No último domingo, 03 de dezembro, ocorreu um referendo popular na Venezuela para a anexação de parte do território da Guiana (que os eleitores “aprovaram”), a chamada Guiana Esseguiba. Ao mesmo tempo em que o Exército Brasileiro aumentava seus efetivos na região, em um movimento que havia sido planejado, inicialmente, em 2009. A coincidência desses dois eventos causou uma série de repercussões equivocadas por parte da mídia, por conta de uma suposta associação entre ambos, apesar de a Força terrestre realmente se preparar para uma eventualidade.
REFORÇO
Em julho de 2009, o Estado-Maior do Exército (EME) publicou a portaria 414 aprovando o Plano Estratégico do Exército (PEEx) 2011-2014 que, dentre outras coisas, previa aumentar a capacidade de dissuasão na fronteira Norte, com a ampliação de seus efetivos, incluindo a ativação de um regimento de Cavalaria em Roraima até 2012. Porém, devido a uma série de fatores, o plano acabou não sendo concluído em sua totalidade. O assunto retornou no final de 2019, com a publicação da portaria 1.968 que aprovava o PEEx 2020-2023, a qual dava prosseguimento aos processos de modernização do Exército Brasileiro (EB).
Seguindo aquele planejamento, em 29 de novembro deste ano, foi publicada a portaria 2.125 que ativou o 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado (18º RC Mec), em Boa Vista (RR), integrado à 1ª Brigada de Infantaria de Selva (1ª Bda Inf Sl), do Comando Militar da Amazônia (CMA). Esta unidade substituiria o do 12º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (12º Esqd C Mec), os ”Lanceiros do Extremo Norte”, que há 41 anos estava na região. O 12º Esqd C Mec contava com cerca de 200 militares e era organizado em estado-maior, um pelotão de comando e apoio e três de Cavalaria mecanizados. Após a total transformação, prevista para 2025, o 18º RC Mec terá três esquadrões de Cavalaria e um efetivo em torno de 600 militares.
Já foram disponibilizadas para a nova unidade, 16 viaturas blindadas multitarefa (VBMT) 4X4 Guaicurus, equipadas com sistemas de armas remotamente controlados (SARC) REMAX, da Ares Aeroespacial e Defesa e torres manuais Platt MR550 Bi-Metal, junto a 12 viaturas blindadas de transporte de pessoal (VBTP) 6X6 Guarani, equipadas com SARC REMAX e UT30BR, e que se somarão às sete já empregadas. Esses veículos foram retirados de unidades dos Comando Militar do Sul (CMS) e do Oeste (CMO) e a previsão de chegada a Boa Vista é ainda neste mês.
O 1º Batalhão Logístico de Selva (1º BLog Sl), em decorrência disso, está em processo de adequação e ampliação. As empresas IDV e Ares, que possuem centros para suporte logístico integrado (SLI), contam com três e um funcionários naquela área, respectivamente, número que também deverá ser incrementado nos próximos meses.
Além da ativação do 18º RC Mec, o Comando de Fronteira Roraima/7º Batalhão de Infantaria de Selva (C Fron RR/7º BIS) foi ampliado, com o acréscimo de uma companhia de fuzileiros de selva, transformando-o em um Batalhão Tipo III.
DISSUASÃO
Apesar de o governo brasileiro ainda não se manifestar com veemência diante de uma possível agressão por parte da Venezuela à Guiana, em função do aumento da tensão entre os dois países o EB informou que “vem mantendo, através de seu Sistema de Inteligência e de alertas, constante monitoramento e prontidão de seus efetivos” e que “foi antecipado um reforço de tropas e meios nas cidades de Pacaraima e Boa Vista”.
Se Caracas decidir pela invasão, terá muitas dificuldades em transportar tropas e equipamentos mais pesados por conta da seca que assola a região e que causou uma baixa navegabilidade dos rios (que são as “estradas” na Amazônia) e por uma suposta baixa operacionalidade de seus meios aéreos, sendo o caminho mais prático uma ação por terra e a única opção seria passando pelo território brasileiro, que possui uma malha rodoviária com acesso aos dois países. Também, boa parte do Estado de Roraima é composta pelo bioma chamado de “lavrado”, uma vegetação aberta, uma espécie de savana similar ao cerrado, que é uma área propícia para a utilização de forças blindadas e mecanizadas. Assim, o EB já está se preparando para quaisquer situações que possam ocorrer.
A 1ª Bda Inf Sl, responsável pela defesa de Roraima e que conta com um efetivo de quase dois mil integrantes, intensificou ações de presença naquela faixa de fronteira visando atender, em melhores condições, à vigilância e proteção do território nacional. Atualmente o EB só conta por lá com os blindados Guarani e Cascavel, este dotado de um canhão de 90mm, e além dos que serão incorporados ao 18º RC Mec, seá enviada a brigada mais 13 VBMT 4X4 Guaicurus, elevando o total de viaturas deste tipo para 29. Seguiu, ainda, uma grande quantidade de munições para armas anticarro do tipo Carl Gustav e AT4. Contudo, esses armamentos não são adequados para o enfrentamento de carros de combate.
Opinião T&D
Diante de tal quadro, uma solução possível seria antecipar a entrada em operação de sistemas de armas já adquiridos pelo EB, cuja função seria o enfrentamento desses tipos de ameaças. É o caso do míssil anticarro Spike LR2 e da viatura blindada de combate de Cavalaria (VBC Cav) 8X8 Centauro II.
O Spike LR2 (Long Range) é um míssil de 5ª geração, com guiagem eletro-óptica e pode ser lançado por um fuzileiro ou integrado a viaturas blindadas. O EB adquiriu 100 unidades do míssil, dez lançadores, dez simuladores, suporte logístico integrado e treinamento, da israelense Rafael Advanced Defense Systems, no final de 2021, que deveriam ser entregues em 2024. Uma antecipação de entrega poderia ser algo complicado, já que Israel passa por um conflito de grandes proporções, convocando sua indústria de defesa para atender às demandas do país o que pode, inclusive, causar um atraso nas entregas ao Brasil.
Já no caso do Centauro II a situação é diferente, pois, no final do ano passado, depois de longa concorrência, o EB selecionou o veículo como o seu VBC Cav, assinando um primeiro contrato para a aquisição de dois exemplares, que deveriam ser testados antes de concluir a aquisição inicial de mais 96 viaturas. De acordo com fontes militares, os testes iniciais das viaturas já foram praticamente concluídos, incluindo testes de tiro, com tripulação brasileira, comprovando uma precisão superior a 97% no primeiro disparo, parado e em movimento, com diferentes tipos de munição.
Desenvolvido pela empresa italiana CIO, uma “joint venture” entre a Iveco Defence Vehicles (IDV) e Leonardo, o Centauro II é considerado a referência em blindado caça-tanques sobre rodas. Foi concebido como sucessor do Centauro B1, o primeiro caça-tanques sobre rodas efetivo a entrar em operação, tem um peso aproximado de 30 toneladas e está equipado com uma torre Leonardo HITFACT MkII, de terceira geração,armada com um poderoso canhão de 120mm, capaz de neutralizar qualquer blindado em uso na América Latina. (PRBJ)
Respostas de 26
contrata um An-124 e manda esses Centauro II direto para Boa Vista.
Para o cenário atual, em que a antecipação do lote dos Spikes e a entrega dos Centauros II não seriam viáveis e devido a logística precária do país, que faria demorar quase um mês o transporte de qualquer carro de combate para aquela região, o MSS 1.2 seria de grande importância neste momento, sobretudo para quem esta dependendo de alguns poucos cascavéis e armas leves AT4 e Carl Gustav. O MSS é de tecnologia obsoleta levando em conta os misseis atuais, mas a Ucrânia esta ai para provar que qualquer arma, sabendo utilizar, faz a diferença.
Justamente e , a propósito, a primeira foto lembra muito algumas áreas que vemos dos combates na Ucrânia .
O mesmo princípio pode ser aplicado ao Cascavel. Contra forças mal equipadas ou levemente equipadas e infantaria ele ainda pode ser proveitoso.
Caro Marcos
Defendo que o Cascavel seja lançado junto com os paraquedistas. Os russos possuem este conceito há décadas.
Como você disse, um Cascavel faz um estrago e tanto contra infantaria. E nem precisa ser o modernizado. A única coisa que falta é ele levar mísseis antitanque.
Abraço
Além disto, precisamos de artilharia pesada lá, tem que mandar alguns M109 e uma bateria completa de astros.
Só pagarem o transporte destes dois Centauros direto pra Boa Vista naquela empresa que tem os AN-124 .
saudacoes a todos! talvez essa crise fosse a oportunidade para testar procedimentos e tambem tecnologia nacional. Acho que essa e a oportunidade de se por a prova a logistica militar em caso de emergencia. Adicionaria tambem a oportunidade de se testar a capacidade industrial em caso de emergencia/boicote internacional. Assim sendo uma oportunidade para testar e aprimorar o ALAC, MSS, radar m60 e m200, Chivunk e por ai vai…
Um mês para esses blindados chegarem a Boa Vista é muita coisa. Porque não usar o KC390? Devem caber pelo menos 3 Guaicurus dentro.
Aproveitando: nós não havíamos comprado o Javelin? Os EUA barraram a venda?
E pensar que tem um certo promotor do MP, que pediu ao TCU que proíba de mandar estes blindados para la, uma guerra pode começar a qualquer momento e um ser, nossas fronteiras podem ser violadas e o promotor preocupado falando asneiras.
Eu vi essa também… Se o Brasil for invadido o MP vai ficar procurando pelo em ovo? Acho que temos que levar mais a sério os riscos na fronteira norte.
O Centauro 2 é o maior instrumento de dissuasão que o Exército pode ter a disposição naquele TO neste momento. Além disso ele pode prover proteção das unidades mecanizadas. Ao mesmo neve de testar em Santa Maria, devemos enviar urgentemente a Roraima. Usar a força para a evitar a guerra, esse é uma objetivo.
Bastos, qual é a razão pela qual os Centauro ainda não chegaram ao Brasil?
O que precisa ser feito para agilizar essa entrega?
Estamos falando da segurança da nossa fronteira e da proteção e da vida dos nossos soldados. É isso que importa!
aproveitar o que tem.. ou seja mandar mais cascaveis e fuzileiros de selva … além de navios patrulhas e fragatas pra demonstrar realmente que guerra não vai ter e um bom exercício de tiro com os novos mísseis MATADOR dos astros e sobrevoo de gripens ng. .. seria uma bela dissuasão.
Dois Centauros 2 podem sim fazer muita diferença caso a Venezuela realmente queira iniciar uma guerra, porém são apenas dois veículos, eles precisariam ser usados em um esquema de defesa elástica, onde esses blindados engajariam veículos mais distantes e infantes com At-4 ou Carl Gustav aqueles que tentassem fazer um “rush”.
Não esqueça que a Venezuela foi o primeiro país da América Latina a desenvolver drones para uso militar. Os centauros, assim como outros blindados e/ou viaturas seriam facilmente destruídos. Precisamos sim é defesa aérea.
Bom dia. Carlos. Será que a Venezuela poderia fazer isso? Digo,eles tem algo escondido que não saibamos?
Qual seria as verdadeiras capacidades deles?
Boa noite, Marcos
Penso que a as tropas de Maduro, em caso de invasão ao território da Guiana, evitariam o território brasileiro, mas, se atravessarem nossa faixa de fronteira, teremos sérios problemas pois nosso maior inimigo consiste nas enormes distâncias entre bases de apoio; munições, embarcações, viaturas blindadas etc etc, teriam que ser deslocadas por milhares de quilômetros. Nossos meios aéreos são escassos; os F-5, Super -tucanos e recentes caças adquiridos na Suécia teriam dificuldade em operar pois seriam deslocados das regiões sudeste e sul onde operariam em bases com pouca estrutura operacional. Para os venezuelanos, tudo seria mais fácil pois as distâncias são menores. Daí a grande vantagem da Guiana; a própria floresta. Maduro não conseguiria manter rotas de suprimentos em meio a mata fechada se pretender dominar o interior de Essequibo.
Essa situação deixou muito claro nossa deficiência em meios anticarros, nossas únicas capacidades reais são os leopards e M60.
Meu Deus! Desde 2009 para criar o 12º Regimento e só foi ativado agora (2023)? E ainda assim sem nenhum meio que possa resolver uma situação mais complicada?
Em 09 de fevereiro de 2009 publiquei um artigo intitulado “M60A3TTS e Leopard1A5 – Aproveitar melhor o que se tem” e que continua atual para os problemas recentes na região Norte do país, envolvendo o Estado de Roraima. Caso queiram ler, acessem o link: https://ecsbdefesa.com.br/m-60-a3-tts-e-leopard-1-a5-aproveitar-melhor-o-que-se-tem/
“Seguiu, ainda, uma grande quantidade de munições para armas anticarro do tipo Carl Gustav e AT4. Contudo, esses armamentos não são adequados para o enfrentamento de carros de combate.”
Como assim o Carl Gustav e o AT4 não são adequados para o enfrentamento do T-72? De acordo com o ministério de defesa ucraniano, até um T-90M foi abatido com o Carl Gustav.
https://warriormaven.com/russia-ukraine/ukraine-obliterates-russian-tanks-with-carl-gustaf-anti-tank-attack-weapon
E a cobertura aérea? Podem colocar 30 mil militares, centenas de blindados etc etc etc
Sem cobertura aérea não existe defesa.
Na minha concepção, essa crise escancara os problemas que nossas forças armadas enfrentam com o descaso do poder publico: uma logística ineficiente, meios ineficazes para efetivamente deter um “ataque” decidido por parte dos venezuelanos, equipamentos obsoletos e confiança excessiva no “mito do guerreiro de selva invencível”… pois bem, o texto é muito explícito… a região em específico é uma espécie de cerrado, e um ataque com vários MBT´s seria praticamente imparável…
O pior é que Maduro já falava sobre essa treta desde 2021 e o EB/Brasil ficou de boas sem se preparar pra agora ,já no meio dessa crise diplomática que pode se tornar bélica, falar que vai enviar meios pra lá e que pode demorar um mês, vergonhoso. Meios blindados na maioria tudo no Sul e o resto desdentado. Planejamento meio q visando um passado bem distante.
Vale a leitura
https://hojepr.com/coluna-dennison-a-mentira-militar-da-prioridade-amazonica/
Paulo, qual a atual situação das UT-30BR, uma vez que apenas 13 unidades teriam sido entregues ao EB.
O programa de atualização UT-30BR ii está em andamento, e se sim, quais as perspectivas em relação à sua produção na ARES. De que forma o potencial conflito pode interferir neste processo.
E dos Guarani equipados com estas torres e que seriam enviados à Roraima, ainda no padrão original, é possível a inserção de mísseis AC como os Spike LR, a fim de reforçar as poucas unidades existentes naquele TO.
O EB tem dez lançadores e 100 mísseis para receber. Seria o caso de dispor de parte deles para as UT-30BR em Roraima.
No caso dos MSS 1.2, apesar do envio de vários lançadores para o 7o BIS e para o 18o RCM, não existe uma linha de produção propriamente na SIATT para os mesmos. Como se pretende solucionar tal questão uma vez que não há como no curtíssimo prazo a reposição do que eventualmente seja gasto por aquelas OM, que obviamente precisarão treinar com o material, ou simplesmente deixar para fazer isso da pior forma possível, enfrentando tropas venezuelanas no terreno.