Em 15 de novembro de 2016, nas comemorações da Proclamação da República do Brasil, ocorreu a entrega simbólica do novo veículo blindado de controle de distúrbios civis (CDC) para a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), durante a Israel HLS Cyber 2016, naquele país.
O carro, um Riot Control Vehicle MAN RCU 6000 II, produzido pela Beit Alfa Technologies Ltd. (BAT), foi recebido pelo coronel PM Edilson Duarte, ex- comandante-geral da PMERJ, que foi convidado pela Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria (CAMBICI), que custeou toda a viagem.
O veículo é originário de um Termo de Referência publicado em 07 de fevereiro de 2014, pela PMERJ e Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESEG), impressionada com a incapacidade dos veículos da PMERJ durante as grandes manifestações de junho de 2013, e definia a aquisição de quatro unidades equipadas com jato de água e sistema de vídeo monitoramento embarcado, blindagem Nível IIIA NIJ e tração 4X4, para reequipar o Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), para as Olimpíadas de 2016. Porém, os conhecidos problemas de restrição financeira reduziram a encomenda para apenas um blindado, culminando no Edital de Pregão Eletrônico Internacional Nº 005/2016, da SESEG, vencido pela BAT.
O valor total do contrato foi de US$ 752.823,09, sendo o veículo custeado pelo Governo Federal, através da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, do Ministério da Justiça (SESGE/MJ), e o contrato de treinamento pela SESEG, como contrapartida do governo do Estado, com as seguintes condições: 60% na assinatura do contrato: US$ 451.693,85, pagos pela SESGE/MJ; 40% no recebimento técnico em Israel, feito durante as Olimpíadas: US$ 287.188,07, pagos pela SESGE/MJ; e treinamento, a ser realizado quando da chegada do veículo: US$ 13.941,17, a serem pagos pela SESEG.
A entrada em operação, que deveria ter acontecido por ocasião das Olimpíadas, ainda não tem previsão devido aos entraves burocráticos por parte do Exército Brasileiro, que ainda não autorizou a emissão do Certificado Internacional de Importação (CII), e não tem previsão de fazê-lo, o que preocupa muito os órgãos de segurança do Rio de Janeiro, que carecem desse tipo de solução não letal, principalmente nesse período tão conturbado.
Nem tudo é 100%
É importante salientar a necessidade de veículos desse tipo, para controle de tumultos de grande monta, com segurança para os policiais e manifestantes, e diante da necessidade urgente de contar com esse tipo de equipamento por conta dos eventos que ocorreriam no Rio de Janeiro, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, a PMERJ recebeu, em 2014, um dos blindados Steel Force, da empresa paulista Steel Truck Ind. Com. Serv. Ltda. Esses veículos foram distribuídos dentro de um programa da SESGE/MJ, que visava a aquisição e distribuição de veículos CDC para as Polícias Militares das cidades sedes de jogos da Copa do Mundo da FIFA de 2014, mas o Steel Force apresentou diversos problemas, inclusive colocando em risco a vida de policiais militares do Ceará, durante uma manifestação na cidade de Fortaleza (como relatado por T&D), o que acabou levando ao cancelamento de seu contrato com menos da metade dos veículos entregues. Isso justificou a aquisição de um novo veículo pela PMERJ.
Por outro lado, o momento para a compra do blindado, em meio a uma série de problemas de cunho político e financeiro, com o governo alegando dificuldades em honrar seus débitos e salários dos funcionários públicos, deve gerar fortes criticas. Além disso, em uma grande concorrência internacional, cercada de muitas polêmicas, a SESEG adquiriu oito blindados táticos Maverick ISV, da sul-africana Paramoult Group, pelo valor total de R$ 6.650.000,00, numa transação onde constava, de acordo com o contrato assinado, uma garantia total de 60 meses (como relatado com exclusividade por T&D). Entretanto, questões relativas a adendos contratuais e modificações no projeto do carro, solicitados pelas Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, atrasaram a entrega, que só ocorreu em julho de 2014, e alteraram as condições de garantia, causando dificuldades de manutenção nesses veículos e uma alta taxa de indisponibilidade.
Outra recente aquisição de blindados policiais que registra contratempos foi a dos blindados táticos Wolf, para a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP).
Em abril de 2014, também em concorrência internacional, a PMESP adquiriu 14 novos blindados para renovar sua frota, sendo seis CDC Plasan HICAR, depois renomeados para Guardian e recebidos em junho de 2015, quatro CDC com canhão d’agua Carmor RCV, chamados aqui de VLA e recebidos em janeiro de 2016 (ver T&D Segurança nº.14 e nº.17), e quatro blindados táticos Carmor Wolf, recebidos em julho de 2016 (como relatado, com exclusividade, por T&D).
Os Wolf, da israelense Carmor Integrated Vehicle Solutions Ltd., antiga Hatehof Ltd., com o custo de R$ 1.400.000,00 cada, eram destinados para o Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) e para o Comandos e Operações Especiais (COE), dois veículos para cada unidade. Todavia estão parados na garagem por uma série de problemas técnicos.
Esses veículos, muito utilizados pelas forças de segurança de Israel e exportados para a Geórgia, Macedônia, Romênia e Etiópia, possuem um invejável histórico operacional e de combate, e participaram da concorrência para a aquisição de um novo blindado tático no Rio de Janeiro, quando foram desclassificados por questões de documentação. Necessitaram de modificações para atender aos requisitos estipulados pela PMESP, principalmente no quesito blindagem, que pedia um veículo com proteção balística Nível V / PA-6, conforme normas ABNT NBR 15000, bem acima dos modelos empregados na atualidade. Porém, o incremento da blindagem aumentou muito o peso, interferindo no desempenho e ocasionando os problemas técnicos que impossibilitam sua operação dentro dos parâmetros acordados e de forma segura.
Assim, dentre as dificuldades surgidas, destacam-se:
- Os freios se incendiavam em frenagens mais fortes, quando o veículo desenvolvia maiores velocidades, o que obrigou à troca de todo o sistema;
- Nas curvas, as rodas dianteiras tocavam o chassi e a lataria, impedindo a transposição dos obstáculos conforme os requisitos, e foi preciso elevar toda a estrutura, alterando a estabilidade; e
- As portas ficaram muito pesadas, impedindo-as de serem abertas rapidamente em uma inclinação de mais de 15º. Foi colocado mais um cilindro de ar no sistema de abertura assistida, mas o setor de engenharia da Carmor informou que essa solução só é possível nas duas portas dianteiras; com isso, as demais podem demorar alguns minutos para abrir, o que coloca em risco os ocupantes em caso de acidente ou incêndio.
Sabe-se que o Comando da PMESP estuda o que vai fazer com essas viaturas, e a sua devolução já está sendo cogitada.