Ampliar a parceria entre Brasil e Estados Unidos estabelecendo uma agenda de interesses e possíveis novos negócios entre as indústrias de defesa dos dois países. Esse foi o objetivo do encontro “Diálogo da Indústria de Defesa Brasil e Estados Unidos”, realizado na última sexta-feira no Palácio Itamaraty, em Brasília.
Na abertura do encontro, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, falou sobre a importância desse primeiro passo para fortalecer a relação industrial de defesa entre os dois países. “Podemos conceber uma estratégia comum de promoção comercial, que ampliará nosso acesso conjunto ao mercado internacional de uma maneira mais global”, destacou.
O evento, promovido pelos Ministérios da Defesa, Relações Exteriores (MRE), Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MICS) do Brasil e pela Embaixada dos Estados Unidos, resultou na assinatura de uma carta de intenções, oficializando a intensificação do diálogo entre as empresas de defesa das duas nações.
Além da assinatura do documento, que estabelece a regularidade de encontros entre as indústrias de defesa dos dois países, ao longo do evento, foram realizados diversos painéis com o objetivo de apresentar a realidade da indústria de defesa de cada país, bem como seus principais desafios e projetos estratégicos em um futuro próximo.
A embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Liliana Ayalde, falou da importância em se colocar empresários do setor frente a frente. “O mais importante de hoje é que as diferentes partes que são necessárias para concretizar projetos binacionais estão sentadas juntas, e não é apenas hoje, é um processo institucionalizado para definir o futuro”, disse.
O subsecretário de Comércio dos Estados Unidos, Ken Hyatt, deixou claro que a parceria na área de defesa com o Brasil será cada vez maior. “Esse diálogo é um passo muito importante. Ele abre uma nova avenida de cooperação comercial e reflete o pedido dos setores privados que nós recebemos, tanto do Brasil, quanto dos Estados Unidos”, disse.
Dentre os temas que entraram em pauta, esteve a questão da conformidade de exportação, que trata sobre os instrumentos de controle que cada país utiliza para controlar as vendas de equipamentos de defesa. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos adotam uma série de regras e certificados com o objetivo de impedir o comércio ilegal de armas. Em outro painel, foram abordadas as condições de certificação de produtos em cada país, para se tentar chegar a um formato de reconhecimento mútuo, que facilitaria o comércio de equipamentos de defesa entre países.
Ao tratar de mudanças em marcos legais necessárias para a indústria do Brasil, o secretário de Produtos de Defesa, Flávio Basílio, destacou que essa é uma das formas de melhorar a inteligência comercial do setor. “Esse é um avanço importante, que vai permitir maior segurança e atratividade para que possamos avançar em parcerias estratégicas”, afirmou.
As Forças Armadas do Brasil apresentaram aos Estados Unidos alguns de seus projetos estratégicos para que as indústrias norte-americanas possam ver de que forma podem participar de processos licitatórios, alavancando seus negócios. Os americanos também mostraram para a indústria brasileira seus principais planos na área de defesa no médio prazo, apresentando possibilidades para que a indústria brasileira de defesa possa participar da cadeia global de valor norte-americana como fornecedora de componentes para produtos do segmento.
Além disso, foram apresentadas as prioridades estratégicas das duas nações para o futuro. Cada país falará sobre riscos e possíveis ameaças que podem vir a demandar a produção de determinados tipos de equipamentos e que a indústria precisa estar atenta e preparada para atender.
Para o presidente da ABIMDE (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança), Frederico Aguiar, ainda existem muitos pontos a serem debatidos, especialmente, no que diz respeito a legislação e exigências norte-americanas.
Ainda assim, ele considerou positivo o encontro que certamente abrirá portas e novas oportunidades. “Saio daqui otimista porque os EUA representam praticamente 52% do mercado global, ao passo que, uma coisa importante a se considerar é a entrada que o Brasil tem pelo nosso posicionamento geopolítico em mercados alvos que, muitas vezes, são difíceis até para eles”, analisou.
Ivan Plavetz