento de diversos elementos, conceitos e doutrinas que poderão estar presentes no futuro blindados europeu.

De acordo com integrantes da empresa, após a EUROSATORY, o chassi e a torre serão novamente separados e enviados de volta para suas fábricas, para serem finalizados e iniciarem as fases de testes.

A grande quantidade de sensores e radares a volta desta viatura, que cobrem 360º ao seu redor, justificam a necessidade de um operador de sistemas.

Características técnicas

  • Armamento principal: Canhão de alma lisa Nexter 120, de 120 mm e 52 calibres, com carregador automático;
  • Armamento secundário: SARC ARX 30, equipado com canhão de tiro rápido 30M781, de 30×113 mm; SARC T2B, equipado com metralhadora de 12,7×99 mm; e metralhadora coaxial de 12,7×99 mm;
  • Peso de combate: 61,5 toneladas;
  • Comprimento: 10,45 metros;
  • Largura: 3,85 metros;
  • Altura: 3,24 metros;
  • Altura livre do solo: 470 mm;
  • Motor: MTU 883 EPP, com 1.100 kW (1.500 hp);
  • Velocidade máxima: 65 km/h;
  • Autonomia: 460 km;
  • Tripulação: quatro (dois no chassi e dois na torre).

  

Fotos: Paulo Bastos (a não ser quando informado)

 

 

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Comentários

5 respostas

  1. Pensei que ele já estava com um protótipo do canhão de 140mm… sobre diminuir o numero de munição isso além de diminuir o referido problema russo deve também librará espaço para novos subsistemas. Será que como no conceito da Rheinmetall teremos o uso de drones orgânicos do MBT? Talvez no futuro a vaga municiador vire um operador para esse tipo subsistema.

  2. Algo curioso é que; eu creio que este seja o primeiro carro de combate, que eu vejo que possui dois sistemas de armas remotamente controladas, instaladas sobre a torre principal.

  3. Fantástica esta máquina, super futurista . Canhão de 30mm e .50 em torres remotas distintas é de cair o queixo .

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