AV-MTC em Canoas “Não é um míssil ar-terra”, fonte esclarece.

Após a divulgação, pelo Ministério da Defesa, de imagem mostrando um teste com o AV-MTC, míssil de cruzeiro da Avibras, uma grande repercussão ocorreu, ainda mais que o sistema foi identificado, inicialmente, como a versão ar-terra do AV-MTC sendo testada pela Força Aérea Brasileira.

Importante observar que, em março último, quando da descoberta dos testes, Força Aérea e Avibras Aeroespacial foram consultadas formalmente e exerceram a opção (um direito) de não esclarecerem nada, adotando o silêncio como resposta.

Após o impacto inicial da notícia, surgiram reações contrárias a divulgação do fato (ou foto), e um destes observadores contrários, um oficial da reserva da Força Aérea muito próximo a base aérea de Canoas foi taxativo “Isso não é a versão ar-terra do AV-MTC, este míssil utilizou o F-5M apenas para a abertura do envelope para o voo supersônico, nada mais além disto”.

“Encucados” com essa nova informação, decidimos investigar mais a fundo, tendo como ponto de partida quais cargas o F-5EM pode transportar no center-line e qual o limite de peso naquele cabide.

Nesse momento, a reportagem de T&D recebeu valioso auxílio técnico-profissional de fonte que será preservada quanto a sua identidade, mas que tem em seu currículo profissional longa atuação como engenheiro aeroespacial na aérea de Defesa.

O que foi fotografado em Canoas em março, e revelado pelo MD em junho, NÃO é uma versão ar-terra do AV-MTC, longe disso.

Segundo essa fonte explicou, em uma longa conversa recheada de termos técnicos, trata-se de um pod de testes, com a mesma plataforma aerodinâmica do Litening III ou AN / AAQ-28 (homologado para o center-line do F-5EM), e que reproduz fielmente a metade posterior do AV-MTC, com suas entradas de ar para o motor micro-turbo, único componente do míssil a bordo além de instrumentação de teste, subsistemas de controle da propulsão e certa quantidade de combustível para o propulsor.

Segundo essa fonte, no teste, o “dummie” laranja CAES 06 é levado aos céus no center line do F-5EM para atingir altas velocidades subsônicas e assim recriar as forças que atuam no motor do míssil durante a fase de lançamento e início do voo de cruzeiro, etapa crítica quando o booster termina a queima do propelente e é ejetado, e sensores no corpo do míssil acionam e aceleram o motor micro turbo, de modo que o AV-MTC continue o voo em velocidade de cruzeiro de mach 0,7 (cerca de 850 km/h, dependendo das condições atmosféricas).

Esses testes tem como objetivo, mais uma vez segundo a fonte, aumentar a confiabilidade do motor micro-turbo nessa etapa crítica do voo, e de seus sistemas associados, responsáveis por interpretar os milhares de dados e comandar a entrada em funcionamento do propulsor.

Esses testes foram necessários já que, segundo essa fonte, durante a campanha de disparos ao final de 2018, pelo menos um míssil não teria executado a sequência correta de acionamento do micro-turbo após o descarte do booster, resultando na perda total do artefato e dos dados gerados pela instrumentação de bordo.

Além dos custos altíssimos envolvidos em disparos reais e da subsequente perda de valiosa instrumentação e informação, a falta de confiabilidade a 100% dos sistemas relacionados ao motor micro-turbo precisa ser sanada antes do sistema ser declarado pronto para entrega ao Exército Brasileiro, o que deverá acontecer a partir de 2020.

 

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Comentários

4 respostas

  1. Pois se não era a versão ar-terra, deveria de ser… é de suma importância uma capacidade dessas! Não podemos ter medo de crescer!

  2. É um banho de água fria, mas em se tratando da FAB, nos últimos 12 anos, na questão de desenvolvimento autóctone de armamentos e sistemas embarcados nacionais, nada mais o que se esperar. A saga de importador de armamentos inteligentes continua.

  3. Ah, que pena… Seria muito bom se o Brasil já tivesse avançado a esse ponto de produzir um míssil de cruzeiro lançado por avião… Acho que seria um enorme poder de dissuasão…

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