22 de abril de 1945. O céu amanheceu encoberto na base brasileira em Pisa, na Itália. A aparente calmaria na pista de decolagem escondia o intenso movimento do 1° Grupo de Aviação de Caça nos últimos dias. Sob o comando do major Nero Moura, os pilotos se preparavam para mais um dia de combate, sendo que aquele dia ficaria especialmente marcado para sempre com o maior número de surtidas diárias e os melhores resultados obtidos.
Passava das 8 horas, quando o ronco do primeiro P-47 ecoou pela pista de decolagem de Pisa. Em terra, o ritmo de preparação continuava acelerado para dar conta das demais missões planejadas para aquele dia. Contrapondo-se à frenética rotina, pairava um clima de preocupação evidente, pois as estatísticas em combate indicavam pelo menos três aeronaves abatidas por mês. Pouco antes do meio-dia, começavam a voltar as primeiras esquadrilhas, sem nenhuma baixa.
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Em todas as saídas, os pilotos despejavam suas bombas em pontos estratégicos e passavam a procurar alvos de oportunidade, como colunas de tanques e transportes de suprimentos.
A última missão do dia foi a mais dramática. Das quatro aeronaves, três retornaram. Ao mergulhar sobre um alvo, seguindo seu líder, um dos pilotos foi atingido e teve que saltar de paraquedas, ficando desaparecido até o final da guerra.
Essas emoções incomparáveis foram vividas por jovens pilotos brasileiros, heróis que honraram o nome do Brasil e da então jovem Força Aérea Brasileira.
Após o fim da guerra e retorno para casa, o desafio passou a ser a implantação e o desenvolvimento da Aviação de Caça no Brasil, que foi cumprido com a mesma determinação dos dias de conflito.
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O tempo passou e o Trator Voador, que tanto tiro levou e que muita bomba despejou contra as forças oponentes nos céus italianos, já não acompanhava a evolução tecnológica vivida no mundo inteiro.
A máquina mudou. Os valores não. Deste então já foram formados mais de 1.600 novos caçadores. Todos herdaram a vibração, o profissionalismo, a coragem e a paixão pelo desafio e pela Aviação de Caça.
Hoje, os jovens caçadores recém-formados na Academia da Força Aérea têm seu batismo inicial na aeronave A-29 Super Tucano, aprendendo a empregá-la como plataforma d´armas, no cumprimento das mais diversas ações de Força Aérea.
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Após adquirir a experiência necessária são selecionados para voar a primeira linha da Aviação de Combate, desta feita no comando de máquinas velozes e com tecnologia embarcada de última geração, as quais, em caso de ameaça externa à soberania e à independência nacionais, serão as primeiras a cruzarem as linhas inimigas e enfrentarem qualquer tipo de desafio para garantir a paz às famílias brasileiras.
Refiro-me às aeronaves A-1M, capazes de conduzir grande quantidade de armamento e adentrar em profundidade no território inimigo para atingir os objetivos estratégicos com precisão.
Do mesmo modo, ressalto a capacidade das aeronaves F-5M, equipadas com mísseis de longo alcance utilizados em Combates Além do Alcance Visual, responsáveis por garantir soberania do espaço aéreo brasileiro, impedindo que vetores hostis invadam as nossas fronteiras territoriais.
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Como parte indispensável do seu constante processo de renovação e aperfeiçoamento tecnológico, aguarda-se a chegada das aeronaves Gripen NG, que, por sua característica multimissão, serão capazes de elevar o Brasil a um patamar mais alto de poderio militar, mantendo a sua singular importância no cenário da América do Sul e também no mundo.
A evolução continuada da Aviação de Caça tem permitido a a produção de doutrinas mais eficientes e criado uma espiral operacional de conhecimento e de capacidades que impulsionam cada militar para a profissionalização da Força, dando continuidade ao que foi ensinado por aqueles jovens combatentes nos céus da Itália.
Hoje, vivemos um estimulante desafio com a implantação da “Força Aérea 100”, cuja premissa básica aponta para uma organização mais ágil e mais eficiente, tanto no planejamento quanto na execução das suas atividades, adequando-se às prováveis limitações de recursos e às incertezas do ambiente externo, sem perder qualidade no cumprimento de sua missão constitucional.
E entre todos os benefícios, o avanço da fronteira tecnológica será o diferencial da FAB no futuro, em cooperação com as demais Forças Armadas Brasileiras, para que a capacidade operacional seja incrementada ao máximo.
Em 2041, no seu centenário, a Força Aérea terá muito o que comemorar, operacional e administrativamente. E nada seria possível se não fosse a determinação, o profissionalismo e a coragem de cada militar para enfrentar os novos desafios que se descortinam. Tais características, tão peculiares aos pilotos de caça, foram herdadas dos heróis brasileiros da campanha na Itália e sempre serão a base dos valores dessa gloriosa aviação.
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As experiências do 1º Grupo de Aviação de Caça, originadas em tempo de guerra e transmitidas por gerações de pilotos, influenciaram significativamente as formulações doutrinárias ora praticadas. O alto padrão de eficiência e eficácia, mantidos todos esses anos, demonstram que em cada componente desta aviação ainda vive o espírito heroico dos seus antecessores. Pioneiros que viveram intensas emoções e que fizeram a diferença no marcante dia 22 de abril de 1945.
SENTA A PÚA!!!
Por tenente-brigadeiro do ar Gerson Nogueira Machado de Oliveira
Comandante-geral de Operações Aéreas