Uma conversa com João Brasil Carvalho Leite, o diretor-presidente da Avibras Aeroespacial, durante a LAAD 2023.
Por Paulo Roberto Bastos Jr
Tecnologia & Defesa – A Avibras tem sido notícia na imprensa, em relação à sua situação financeira e quanto ao futuro, principalmente sobre possíveis grupos interessados em adquiri-la. O que existe de verdade nisso e qual é a situação atual da empresa?
João Brasil – Realmente, existem diversas empresas interessadas na Avibras, mas não as citadas pela imprensa. Estamos buscando empresas estratégicas investidoras, que sejam do ramo, que entendam nosso valor de verdade, onde possamos chegar a uma proporcionalidade que leve a uma situação de manutenção dos empregos e para isso precisa ser uma empresa que saiba valorizar o capital intelectual e o potencial na geração de negócios.
T&D – Mas se o interesse é em uma empresa investidora, por que necessariamente ela tem que ser do ramo?
João Brasil – Para o futuro. Hoje estamos sustentando a Avibras à duras penas, desde boa parte do ano passado, e estamos nos últimos suspiros para segurar a empresa até que comecemos a fazer as vendas, as quais as Forças Armadas estão nos ajudando a realiza e que vão nos levar ao segundo semestre, quando as coisas acontecerão. Então, não estamos olhando para investidores apenas para “salvar a lavoura”, mas para captar desenvolvimentos de produtos futuros e, somente empresas do ramo, para ter complementaridades de portfólio e comercial.
Existem várias empresas que têm uma aquisição de clientes em áreas diferentes das nossas, ou em países diferentes daqueles que atendemos, onde o cliente já esteja adquirido, pois já conhece a eventual empresa e nela confia. Assim sendo, chegaremos devidamente ciceroneados pelo nosso parceiro. Isso é um ponto muito importante.
T&D – E onde o governo brasileiro entra nessa história?
João Brasil – Existe um esforço e uma percepção de que o Governo Brasileiro irá conseguir resolver os problemas de garantias dos contratos das empresas de defesa, principalmente as com produtos com alto valor agregado, porém, há mais de 50 anos existem planos e nenhum governo, por mais bem intencionado que tenha sido, conseguiu dar solução.
E uma coisa que devemos observar é que nossa praça bancaria não quer ajudar as empresas de defesa, pois nos consideram um “problema reputacional”.
Mas o fato é que não podemos ficar apenas na esperança quanto a uma ação do governo, mas temos que buscar uma solução que seja real e imediata, então a Avibras precisa de um parceiro.
T&D – Existem muitos pretendentes?
João Brasil – Sim, mais de trinta, isso tirando as empresas que querem comprar a Avibras inteira apenas para fechá-la, e posso te dar uma lista de umas quinze que fariam isso. No momento, estamos em uma fase de filtragem, e ainda estamos na faixa da dezena.
Um ponto importante é que o Governo Brasileiro está prestando muita atenção neste processo, mas nossa posição é: queremos candidatos a investidores, há mais de um e nós é que vamos escolher. Não queremos apenas dinheiro, mas um parceiro que reconheça o nosso valor, nossa capacidade intelectual e tecnológica, o fato de estarmos no Brasil, que temos uma Engenharia de primeira linha e que a fábrica de Jacareí possui uma enorme diversidade de tecnologias e capital humano e que consegue fazer praticamente qualquer coisa.
T&D – E como as Forças Armadas estão ajudando?
João Brasil – As compras “a toque de caixa” feitas pelas nossas Forças Armadas, principalmente de munição e componentes, vão nos ajudar a passar os próximos meses.
Apoiamos a Força Aérea no Programa Espacial Brasileiro, principalmente no do motor-foguete S50, mas o que está faltando é “combustível financeiro” para podermos carregá-lo com 12 toneladas de combustível sólido. Estamos conseguindo conduzir os trabalhos em camadas, e a FAB tem nos apoiado o tempo todo.
Também precisamos de recursos financeiros para continuar com o trabalho de certificação dos mísseis MTC, do Exército, e o MANSUP, da Marinha, e ambas têm nos apoiado como podem.
Hoje, as Forças olham para a Avibras e reconhecem que é uma empresa muito importante no processo de assimilação tecnológica e sua retenção, de várias tecnologias essenciais. Dessa forma, eu tenho visto apoio em todos os lugares, principalmente entre os comandantes.
T&D – Os problemas trabalhistas têm impedido a continuidade desses projetos?
João Brasil – O sindicato dos trabalhadores tem tomado ações contra a Avibras, pois estamos com débitos, mas é um fato que conseguimos fazer certas operações para trabalhar e tentamos administrar com o que temos. As compras das Forças Armadas vão nos ajudar a passarmos os próximos meses e a prioridade é regularizar a questão salarial.
Veja mais informações da LAAD 2023 no Daily Show News:
- Em português: https://online.fliphtml5.com/gokgl/fzot/
- Em inglês: https://online.fliphtml5.com/gokgl/hpyp/
- Em espanhol: https://online.fliphtml5.com/gokgl/rzpt/
Respostas de 13
mano não dá pra confiar na empresa mesmo quando ser trata de defesa como foi dito tem várias empresas interessadas na avibras, Assim como várias outras grandes empresas ao redor do mundo tem sempre aqueles interessados como o joao Brasil disse e claro que tem empresas interessadas mas não as citadas pela empresa
Foi mal quis dizer emprensar não empresa desculpa
Percebam que ele cita Exército e Marinha, com os mísseis MTC e MANSUP, como as forças que de fato têm ajudado a empresa e o desenvolvimento autóctone desses artefatos… Já a FAB, que deveria ter interesse no MICLA-BR, ou que é dona, no Brasil, do A-Darter (a qual a Avibras é a responsável de industrializar no país), sequer é citada como força interessada em ajudar na manutenção desses projetos e, consequentemente, a empresa…
O governo tem que entender que é preciso fazer encomendas pra Avibras não morrer. Isso acontece com as grandes economias. Afinal material bélico é restrito. Ou seja, só tem um cliente, que é o país de origem.
triste , ao ler cada linha desta entrevista confirma o que todos sabem … a falta de projeto de nação soberana pelos governos que passam por Brasília…
Desejo q consigam uma indústria parceira pra assegurar todo o desenvolvinento alcançado e i capital intelectual no Brasil.
obrigado por esta entrevista T&D
pois é, uma empresa de porte estratégico na verdade o estado é que tem devia injetar dinheiro com mais encomendas de material bélico da avibras. só com recursos das forças armadas é insuficiente.
“… principalmente no do motor-foguete S50, mas o que está faltando é “combustível financeiro” para podermos carregá-lo com 12 toneladas de combustível sólido … ”
O estranho é que o contrato já foi pago, para a entrega de oito motores, e só foram entregues três.
Será que o combustível não estava incluso no contrato? Isso merece uma pesquisa.
Independente ou não, existe dinheiro em caixa, uma vez que foi pago, para construção dos demais cinco motores?
Será que o quarto e o quinto já estão prontos apenas esperando o combustível?
O Exército precisa de novas baterias de ASTROS.
A Avibras precisa vender pra manter a fábrica funcionando.
Mas nenhum governo realiza a compra que seria bom para o Brasil, sob todos os aspectos.
Esse país faz tudo errado.
O primeiro ponto é que a Avibrás deve continuar brasileira e funcionando.
Para tanto, o governo federal deveria encomendar uma auditoria e posterior consultoria, ambas independentes, para que se conheça a real situação da Empresa.
Em seguida decidir se a atual administração continua à frente do negócio ou se entrega para uma administração profissional.
O próximo passo seria o BNDESPAR – BNDES Participações capitalizar a Empresa. Depois tentar conseguir um sócio brasileiro ou uma empresa brasileira que adquira o negócio. Uma fusão também pode ser considerada.
Na situação atual, a Avibrás é muito mais estratégica do que a Ceitec, que o governo quer manter estatal.
A diferença em subsidiar ambas, é que na Avibrás o governo pode ser ressarcido em produtos.
A grande preocupação é saber se a atual administração é apenas vítima das circunstâncias ou se ela mesma faz parte do problema.
Acredito que a maior diferença entre subsidiar a CEITEC (que diga-se de passagem, é sim importante) e a AVIBRAS, é “problema reputacional”.
Olhando do nosso lado, sabemos da importância do setor, tanto para soberania nacional quando nos frutos que este setor gera em P&D.
Mas infelizmente, muitas pessoas, que utilizam canais de “desinformação”, realmente acreditam que as FA pensavam em atacar a democracia. um absurdo total!
A verdade é que tanto as Forças Armadas brasileiras como as indústrias que fazem parte do BID (Base Industrial de Defesa) precisam passar por uma reorganização. As forças armadas precisam de um choque de realidade e administração para compreenderem que simplesmente não dá para gastarem quase 80% do dinheiro que recebem com salários e pensões. Tem que ser algo saudável, na casa de 60/70% no máximo. Mesmo que a custa de diminuição do efetivo. Quanto ao BID, qual é a necessidade real de encomendas para que as empresas se mantenham saudáveis (e há uma grande diferença entre “saudáveis” e em expansão) e pesquisando novas tecnologias. Essa parceria entre o BID e as FAs é essencial. Mas parece que cada uma tem objetivos diferentes.
AVIBRAS possui um imenso capital intelectual e um portfólio de dar inveja a qualquer país do mundo, adquiridos ao longo décadas de pesquisa de homens e mulheres desses nosso país… é claro que existe interesses estrangeiros de querer ver essa empresa fechada, pois é concorrente delas… lamentável ver a AVIBRAS nesta situação financeira atual… quem são os responsáveis ou irresponsáveis por isso, talvez nunca saibamos… creio que todos que curtem e acompanham as notícias deda área de defesa estão muito tristes com que está acontecendo com a AVIBRAS… estamos torcendo para que a melhor solução seja tomada e que continue sendo esse maravilhosa empresa brasileira de desenvolvimento de equipamentos de ponta para nossas forças armadas… tenho muito orgulho…MTC-300, MANSUP, ASTROS 2020, e outros.
na verdade o que houve foi na administração,no tempo do Eng João Verdi não tinha esse problema ele sabia administrar!