Capacidade de Defesa Química do Exército Brasileiro (Eblog)

Por coronel EB Alexandre Marcos Carvalho de Vasconcelos

nte industrialização, aliada à busca de novas tecnologias, formas inovadoras de produção foram aperfeiçoadas. Nesse contexto, a indústria química surgiu em diversos ramos da produção. A partir do século XX, a manipulação de elementos radioativos possibilitou a produção de energia, a irradiação de alimentos, os estudos para a melhoria da saúde e outras atividades.

Junto ao progresso, o mundo sofreu com os problemas da utilização dos ramos químico e nuclear. Citam-se a degradação do meio ambiente, os efeitos da radiação sobre o organismo e os impactos diretos sobre a saúde, relacionados à intoxicação química e nuclear.

Outro aspecto a considerar tem relação com o surgimento ou o agravamento de doenças e epidemias em diversas partes do globo. Algumas delas estão relacionadas às atividades humanas de risco, ao manuseio de elementos perigosos e à falta de cuidado ambiental. Pode-se observar, ainda, que a ameaça do emprego de agentes químicos, biológicos, radiológicos e nucleares (QBRN) em atos terroristas traz a necessidade de constante atenção para as nações.

Destaca-se que, ao longo da história, existem exemplos de ataques com agentes químicos, tais como: o emprego de agentes na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o ataque na cidade de Halabja (1988) e, recentemente, a situação na Síria, acompanhada pela comunidade internacional. Nas últimas décadas, ocorreram alguns incidentes de repercussão internacional na área radiológica-nuclear: 1986 – acidente nuclear em Chernobyl; 1987 – incidente com césio-137 em Goiânia (GO); 2011 – crise nos reatores nucleares de Fukushima, no Japão.

Acompanhando os acontecimentos citados, as primeiras notícias de defesa química, biológica, radiológica e nuclear (DQBRN) do Exército Brasileiro (EB) ocorreram com as instruções nas organizações militares (OM) após a Primeira Guerra Mundial. Contudo, a estrutura atual teve início na Escola de Instrução Especializada (EsIE), em 1943, com a criação do curso de guerra química para preparar as tropas brasileiras que formariam a Força Expedicionária Brasileira.

Em seguida, em 1953, foi criada a Companhia Escola de Guerra Química (Cia Es G Q), hoje, 1º Batalhão DQBRN, primeira OM operativa de DQBRN das Forças Armadas. A Companhia foi empregada no período de setembro a dezembro de 1987, no acidente ocorrido com o radioisótopo césio-137. Em 1987, a Companhia foi extinta e criou-se a Companhia de Defesa Química, Biológica e Nuclear (Cia DQBN).

A partir de 1989, a DQBRN do EB participou do Exercício Geral do Plano de Emergência das Usinas Nucleares de Angra, com as missões de monitoramento radiológico, descontaminação de pessoas e apoio à evacuação dos moradores de Angra dos Reis e arredores.

As frações de DQBRN vêm realizando o monitoramento e a descontaminação preventiva do material das tropas que cumprem missão de paz. Esse trabalho foi realizado em contingentes que participaram das missões no Timor Leste e no Haiti. Além da área operacional e de ensino, o Exército possui o Instituto DQBRN, com a atribuição de realizar pesquisa e desenvolvimento nesse setor.

Em 2002, foi aprovada a primeira versão do Sistema de Defesa Química, Biológica e Nuclear no âmbito do Exército (SDQBNEx). Esse sistema apresentou série de novas considerações para o assunto e teve por finalidade dotar a Força Terrestre de um instrumento capaz de responder, prontamente, a uma ameaça e/ou a um desastre QBN. Em 2012, o Sistema foi atualizado, alterando-se sua nomenclatura para SisDQBRNEx.

Em 2003, criou-se o 1° Pelotão de Defesa Química, Biológica e Nuclear (1° Pelotão DQBN), atual Companhia DQBRN, sediado em Goiânia (GO) e subordinado à Brigada de Operações Especiais. Nos anos de 2009 e 2010, a Companhia DQBN participou do 1° e 2º Curso Regional de Proteção e Assistência para Respostas a Emergências Químicas – Pequim Internacional. Nessas atividades, foi possível apresentar a capacidade de DQBRN do Exército e compartilhar experiências no ramo.

Em dezembro de 2012, houve a transformação da Companhia DQBN em 1º Batalhão DQBRN e do Pelotão DQBN em Companhia DQBRN. De 2013 a 2016, a DQBRN do EB teve um marco fundamental para o aperfeiçoamento de sua estrutura: o emprego nos Grandes Eventos.

O Brasil foi sede de eventos de vulto, de cunho internacional, como a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014; a Jornada Mundial da Juventude em 2013; e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016. Esses eventos, que ocorreram em um curto espaço de tempo, reunindo milhares de pessoas, de todas as partes do mundo, levaram a uma preparação das forças de defesa e segurança para a prevenção contra possíveis ataques terroristas.

Na missão atribuída à Força, as OM especializadas participaram da DQBRN dos Grandes Eventos realizando reconhecimentos QBRN, combinados com inspeções antibombas conduzidas por outros órgãos em instalações como hotéis, aeroportos, estádios, locais de cerimônia, salas VIP e em comboio de autoridades. As tropas de DQBRN mantiveram, durante todos os principais eventos, equipes de pronta resposta, com capacidade de reagir a um incidente envolvendo agentes QBRN, habilitadas ao rápido reconhecimento e à identificação de agentes, à demarcação e predição de áreas contaminadas, à coleta de amostras e às medidas de descontaminação de emergência e de redução de danos. Para as ações de descontaminação, foi mantido um posto de descontaminação embarcado em viaturas e pronto para ser montado.

Após os Grandes Eventos, o Exército aperfeiçoou sua estrutura de DQBRN. Com esse objetivo, foram realizadas as seguintes ações:

a. atualização do SDQBNEx, com a inclusão dos vetores de ensino, saúde e logística;

b. reestruturação das organizações militares de DQBRN, possibilitando melhores condições para o emprego e o apoio das ações da Força Terrestre;

c. no vetor de ensino, aperfeiçoamento dos cursos de especialização em DQBRN para oficiais e sargentos e dos novos cursos que foram criados, principalmente, nas áreas de comando e controle, gerência de manutenção e saúde;

d. aquisição de modernos equipamentos de DQBRN para atender às necessidades para a preparação e o emprego das Unidades de DQBRN. Destacam-se detectores, equipamentos de proteção individual, laboratórios móveis, equipamentos de descontaminação e programas de comando e controle;

e. atualização da doutrina de DQBRN, em que se incorporaram novos conceitos e elaboraram-se novos manuais de campanha. O emprego da DQBRN foi agrupado em princípios e atividades de segurança, descontaminação e sensoriamento, sendo integrados por um sistema de comando e controle;

f. estruturação do módulo de saúde para apoio a DQBRN e elaboração dos protocolos para emprego conjunto entre os Ministérios da Defesa e da Saúde.

Conclui-se que a Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear do Exército vem, sistematicamente, cumprindo o seu papel de apoio, para evitar ou minimizar as possibilidades de ocorrência de sinistros que envolvam agentes QBRN.

Além disso, está contribuindo, positivamente, para a preservação da imagem da Força no cenário nacional e internacional.

Imagens: Roberto Caiafa

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