Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro. O local escolhido para a apresentação do Embraer Defesa & Segurança KC-390 é carregado de significados históricos para a aviação militar brasileira.
Resultado de uma encomenda colocada pela Força Aérea Brasileira com requerimentos exigentes, o KC-390 é uma aeronave com célula robusta, dotado de asas altas equipadas com motores posicionados para evitar a ingestão de detritos, cauda em “T” com porta-rampa de carga automatizada, trens de pouso principais acondicionados dentro de grandes estruturas aerodinâmicas com portas de design exclusivo, portas laterais de lançamento de paraquedistas equipadas com defletores aerodinâmicos especiais, um nariz amplo (que abriga um moderno radar) e trem de pouso dianteiro de rodas duplas.
Projetado para transportar até 26 toneladas, o KC-390 atinge essa performance graças a um par de motores International Aero Engines (IAE) V-2500, mesmo tipo utilizado em diversos jatos comerciais. Um bônus adicional dessa popularidade é a ampla oferta de peças, serviços e facilidades de manutenção passa esse modelo de propulsor.
Segundo Valtécio Alencar, responsável por apresentar a aeronave durante a LAAD Defence and Security 2017 “O moderno e espaçoso cockpit com janelas de grande área permitem uma grande consciência situacional para a tripulação. O painel, dominando por grandes telas coloridas, emprega tecnologia de aviônica digital PRO LINE FUSION. Os controles de voo são do tipo sidestick (manete lateral), com ergonomia avançada e grande conforto para a tripulação, que dispõe inclusive de ar-condicionado e assentos reguláveis eletricamente” explicou o executivo da EDS.
O compartimento de carga é muito bem equipado. Sua plataforma de piso, totalmente multifuncional, faz uso dos conceitos, girar, abrir, clicar, travar, fechar, embutir e ancorar levado ao máximo das possibilidades. Para converter um piso liso em auto rolante, basta apenas girar as guias e está feita a conversão. O mesmo para o lançamento de carga paletizada, basta abrir, travar e deixar em posição as guias, e os palets deslizam para fora do avião. Para ancorar cargas e mantê-las estáveis, existem diversos tipos de pontos de ancoragem e presilhas para veículos, palets ou fardos.
Para lançar infantaria paraquedista, existem as provisões de cabo de ancoragem do gancho de paraquedas, luzes de sinalização e demais equipamentos.As portas laterais permitem um salto seguro, livre de pancadas ao sair no fluxo de ar. Tal efeito é obtido com o uso de defletores aerodinâmicos que ficam embutidos na fuselagem quando não estão sendo usados.
O Sistema de Controle de Lançamento de Cargas é usado para manter, monitorar e executar lançamentos aéreos de precisão de carga, veículos e tropas em uma variedade de métodos táticos. Ele inclui uma estação para o Mestre de Cargas e uma rede de unidades de controle de bloqueio e painéis de controle para detectar, medir a força, ativar e liberar bloqueios.
Desse modo, os militares tem a seu dispor uma série de modernas ferramentas de engenharia, e as medidas da fuselagem (largura x altura x comprimento) facilitam o embarque de um sem número de configurações de carga, palets, containers, viaturas, veículos especializados, blindados, equipamentos de engenharia e muito mais.
Adicionalmente, e para aumentar seu alcance operacional, o KC-390 dispõe de uma sonda para reabastecimento em voo, dessa forma, ele pode receber combustível de outro avião com as mesmas capacidades, estendendo enormemente sua autonomia e raio operacional
Novos testes do KC-390
O KC-390 deverá efetuar em breve testes transportando blindados do modelo 6×6 VBTP-MR Guarani. Esse é um antigo requerimento colocado pela Brigada de Infantaria Paraquedista quando esteve sob o comando do general-de-brigada Roberto Escoto, e pelas Forças de Reação Rápida (ambas tropas profissionais do Exército Brasileiro).
Serão empregados tanto o blindado na sua configuração standard quanto as versões equipadas com torres de armamento REMAX, REMAN e UT-30BR. A versão armada com a torre TORC30 (canhão de 30 mm) deverá ser submetida aos mesmos testes assim que for integrada ao veículo blindado Guarani e estiver disponível.
Esse testes visam dirimir quaisquer dúvidas sobre a capacidade do avião em prover a Brigada de Infantaria Paraquedista o transporte imediato de blindados prontos para o combate sem a necessidade de nenhum tipo de intervenção como a montagem/desmontagem de torres e estações de armamento.
Na prática, esse testes irão comprovar a correta comunicação e troca de informações entre os gestores de projetos estratégicos vitais de duas forças armadas brasileiras.
Segundo o general-de-brigada Edson Henrique Ramires, gerente do Programa VBTP-MR 6×6 “O Guarani é fundamental para garantir a mobilidade e o poder de choque das Forças Expedicionárias brasileiras, e o KC-390 é a “bala de prata” dessa estratégia, pois entrega blindados, veículos, suprimentos, munições, tropas e demais equipamentos de campanha diretamente em pistas semipreparadas com poucas horas” explicou o general.
Para sobreviver nesse ambiente perigoso de linha de frente, o avião está equipado com uma avançada suíte defensiva composta por sensores de alerta para aproximação míssil, lançadores de pirotécnicos despistadores e o sistema de contramedidas infravermelho direcionais capazes de interferir na cabeça de guiamento de mísseis guiados por calor.
O modelo também emprega sensores de aumento de visão sob mau-tempo, a imagem sendo projetada nos enormes visores ao nível dos olhos instalados para os pilotos no cockpit. Essa funcionalidade de pouso sob baixa visibilidade permitirá ao KC-390 operar seguramente sob condições climáticas adversas. Uma câmera colorida, instalada na cabine, gravará a visão do piloto sobreposta com as informações geradas para análise das missões.
Segundo o gerente do projeto KC-390 pela EDS, Paulo Gastão “O avião KC-390 foi criado para fornecer mobilidade e robustez as forças armadas brasileiras contendo um altíssimo nível de tecnologia agregada ao produto. O projeto foi pautado pela alta flexibilidade operacional e pela facilidade de manutenção ao longo do ciclo de vida útil do modelo, inclusive com relação ao custo da hora de voo. O avanço dos testes e as próximas etapas do desenvolvimento servirão para coroar essas expectativas depositadas nesse produto ” finalizou.
Roberto Caiafa
(texto e fotos)