Após oito meses de intervalo, o governo de Minas Gerais, através da secretaria de Ciência Tecnologia e Ensino Superior, promoveu a segunda reunião de trabalhos do Condomínio Temático Aeroespacial do estado, criado em 2014 com o objetivo de tornar-se um centro de estudos para desenvolver novas tecnologias, novos produtos, experimentos e treinamento de mão de obra especializada para indústria aeroespacial local.
A iniciativa, que conta com o apoio do Governo Federal, tem como objetivo congregar em fóruns de discussão o Governo, Instituições de Ciência e Tecnologia e a Indústria (Tríplice Hélice) em torno do fortalecimento do Pólo Aeroespacial de Minas Gerais, que vem sendo estruturado nos últimos anos para ampliar as ofertas de ensino, pesquisa, inovação e o comércio de produtos aeroespaciais.
O subsecretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Leonardo Dias, conduziu os trabalhos da mesa de palestrantes formada pelo superintendente de Inovação Tecnológica de Minas Gerais, Roberto Rosenbaun, Mario Lott, gerente do Centro de Engenharia e Tecnologia Embraer (CETE-MG), coronel Maurício Pozzobon Martins, diretor do Instituto de Estudos Avançados da Força Aérea Brasileira (IEAv), e Elizeu Alcântara, gerente-geral da IAS Indústria de Aviação e Serviços. Complementando a mesa, o superintendente de Projetos Especiais da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Investimentos Estratégicos), Sr. Hugo Pereira.
Representando as cidades do chamado Complexo Aeroespacial de Minas, a reunião contou com as presenças do reitor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, professor Pedro Ângelo Almeida Abreu (Diamantina / biocombustíveis para aviação, desmanche e reciclagem de aeronaves), professor Eduardo Nunes Guimarães, vice-reitor da Universidade Federal de Uberlândia (Polo Aeronáutico do Triângulo Mineiro), professor Ariosto Bretanha Jorge, coordenador do Programa Centro de Tecnologias de Helicópteros (CTH) da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), e Rogério Botelho Parra, coordenador do Curso de Engenharia Aeronáutica da Universidade FUMEC (Belo Horizonte\formação de recursos humanos).
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) enviou como observadora a especialista em projetos líder das indústrias do setor de Defesa, Larissa de Freitas Querino. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, através do Condefesa, foi representada pelo assessor executivo de Projetos Especiais Fernando Gonçalves Castelo Branco.
A reunião também contou com a participação de José de Freitas Junior, gerente geral RTC da Dallas Airmotive, Marcus Dinelli, supervisor de suprimento técnico da Total Linhas Aéreas, e Dany H. L. Oliveira, representando o consórcio BH Airport (Aeroporto Internacional de Belo Horizonte). Por vídeo conferência, participaram Victor Sterzik, do Consulado da Alemanha em Belo Horizonte, e a dupla Jean-Paul Bruyant e Blanche Demaret, ambos do laboratório aeroespacial francês Onera.
Abrindo a série de palestras, Roberto Rosenbaun apresentou as vantagens competitivas de Minas Gerais para receber empresas de alta tecnologia e grande valor agregado a seus produtos, em contraponto a dependência econômica de commodities, e falou sobre o atual estágio de capacidades existentes no ensino, na indústria e em políticas voltadas para absorver novas tecnologias, capacitar recursos humanos e implementar projetos de pesquisa e desenvolvimento com foco em inovação.
Mário Lott, da Embraer, frisou a importância do CETE-MG, único departamento da Embraer fora do estado de São Paulo, e focado em solucionar gap pontuais de engenharia de sistemas, engenharia de software, engenharia de manutenção e engenharia de projetos, materiais e estruturas.
Cento e setenta profissionais altamente qualificados já estão trabalhando, e 40 deles atuam exclusivamente em questões de engenharia do projeto KC-390. Outra unidade de negócios atendida pela unidade de Belo Horizonte é a Embraer Sistemas, voltada majoritariamente para a estratégica indústria do óleo & gás.
O coronel Mauricio Pozzobon destacou a importância do IEAv e seu expertise em pesquisas realizadas pela Divisão de Física Aplicada, Divisão de Fotônica, Divisão de Geointeligênia (de importância estratégica pela capacidade de analisar imagens digitais de observação da Terra), Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica, e os cursos de pós-graduação em Ciências e Tecnologias Espaciais, mais as oportunidades de mestrado e doutorado, todos orientados para capacitar e prover recursos humanos com conhecimento científico estratégico no campo aeroespacial.
Pozzobon enfatizou também a necessidade de comprometimento e vontade política de todos os envolvidos para a viabilização do Condomínio, dentro da estratégia de descentralização desse tipo de empreendimento fora do eixo Rio\São Paulo, especialmente concentrada no Vale do Paraíba (São José dos Campos e região).
Após uma apresentação das capacidades de manutenção e reparos em motores aeronáuticos da IAS Indústria de Aviação e Serviços, Elizeu Alcântara falou sobre os inúmeros desafios para a implementação do Condomínio, incluindo a elaboração de políticas específicas para o setor, aspectos jurídicos e organizacionais (associação x cluster, fomentar patentes), a necessidade de convergência, reforçando o conceito de tríplice hélice e a existência de um ambiente favorável em Minas Gerais para investimentos no setor de alta tecnologia, e a promoção e divulgação da indústria aeroespacial para a sociedade mineira.
O empresário também elencou as parcerias da IAS com grandes nomes do mercado mundial como a Rolls Royce (motores M250, R300 e T56A), Pratt & Whitney Canadá (motores PW127G), ST Engineering (suporte dos componentes eletromecânicos dos motores J-85 de caças Northrop F-5EM\FM) e Klimov (motores VK2500 dos MI-35\AH2-Sabre).
No planejamento da empresa consta o lançamento de novos produtos para manutenção e reparos, aquisição de novas habilidades na fabricação de peças aeronáuticas de geometria complexa, usando novas ferramentas como o scanner 3D, metalografia convencional e espectrometria, e o processo Fabricação por Adição de Material (CLAD). A IAS almeja no médio\longo prazo montar um motor a reação totalmente nacional para equipar aeronaves comerciais, e vem investindo para esse fim parte de sua receita em pesquisa desenvolvimento e inovação (P&D&I).
Falando da França através de videoconferência, Blanche Demaret, do Onera, destacou o modelo exitoso de parceria daquela instituição com Singapura, e propôs um modelo de cooperação tecnológica semelhante, adaptado para as necessidades de Minas Gerais.
Blanche também falou sobre o interesse do Onera em pesquisas sobre anomalias eletromagnéticas ao longo do litoral atlântico brasileiro, com seus inúmeros reflexos na segurança dos voos internacionais. De fato, já existe uma longa tradição de parcerias entre instituições francesas e brasileiras na indústria aeroespacial e de Defesa (ver T&D Nº 141), e na apresentação da IAS, que precedeu a videoconferência, o case de sucesso mostrado por Eliseu Alcântara versou justamente sobre o Groupement des industries françaises aéronautiques et spatiales, ou Gifas, entidade que congrega as empresas francesas do setor.
No debate de encerramento, foi verificada a necessidade de uma melhor especificação de grandes temas dentro do ambiente do condomínio, e um maior conhecimento das competências de cada empresa, e como pode ocorrer a complementaridade de ações entre os associados do condomínio.
Também foi colocada a questão de investimentos em escolas de alto nível para a formação de recursos humanos qualificados, juntamente com a evolução acadêmica. Por fim, ficou estabelecida a data da terceira reunião do Condomínio Temático Aeroespacial do Estado de Minas Gerais, marcada para o dia seis de outubro de 2015 em local a ser informado oportunamente.
Deve-se ressaltar a ausência, na segunda reunião, do coronel Manco Antônio Sala Minucci, então coordenador da implantação do complexo espacial em Minas Gerais, do professor Carlos Alberto Cimini Júnior, representando a Universidade Federal de Minas Gerais, e do representante da Helibras, o diretor Vitor Coutinho, todos eles presentes na primeira reunião ao final de 2014.
Roberto Caiafa