A SOGENA, subsidiária da GICAN, que é o grupo que reúne as indústrias do segmento naval na França, realizou de 30 de setembro a 3 de outubro uma press-trip para apresentar as novidades deste setor e já aquecendo para a Euronaval, que ocorrerá de 4 a 7 de novembro em Paris.
A viagem incluiu uma série de visitas às empresas em Paris e nas regiões da Normandia e da Bretanha. A primeira da lista foi à MBDA.
A apresentação na sede da empresa que fica em Le Plessis-Robinson, bem próximo à Paris, começou com um panorama da sua atuação no segmento de defesa.
Os seus produtos equipam mais de 90 países no campo do domínio do espaço aéreo, forças terrestres, defesa antiaérea e o emprego do poder naval. Com uma força de trabalho de 15 mil funcionários, a sua receita é de 4,5 bilhões de euros e hoje a empresa acumula uma carteira de pedido de 9,9 bilhões de euros. A MBDA detém 40% do mercado europeu e 16% do mercado mundial.
Por fim, atualmente 45 dos seus programas estão em serviço operacional e existem outros 15 em desenvolvimento.
Panorama histórico
Fundada em 2001, a MBDA é o resultado de fusões de empresas com longa tradição no mercado de defesa. A Matra Defense (França) e a BAe Dynamics (Reino Unido) se fundiram em 1996 dando origem a Matra Bae Dynamics, enquanto a GEC-Marconi (Reino Unido) se uniu com a Alenia Difesa (Itália) em 1998 dando origem à Alenia Marconi Systems.
Às essas novas empresas fundiu-se a EADS Aerospatiale Matra Missiles, resultando na MBDA em 2001, que em 2006 somou a participação da Alemanha e em 2010 da Espanha.
Sea Warden
A apresentação da MBDA durante a press-trip começou pelo Sea Warden, um sistema integrado de defesa antiaérea destinado para o segmento naval. Por meio de uma arquitetura aberta, a solução oferecida é escalável para atender a demanda do operador e integrar sensores que sejam do seu interesse.
Dentro deste conjunto está o HELMA-P, que consiste numa arma anti-drone com o funcionamento por meio de um feixe laser de alta potência, de 2kW. Com alcance máximo de 1km, o feixe concentra energia num ponto causando o aquecimento da estrutura até que a mesma entre em colapso, seja por derretimento ou por perda de componentes em voo. Nos testes com drones de pequenas dimensões, o resultado foi obtido em aproximadamente 5 segundos.
Apesar de uma série de testes já terem sido realizados, a MBDA está explorando o uso do sistema em condições meteorológicas adversas e com os drones assumindo diferentes perfis de voo. A empresa alega que é possível destruir drones de qualquer tamanho, uma vez que o laser deve ser usado contra partes sensíveis e indispensáveis para manter a aeronavegabilidade da plataforma, mas que o tempo para a neutralização pode ser maior.
Por outro lado, em parceria com a MC2 Technologies, uma empresa francesa que trabalha com tecnologias para indústria, aviação, laboratórios universitários e soluções governamentais, a MBDA incorporou ao Sea Warden o Nerad HG (hand gun), uma arma antidrone portátil e compacta.
Por meio de cinco bandas de frequência, o Nerad HG que é capaz de interferir na maioria dos drones comerciais existentes, podendo atuar de diferentes maneiras, sendo causar o pouso imediato da plataforma; manter o drone em voo pairado até esgotar a sua bateria ou enviar o sistema de volta a sua posição de origem. O seu peso é de apenas 3,5kg, o alcance é de 500m e a autonomia da bateria é de uma hora.
Já o Nerad RF é maior e mais robusto e se assemelha a um fuzil de assalto. Comparado ao Neard HG, este trabalha em sete faixas de interferência, tem alcance de 3km, pesa 5,6kg sem acessórios e a bateria tem duração e uma hora considerando interferências contínua usando todas as bandas simultaneamente.
É importante lembrar que os sistemas do Sea Ward trabalham em camadas para aumentar a segurança, oferecendo redundância. Se o drone passar por um sistema, o próximo pode ser capaz de neutralizá-lo.
Outras duas soluções utilizam drones para se contrapor a esse mesmo tipo de ameaça. Juntando esforços com a empresa francesa Novadem, a MBDA está oferecendo no Sea Warden os drones “hit-to-kill”. O primeiro, de pequenas dimensões, é o SKV, um camicase com alcance de aproximadamente 2km que acelera a uma velocidade de até 200km/h para impactar contra o alvo, sendo guiado na fase terminal do voo pelo seu próprio sistema eletro-óptico. Pesando apenas 1kg, a sua estrutura é reforçada com fibra de carbono de 5mm de espessura para dar mais robustez na hora do impacto, minimizando as chances de sobrevivência do alvo.
A segunda solução é maior e mais pesada e fora da categoria camicase, que lança uma rede contra a ameaça para bloquear a sua trajetória e, se possível, capturando-a para eliminar esse ativo do inimigo.
Mistral 3
O sistema de defesa antiaérea de curto alcance e baixa altura Mistral, da MBDA, é consagrado e provado em combate especialmente no segmento naval. Foi adotado por mais de 35 operadores, sendo na América Latina o Brasil, Chile, Equador, Peru e Venezuela.
O Mistral é um míssil da classe fire & forget guiado por calor (banda 2) com ogiva de 3kg e podendo atingir alvos voando a 8.000 metros de distância e 6.000 metros de altura. Quando estocado, pode permanecer por 20 anos sem manutenção.
A MBDA apresentou durante a visita a torre Simbad RC, que é controlada remotamente. Nessa nova tecnologia, a torre teve uma redução no nível de ruído produzido no seu funcionamento, melhorando o conforto para o operador que pode controlar até duas torres graças a uma interface simplificada e intuitiva.
Ao efetuar os disparos, a tripulação pode rearmar a torre em até 15 minutos, porém, a MBDA afirma que esse tempo é considerando equipagens com pouco treinamento ao ainda em fase de ganho de experiência.
Com 50 torres Simbad em operação, a nova geração desse sistema possui uma câmera termal, fonte de alimentação já acoplada, campo de atuação de +/- 160º, elevação de -30º a +55º e peso (sem míssil) de 480kg. A velocidade de giro é de 60º por segundo e o emprego pode ser tanto contra alvos no ar (incluindo pequenos drones), lanchas e embarcações. Outra vantagem da nova torre, que também terá uma versão para quatro mísseis (Tetral), é que o míssil consegue engajar o alvo fora da zona de segurança para o tiro, mantendo o acompanhamento para efetuar o disparo quando a pontaria entrar na zona segura.
A entrada em serviço com as primeiras entregas deve ocorrer a partir de 2027.
O míssil, que tem 1,88m de comprimento e 20kg, suporta cargas de 30g e apresenta a probabilidade de acerto de 96%.
Família Aster
Seguindo na visita, alguns galpões ao lado de onde se encontrava o Mistral, pudemos conhecer o míssil de defesa antiaérea Aster, que soma a operação em 15 países e com a entrega de mais de 2 mil unidades até o presente que equipam 80 navios. Até hoje, mais de 250 Aster foram disparados com cerca de outros 100 em situação operacional, a maior parte deles na Ucrânia. A MBDA acumula pedidos para outros mil mísseis.
As dimensões do míssil são impressionantes. O Aster 30 pesa mais de 850kg contando o suporte logístico e tem quase 5 metros de comprimento e 1,80m de envergadura. Sendo um projeto franco-italiano, a sua origem remonta ao início deste século com a entrada em serviço em 2002 do Aster 15, um modelo terra-ar desenvolvido para operar sob quaisquer condições meteorológicas fazendo a interceptação e destruição de mísseis balísticos e provendo a proteção local.
A agilidade no deslocamento para neutralizar as ameaças é uma característica presente desde o início do programa que, com o Aster 15, visava alvos como mísseis supersônicos e da categoria “sea-skimmers”, ou seja, que navegam rente a superfície para dificultar a detecção e as possibilidades de defesa.
O Aster funciona em dois estágios, sendo o primeiro o acelerador que inicia a trajetória sendo descartado alguns segundos após a ignição. O segundo estágio é o míssil propriamente dito com os sistemas de navegação, de controle, de guiagem, ogiva entre outros. Vale ressaltar que o motor possui vetoração de empuxo e, nas aletas, o míssil dispõe de saídas de gases que garantem hiper manobrabilidade, fazendo com que o Aster se desloque, literalmente, de forma lateral.
O desenvolvimento da família levou, no ano de 2005, ao Aster 30, que teve o seu alcance quadruplicado, passando de 30km para até 120km, aumentando assim a sua área de cobertura.
Visando contrapor as novas ameaças, em 2012 um novo desenvolvimento deu origem ao Aster 30B1 que passou a incluir a interceptação e destruição de mísseis táticos e balísticos.
Para 2027, a MBDA trabalha na variante Aster B1NT com 150km de alcance e nova tecnologia de guiagem, somando a banda Ka a já existente Ku nas variantes anteriores do míssil. O B1NT visa combater veículos que façam a reentrada na atmosfera e mísseis hipersônicos.
Segundo a MBDA, os principais desafios do atual cenário de combate são mísseis em velocidade hipersônica, mísseis com elevada mobilidade terminal, ataques feitos por saturação ou por enxame.
Hoje, apenas o Aster 30 B1 está em produção, sendo que a MBDA projeta a operação da família, pelo menos, até 2060.
Uma resposta
Familia Aster era meu sonho pro programa de defesa antiaérea do Brasil 😪