Brasil avança na obtenção da defesa antiaérea de média altura

A Portaria Nº 4.181 GM/MD, do Ministério da Defesa, de 11 de dezembro de 2020 e divulgada em 16 de dezembro, estabelece os Requisitos Operacionais Conjuntos (ROC Nº 54/2020) para o sistema de defesa antiaérea de média altura para as Forças Armadas Brasileiras.

O Brasil possui sistemas obsoletos em termos de artilharia de tubo, mas com equipamentos modernos de mísseis de curto alcance da categoria MANPAD (man-portable air-defense systems).

 Cenário brasileiro

Atualmente, todos os sistemas de defesa antiaérea das Forças Armadas Brasileiras são integrados e subordinados ao Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) da Força Aérea Brasileira (FAB) por meio do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA).

O RBS 70 é o míssil mais moderno em uso pelo Exército, aqui sendo disparado na Operação Sagitta Primus III, em 2020 (Imagem: CB Estevam / CCOMSEX)

O Exército Brasileiro (EB) possui hoje seis Grupos de Artilharia Antiaérea que são subordinados a 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea (1ª Bda AAAe), que tem a missão de realizar a defesa antiaérea de zonas de ação, de áreas e pontos sensíveis e de tropas, estacionadas ou em movimento.

As armas de tubo compreendem os canhões automáticos M985 Bofors L70, de 40mm, comandados por diretoras de tiro Avibras EDT FILA, e alguns poucos canhões Automáticos Geminados Oerlikon C90, de 35 mm, comandados pelos radares diretores de tiro Super Fledermaus 214UX-1, esses últimos em processo de desativação. O EB também dispõe do radar M60 da Bradar, de 60 km de alcance para fazer a busca e o engajamento de alvos.

Para o segmento dos mísseis contra alvos voando a baixa altura, faz parte do inventário do EB os sistemas teleguiados a laser RBS 70 Mk.2 e RBS 70 NG da Saab, além dos menos modernos KBM 9K338 Igla-S (SA-24 Grinch, na nomenclatura da OTAN) guiados por calor e para o qual a Força possui ainda alguns poucos lançadores duplos 203-OPU Djiguit.

O EB conta ainda com sete Baterias de Artilharia Antiaérea que são orgânicas das Brigadas e que contam com apenas mísseis, com exceção das duas Baterias Antiaérea Autopropulsada que utilizam o blindado sobre lagartas VBC DAAe Gepard 1A2. A sua função é de realizar a defesa de acordo com a missão tática de sua Brigada da qual é subordinada, ou seja, em geral, a defesa de ponto e de deslocamentos, fazendo do armamento de baixa altura o mais indicado.

A FAB, por sua vez, possui o 9K338 Igla-S e sua versão mais antiga e menos eficiente, o 9K38 Igla (SA-18 Grouse), em três Grupos de Defesa Antiaérea (GDAAE), subordinados à 1ª Brigada de Defesa Antiaérea (1ª BDAAE). O 1º GDAAE é localizado em Canoas, o 2º GDAAE em Manaus e o 3º GDAAE em Anápolis.

O VBC DAAe Gepard 1A2 na Operação Operação Sagitta Primus III (Imagem: CB Estevam / CCOMSEX)

O Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil é equipado, no Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea (BtlCtAetatDAAe), no Rio de Janeiro, com os sistemas de tubo Bofors Defense Bofi-R C70, de 40 mm, com radar diretor de tiro integrado que atua na banda J. Também contam com o sistema de mísseis MBDA Mistral, de terceira geração, que chega a Mach 2,7 (3.330 km/h) de velocidade, alcance de 6 mil metros, atingindo uma altitude de 3.000 metros com guiagem passiva por infravermelho.

Desde 1996, está em uso o radar de busca Saab Giraffe 50AT instalado num veículo de lagartas Hägglund BV-206D, com uma antena que pode estendê-lo a 7 metros de altura, capaz de detectar alvos a 50 mil metros de distância e que pode coordenar até 20 canhões BOFI-R e lançadores Mistral. Em 2014 foram adquiridos radares SABER M60, para modernizar e ampliar sua eficiência.

 Média altura: o próximo passo

O EB, através do Programa Estratégico do Exército Defesa Antiaérea, vislumbra adquirir sistemas de mísseis para a defesa contra alvos que estiverem voando até 15 mil metros de altura sobre o terreno.

Os sistemas serão integrados ao SISDABRA e devem ter capacidade de engajamento horizontal mínimo de 2.000 metros e máximo de 40.000 metros; e vertical mínimo de 50 metros e máximo de 15.000 metros, contra aviões, helicópteros, drones ou mísseis de cruzeiro, de alta ou baixa performance, em qualquer perfil de voo, desde velocidade zero até 2.880 km/h.

Os mísseis Igla e Igla-S são os únicos meios de defesa antiaérea atualmente disponíveis na FAB (Imagem: SGT Johnson Barros/CECOMSAER)

O sistema deve ter capacidade de acompanhar 150 alvos simultaneamente, engajar no mínimo 16 alvos simultaneamente e poder controlar até 32 mísseis lançados, simultaneamente. Deve estar pronto para empregar o seu armamento em no máximo 15 minutos após ser posicionado na área de interesse. Também deve ter a capacidade de integração com os centros de comando e controle da Força Aérea e da Marinha, e com os atuais sistemas existentes e em serviço, de baixa altura e curto alcance.

Sua operação deve ser possível durante o dia ou a noite, em atmosfera limpa ou nublada, tanto na presença de um ou mais dos seguintes fenômenos meteorológicos: vento, nuvens, chuva, descargas elétricas e nevoeiros, quanto sem estes fenômenos. Se capaz de operar plenamente mesmo em ambientes saturados por contramedida eletrônica, ser resistente a ataques cibernéticos e a ambientes com a presença de agentes químicos, radiológicos, bacteriológicos e nuclear. O sistema deve ter seu próprio radar, de preferência um de procedência nacional, com 200km de alcance horizontal e 20.000 metros de alcance vertical, podendo ser o Bradar M200 Vigilante.

Tendo arquitetura aberta e vida útil de no mínimo 20 anos, deve possuir, pelo menos, um Centro de Operações Antiaéreas, participando da obtenção de dados da situação aérea geral, regional ou local, em tempo real.

Ter capacidade de IFF e ter os seus subsistemas compostos, por no mínimo, três unidades de tiro. O míssil deve corrigir a trajetória até o alvo, até que os seus sistemas de guiagem atuem de maneira autônoma, com possibilidade de autodestruição e também que seja capaz de destruir o alvo com um único míssil, tanto por impacto quanto por detonação de proximidade.

Os sistemas lançadores devem ter capacidade de disparar dois mísseis por segundo e o remuniciamento total deve ter feito em no máximo 30 minutos.

A comunicação entre os sistemas deve ser feita via data-link, tanto de voz quanto de dados, com criptografia, além de enlace satelital com antena multibanda.

A cobertura dos sistemas deve prover a proteção de áreas de 10 mil km2. O sistema a ser adquirido deve ser do tipo COTS (commercial off-the-shelf) e já estar disponível no mercado.

Os veículos do Sistema devem possuir autonomia para rodar sem abastecimento, por, no mínimo, 500 km e velocidade de 50 km/h a 80 km/h, em estradas pavimentadas. Deve ser capaz de ser transportado nos Embraer KC-390 e Lockheed Martin C-130. Por meio fluvial, em balsas ou barcaças do inventário das Forças Armadas brasileiras. E, por meio marítimo, capaz de ser carregado e descarregado por rampas em navios anfíbios ou em embarcações de desembarque da Marinha.

O míssil MISTRAL, do Corpo de Fuzileiros Navais (Imagem: Ronaldo Olive)

 

Veja Também

1. Os desafios da defesa antiaérea de Média Altura no EB – Os meios atuais

2. Os desafios da defesa antiaérea de Média Altura no EB – Recuperando capacidades

3. Os desafios da defesa antiaérea de Média Altura no EB – As opções do mercado

4: Os desafios da defesa antiaérea de Média Altura no EB – As outras Forças (final)

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Comentários

20 respostas

  1. Gostwria de ver um sistema nacional baseado no piranha b ou no A DARTER….
    Com lançador os ASTROS…
    Esse sistema ja foi testado anteriormente pelo Exército e pela Marinha com o míssil PIRANHA….

    1. Nunca existiu uma versão anti aérea do Piranha, Há estudos do uso da plataforma Astros com o CAAM da MBDA porem trata-se de um projeto.

      1. Existiu um projeto, que se chamava SIMDABA (Sistema Móvel de Defesa a Baixa Altura), só que não foi adiante.

      2. Sim…
        Existou e foi testado pelo Exercito em veiculos e na maronha em embarcações na Amazonia.
        Saiu em uma revista tecnologia e defesa

      3. E aquela proposta da Denel do desenvolvimento de míssil pra defesa aérea e naval com range de 60km feito a partir do Unkhonto de 30km pra equipar as Meko do Brasil e da África e um míssil BVR com base no Merlin pros Gripens da África do Sul e do Brasil? Me parece que há conversas adiantadas com a Marinha e a FAB e isso começou em 2019…

    2. Se é o sistema AV MMA que esta se referindo, ele nunca foi construido.
      Ainda esta na fase de conceito e é uma proposta da AVIBRAS para integrar um sistema de Mísseis AAe utilizando as viaturas do Sistema ASTROS II.

    3. Temos bons foguetes que para se tornarem mísseis bastam algumas modificações. O vsb-30 consegue superar o Mach 6 (seis vezes a velocidade do som – quase hipersônico), transportando cargas úteis de até 400 kg a 270 km de altitude. Melhorando o sistema de radar Saber e integrando-os em uma unidade móvel, já temos um tão bom como o sistema S-300.

  2. Bastos, vi poucas coisas sobre o Bradar M200 Vigilante, mas pelo que vi ele é um radar 2.5D, diferente do M200 “normal” que é um legítimo radar 3D. M200 Vig seria o ideal para compor o sistema de defesa aérea de mídia altura?
    Outra dúvida, vi em um documento do exército que o m200 poderia ter uma versão naval, ele nunca foi cogitado para as tamandaré? É um produto da “embraer” e até 2026 o radar já deve ter o desenvolvimento completo

    1. Só existe uma versão do Saber M200 possivelmente o que você viu e o S-200 que é o radar secundário do M200.

  3. Se não dominarmos o nosso espaço aéreo em termos de defesa e proteção, por mais que tenhamos ótimos blindados antigos-modernizados e blindados novos, ficaremos vulneráveis em solo, pois até mesmo um drone de ataque invasor, que venha voando a 2000 pés (610 metros), seria capaz de destruir todos os nossos tanques blindados de combate, assim como aconteceu com a Armênia que teve seus blindados de combate destruídos por drones de ataque invasores do Azerbaijão.

  4. Muito interessante.
    Ao que parece o sistema será um “casamento” entre sistemas importados e nacionais (o que sempre prego nós fóruns que frequento,).
    Ou seja terá como radar o Saber-M200, IFF Mod-4 e LinkBR2 nacionais.
    Plataforma lançadora não está definida e míssil deverá ser importado ou có-desenvolvido.
    Este é o caminho para uma evolução na nossa capacidade fabril e uma verdadeira independência.
    E não com simples importações completas ou via T.O.T (se é que isso existe) para montagem local pela empresa fabricante.
    A melhor opção para o primeiro cenário descrito por mim, seria o sistema da Avibras AV-MMA em parceria com a Bradar e os futuros fabricantes do IFF-Mod4, LINK-BR2 e RDS defesa.

  5. Sao 8 baterias AA e nao 7. Existem 3 no RS. Uma no PR. Uma em SP. 2 no RJ. 1 no planalto e uma em PE. 6 delas usam misseis.

  6. “A cobertura dos sistemas deve prover a proteção de áreas de 10 mil km2”
    10 mil km2 cobre Goiânia, Anápolis, Brasília, Formosa e Luziânia. os 200km de alcance do radar vai de Anápolis a Formosa, se posicionado em Luziânia sendo 360º 200km de raio cobre até Unaí e Goiânia.
    Torcendo que se realize este projeto mais rápido possível.

  7. nossa nação tem tempo de construir um sistema próprio temos empresas que podem tranquilamente desenvolver um sistema que seria um sucesso como o próprio Astro. A Avibras está recebendo o tot do VLS, temos o A-darte, piranha. Temos a Bradar subsidiaria da Embraer na área de radares, a SIATT, e outras empresas integradora de sistemas, então porque não inicia uma contratação de um consorcio nacional para a construção de tal armamento. Até porque, nós contribuintes, pagamos caro por participar de programas como o A-Darte e o VLS para adquirir conhecimento. Então vamos por isso em prática, esse negócio de estudo de equipamento estrangeiro é perde tempo e conversa fiada. Temos que usar o conhecimento que já pagamos e alavancar e fomentar a indústria nacional. Se não tivermos expertise, participar de programas com transferência de tecnologia, mas nesse caso não faz sentido. Abraço a todos.

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