Está nascendo um novo veículo da família Guarani, a Viatura Blindada de Engenharia

Mais um projeto derivado do PROGRAMA GUARANI brevemente estará disponível no inventário do Exército Brasileiro (EB), trata-se da Viatura Blindada de Combate Engenharia, ou VBC Eng.

Por Paulo Roberto Bastos Jr.

Em 2007, dentro do processo de transformação do Exército para elevar o padrão da Força Terrestre, principalmente no tocante a mobilidade (priorizando a indústria nacional), a modernização de seus equipamentos e desenvolvimento de tecnologias para recuperar a capacidade de operar com eficiência, criou-se o Projeto Estratégico do Exército Guarani.

Esse programa desenvolveu uma Nova Família de Blindados de Rodas, baseada nos requisitos operacionais básicos da VBTP-MSR aprovados em 1999.

Foto 2 – Desenho da VBC Eng Guarani equipado com o implemento Concha Carregadeira (LBA).

Na atualidade, a VBTP-MSR 6×6 Guarani já se encontra totalmente operacional e converteu-se no principal vetor de outro importante programa, a criação das Brigadas de Infantaria Mecanizada.

Dando segmento a ambos os programas, foi definida a inserção, numa primeira fase, de Viaturas Blindadas dotadas de implementos de Engenharia e, a seguir, viaturas com equipamentos de desminagem e desobstrução de vias.

Nesse contexto, o Departamento de Engenharia e Construção (DEC), por meio da Diretoria de Material de Engenharia (DME), conduz atualmente o processo de aquisição de uma Interface Comum (IC), mais 3 (três) implementos de engenharia para constituírem 2 (dois) protótipos da Viatura Blindada de Combate Engenharia (VBC Eng) Guarani.

Foto 3 – Desenho da VBC Eng Guarani equipado com o implemento Lâmina para remoção Obstáculo (SOB).

Por se tratar de aquisição internacional, a partir de 2017, o Departamento passou a contar com o apoio da Comissão do Exército Brasileiro em Washington (CEBW), a qual conduziu o processo licitatório vencido pela empresa Pearson Engineering Ltd, com sede na Inglaterra, representada no Brasil pela Prospectare Brasil.

Uma das operações desses implementos é a criação de brechas para a passagem de vários tipos de tropas (mobilidade), sendo uma missão típica para forças mecanizadas e blindadas pelo seu poder de fogo e agilidade.

Para tanto, a tropa de Engenharia que acompanha a força principal deve ter características semelhantes como a proteção blindada (escalável e modular) e a rapidez (sobre rodas).

Após a homologação desses implementos iniciais, serão aprofundadas as negociações para aquisição de modelos específicos para a função antiminas.

Cada implemento adquirido possui uma finalidade específica dentro do contexto para o qual foi projetado.

Foto 4 – Desenho da VBC Eng Guarani com o Jettison Fitting Kit (JFK), interface que permite a utilização dos implementos da Pearson.

Abaixo seguem algumas características desses implementos

 

Braço de Escavadeira (Excavator Manipulator Arm – EMA)

  • Escavações de trincheiras, crateras ou valas;
  • Construção e remoção de obstáculos;
  • Remoção de escombros;
  • Execução de tarefas de levantamento e carregamento.
Foto 5 – A 15ª Cia E Cmb Mec, a unidade que receberá as VBC Eng Gurani para o processo de Experimentação doutrinária, já opera as VBTP-MR Guarani desde 2018. Na foto, de março de 2017, os quatro primeiros motoristas da unidade fazem o curso de capacitação em uma viatura do 16º Esqd C Mec (foto EB).

 

Concha Carregadeira (Earth Anchor Blade – EAB)

  • Movimentação e transporte de material;
  • Remoção de obstáculos em estradas;
  • Apoio a tarefas de recuperação de estradas.
Foto 6 – Blindado Mowag Piranha IIIC do CFN com Lâmina Dozer, utilizando uma versão do Jettison Fitting Kit (foto via Prospectare Brasil).

 

Lâmina para remoção Obstáculo (Straight Obstacle Blade – SOB)

  • Limpeza de escombros urbanos, areia, solo e barricadas;
  • Remoção de veículos leves e médios;
  • Nivelamento da superfície do solo;
  • Preparação de locais de lançamento de pontes;
  • Operações leves de movimentação de terra.
Foto 7 – Blindado Stryker Engineer Squad Vehicle M1132 do US Army com o implemento antiminas Surface Clearance Device (SCD) da Pearson, um dos candidatos a equipar futuramente a VBC Eng Guarani (foto via Prospectare Brasil).

Tais implementos foram desenvolvidos no escopo do Pacote de Dados Técnicos (PDT) elaborado pela empresa Pearson.

O PDT foi avaliado e aprovado com o apoio da Diretoria de Fabricação (DF), subordinada ao Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército (DCT), o que possibilitará a construção dos protótipos.

O sistema da Pearson, que é a empresa líder do segmento desses implementos para veículos militares, é similar ao utilizado nos blindados de engenharia da família Striker do US Army e em alguns Blindados Piranha IIIC do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), e utiliza o sistema Jettison Fitting Kit (JFK) como interface, do tipo plug-and-play, permitindo a intercambialidade de diferentes equipamentos, conforme a necessidade, e conecta-los rapidamente em qualquer lugar.

Esse sistema pode ser adaptado em qualquer viatura da família Guarani, sem a necessidade de alterar a estrutura do veículo, e pode ser feito fora da fábrica, tanto que a instalação dos kits deverá ser feita no Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) no segundo semestre desse ano, segundo o cronograma previsto.

Foto 8 – Blindado Bushmaster IMV do Exército Australiano equipado com o implemento anti-minas Super Light Weight Roller (SLWR) da Pearson, outro sistema da que poderá equipar futuramente os VBC Eng Guarani (foto via Prospectare Brasil).

A viatura blindada permitirá a execução de trabalhos técnicos de engenharia em apoio às Brigadas Mecanizadas.

Esses implementos serão submetidos à apreciação do Centro de Avaliações do Exército (CAEx), por meio de requisitos técnicos em estudo.

Em seguida, as viaturas passarão por uma experimentação doutrinária, planejada para ser conduzida pela 15ª Companhia de Engenharia de Combate Mecanizada (15ª Cia E Cmb Mec), localizada em Palmas (PR), orgânica da 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada.

Foto 09: Final Assembly Line do Guarani em Sete Lagoas, MG.

A previsão é que os testes iniciais ocorram em Marambaia (CAEx) no primeiro trimestre de 2019.

A meta final do EB é equipar todas as Companhias de Engenharias de Combate Mecanizadas com essas viaturas, que além de dar um substancial incremento na capacidade operacional da força, fornecerá uma ferramenta de grande eficiência e grande mobilidade que poderá ser usada pela defesa civil em casos de catástrofes naturais.

Mais um ponto para o EB, que mostra que com inteligência e pragmatismo é possível enfrentar os desafios que surgem, mantendo uma força moderna e eficiente.

 Nota da Redação:
Tecnologia e Defesa agradece o apoio do Coronel Alexandre Lopes Nogueira, Subdiretor de Materiais de Engenharia, do Departamento de Engenharia e Construções do EB, e do Coronel R/1 Rogério Gomes da Costa, CEO da Prospectare Brasil, que possibilitaram a produção desta da matéria.

 

 

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Comentários

5 respostas

  1. Prezados camaradas de Tecnologia e Defesa

    Acho que houve um engano ao nomear essa nova viatura como Viatura de Combate de Engenharia.
    talvez o autor do texto tenha se baseado em, nomenclatura de exército estrangeiro, não do EB.

    Para o Exército Brasileiro, uma viatura de combate é uma viatura dotada de apreciável poder de fogo, capaz de causar significativo dano ao inimigo.

    Essa nova VB deve ser dotada somente de uma metralhadora, que na classificação adotada para blindados é armamento para auto defesa, não se enquadrando na nomenclatura utilizada no texto.

    Assim, uma VBTP (Viatura Blindada de Transporte de Pessoal) M 113 dotada com o mesmo armamento (provavelmente uma Mtr .50) e participando efetivamente do combate não é uma viatura de combate para o EB, como também uma VBR Casvavel, mesmo dotada com um canhão de 90 mm não é, também, uma viatura de combate e sim uma VBR (Viatura Blindada de Reconhecimento).

    A nova VB baseada no chassi da VBTP-MSR Guarani é uma Viatura Blindada Especial de Engenharia. Essas VBE são viaturas dotadas de equipamentos que executam tarefas especiais em prol da tropa de combate. No caso apresentado nos desenhos do texto, uma lâmina dozzer, uma pá carregadeira ou uma escavadeira, como poderia ser também um rolo malhador, um arado etc. Todos implementos típicos de engenharia para trabalhos de mobilidade ou contra mobilidade.

    Viaturas Blindadas de Combate são os carros de combate (VBC CC), as VBC Fuzileiros (ou de Infantaria como são denominadas em outros exércitos) os obuseiros autopropulsados (VBC OAP), as viaturas lançadoras de mísseis ou foguetes (VBC Lç Msl ouFog), as de morteiro (VBC Mrt) etc.

    Não é porque uma viatura blindada participa de alguma forma do combate que ela será classificada como viatura de combate. A classificação diz respeito à sua função ou trabalho executado nesse combate.

    Alguns exércitos possuem ou possuiram VB que se enquadrariam na denominação de VBC Eng, por possuirem um canhão de elevado calibre (superior a 105 mm) com a função de demolição de casamatas, posiçoes defensivas etc. Essas VB sim, seriam VBC-Eng, o que não é o caso da apresentada no artigo.

    Forte Abraço!

  2. Em complemento ao comentário anterior, as viaturas blindadas Leopard 1, em uso nos Batalhões de Engenharia de Combate Blindados do Exército Brasileiro, são classificadas como Viaturas Blindadas Especiais e não de Combate. Estão em uso naqueles batalhões as VBE Engenharia Leopard 1 e as VBE Lança Pontes Leopard 1, todas viaturas blindadas especiais (VBE).

  3. O manual de Campanha C 5-10 – O Apoio de Engenharia no Escalão Brigada, em seu artigo 4º, trata as Viaturas Blindadas de Combate de Engenharia com a sigla VBCE, portanto, a sigla referente a Engenharia no âmbito do exército sendo Eng e não havendo padronização para isso no manual de abreviaturas, a sigla usada pela na publicação não deixa de estar correta, VBC Eng.
    Estou realizando um trabalho de aperfeiçoamento neste tema.

  4. Como farão para essa vtr sobre rodas não atolar nos terrenos moles comumente encontrados no terreno brasileiro encontrado no centro sul do pais, por exemplo? Lembrando que esses terrenos são justamente os que necessitam de trabalhos de apoio a mobilidade. Não visualizo como uma vtr sobre rodas poderá construir uma rampa de acesso a um curso d’água, por exemplo

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