O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato, apresentou à imprensa o projeto de reestruturação administrativa e organizacional da Força Aérea Brasileira (FAB).
Os jornalistas conheceram as ações que foram iniciadas em 2014 com a concentração de unidades administrativas cujo objetivo é incrementar a eficiência da gestão, otimizar o emprego de recursos materiais e humanos, permitindo que as unidades se mantenham focadas na atividade fim da instituição. A Aeronáutica tem uma área de 22 milhões de km² sob sua responsabilidade.
“Estamos trabalhando na modernização da Força Aérea. Certamente, qualquer estrutura, seja civil ou militar, está constantemente em evolução. Nós precisamos disso para não parar no tempo”, afirmou o comandante sobre o trabalho que ganhou ênfase a partir do ano passado.
Os estudos para as modificações consideraram aspectos conjunturais, como os limites orçamentários do Comando da Aeronáutica com as despesas discricionárias, que incluiu horas de voo.
Em 2016, o montante ficou em torno de 0,13% do Produto Interno Bruto (PIB), sem considerar pagamento de pessoal. O valor de investimento e custeio foi outro aspecto. O investimento na ordem de R$6,5 bilhões, que inicialmente havia surgido como um aporte extra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), acabou incorporado ao orçamento existente da instituição.
Além disso, foi considerado o crescimento contínuo do sistema de controle do espaço aéreo verificado nos últimos anos, entre 5 a 10% ao ano, e das despesas obrigatórias, que envolvem benefícios assistenciais e transferências de militares, como impactos futuros sobre o orçamento da FAB.
“Se não tomarmos alguma atitude agora, em alguns anos não teremos dinheiro para cumprir a nossa missão”, explicou.
Ações programadas
Nos planos da FAB para os próximos 20 anos está a redução do efetivo de carreira. O número de graduados cairá em 24% e de oficiais em 25,9%. As funções serão desempenhadas por militares temporários. Os profissionais já formados são selecionados na própria região e podem ficar até oito anos da FAB.
Entre as ações programadas está a otimização dos processos, por meio da centralização administrativa. Um exemplo é o Grupamento de Apoio do Galeão, no Rio de Janeiro, que passou a apoiar sete mil militares de dez unidades com atividades como almoxarifado, transporte de superfície, licitações, contratos, tecnologia de informação, arquivo, entre outros. A iniciativa de separar as atividades administrativas do lado operacional busca uma estrutura organizacional focada na operacionalidade.
Além disso, o plano prevê o incremento de tecnologia da informação e a intensificação no uso de simuladores para redução nos custos de horas de voo, bem como uso intensivo de tecnologia de ponta como aeronaves não tripuladas e satélites.
“Essas novas aeronaves [ KC-390 e Gripen NG] têm recursos tecnológicos que requerem profissionais especializados e focados integralmente na sua atividade. É um dinheiro que vem de impostos, da sociedade brasileira. Então, temos que melhorar a capacitação e a produtividades dos nossos recursos”, explicou o brigadeiro Rossato.
Mudanças a partir de 2017
O cronograma de ações prevê mudanças a partir de 1º de janeiro de 2017. Os Comandos Aéreos Regionais de Manaus, Brasília e Canoas serão extintos em 31 de dezembro deste ano. E no final de 2017, os de Belém, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. As tarefas administrativas passarão a ser desempenhadas por outros órgãos da Aeronáutica.
Na parte operacional, serão criadas Alas, uma para cada região do Brasil. Elas farão o trabalho de coordenação operacional das unidades sediadas sob sua jurisdição. “As vantagens estão na concentração do planejamento e controle operacional. As Alas serão órgãos de execução com a melhoria dos processos de desenvolvimento da doutrina de emprego. Hoje, não se separa o avião de transporte, de reconhecimento, de patrulha, de transporte. Tem que trabalhar junto”, revelou.
Algumas unidades aéreas serão transferidas, como é o caso do Esquadrão Phoenix (2º/7º GAv), que opera o P-95 M Bandeirulha, com o objetivo de concentrar as unidades aéreas em bases operacionais. O grupo vai migrar de Florianópolis (SC) para Canoas (RS). “A concentração não vai reduzir a capacidade operacional”, enfatizou o comandante.
Fases
Na exposição, o comandante fez uma rápida retrospectiva sobre as fases do poder aéreo no Brasil.
A primeira geração é demarcada no período de 1941 até 1966, quando a Força Aérea se consolida como uma nova Força Armada do País, principalmente pelo aspecto da integração nacional – que exigia muito do transporte aéreo. O Campo dos Afonsos, berço da aviação militar, e a Base Aérea do Galeão foram recebidos do Exército e da Marinha pelo então Ministério da Aeronáutica.
Os anos entre 1966 e 1991 ficaram marcados com o surgimento do sistema de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (SISDACTA), que privilegia um modelo de uso compartilhado da rede de radares e controle. Outro fato que marca esta segunda geração é o surgimento da indústria aeronáutica no País, decorrente da criação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica ( ITA) na década de 1950.
A terceira geração é delimitada entre os anos de 1991 até 2016 quando se acentuou o uso de comando e controle, decorrente das novas tecnologias que passaram a ser utilizadas. Isso foi constatado, especialmente, a partir da experiência da guerra do Golfo pela velocidade e coordenação exigida, ocasião na qual o poder aéreo foi preponderante. Nesse período, a FAB expandiu a modernização das suas aeronaves, como é o caso do F-5, C-95, C-130 e adquiriu novos vetores, como é o caso do A-29 Super Tucano, P-3 AM, H-60 Black Hawk e AH-2 Sabre.
Para os próximos 25 anos, até 2041 (quando a FAB completará 100 anos), se desenha a quarta geração do poder aéreo. Esta fase deve ser marcada pela capacidade dissuasória.
De acordo com o brigadeiro Rossato, integrar a nação permanece como forte marca na missão da instituição, especialmente sobre o apoio na região amazônica.
Ivan Plavetz