Atentados em Paris: Há motivos para se preocupar sim, e de sobra…

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Os covardes atentados da semana passada em Paris, embora toda a dose de choque e repulsa que provocam, não surpreendem mais. O Ocidente parece que já se acostumou a esses atos de barbárie extrema. Quase já não se falava mais no ataque à revista satírica Charlie Hebdo, em janeiro passado, lá mesmo. E, por que novamente, Paris? Ora, a belíssima capital da França, há séculos, é de uma simbologia enorme nos mais variados campos da atividade humana, além de, entre outras coisas, ser a sede do governo de um país com um passado colonialista marcante, com forte presença no Oriente Médio e Norte da África, e como uma das heranças daquelas épocas, abriga em seu território grandes colônias de imigrantes oriundos daquelas regiões que tiveram, então, seu acesso facilitado por uma política de tolerância e receptividade. Mas, todos sabemos que isso, por si só, não explica essa ousadia assassina. Aliás, não apenas a Cidade Luz tem sofrido com a sanha de grupos terroristas que se justificam com base em um fundamentalismo de origem religiosa. Londres, Madrid, New York, apenas lembrando ações mais recentes, junto, é claro, a inúmeros outros locais, diariamente, no Iraque, Afeganistão, Líbano, Síria e por aí afora….

Ironicamente perpetrados poucos dias antes da abertura da maior feira de segurança e antiterrorismo do mundo, a Milipol-Paris, os ataques feitos pelos militantes do Estado Islâmico (EI), que quando não estão cortando cabeças ou queimando pessoas vivas, gostam de jogar homossexuais de cima de algum prédio, demonstraram que não há lugar em que se possa viver em segurança e ter as suas convicções, sejam quais e de que tipo forem, respeitadas. Isso, num primeiro momento, vai significar novas e mais duras medidas de segurança a coibir os direitos individuais, o aumento da xenofobia que vai tornar pior a já dramática questão dos refugiados, uma das maiores tragédias humanitárias já vividas.

Também revelam o titubeio dos governos ocidentais em enfrentá-los de forma mais efetiva – fato do qual vão se aproveitando para se mostrarem com uma áurea de “guerreiros invencíveis”, assim crescendo em sua audácia, e conseguindo, cada vez mais, recrutar tantos e tantos jovens com vidas já praticamente destruídas por guerras e rivalidades sem fim, desiludidos e sem perspectivas, para suas fileiras.

A declaração do presidente norte-americano, Barak Obama, na reunião do G-20, de que não pretende empreender uma campanha militar terrestre contra o EI, nos dá a certeza de que muitos outros atentados, sangrentamente espetaculares, virão por aí, não tenhamos dúvida disso. Sem questionar a validade das medidas que se restringem a incursões aéreas ou apoio logístico, se não houver o “boots on the ground”, ou seja, tropas no terreno, com diretivas de comando de “busca e destruição”, tomando o espaço físico, efetuando o isolamento, não se conseguirá neutralizar esses terroristas. Evidentemente que, como não se trata de algo desprovido de situações de extrema complexidade, com uma enormidade de consequências a serem consideradas, o EI vai vencendo a guerra, implantando o medo, consolidando-se sim como uma das maiores ameaças à humanidade.

Enquanto isso, ao sul do Equador, o Brasil, através de seus dirigentes, entende que não está na lista de prováveis alvos de ações terroristas. O País não participa do combate ao EI, não teria tanta projeção no cenário internacional, estando, ainda, muito longe dos acontecimentos. Porém, as Olimpíadas – um evento global – estão chegando e para as competições serão recepcionados em torno de 15 mil atletas de mais de 200 países, sem contar milhares de turistas e outros que virão a trabalho. No período dos jogos, o território brasileiro poderá ser visto como um palco perfeito para uma (ou mais) demonstração do poderio e dos longos braços do terrorismo. Em 1972, a Alemanha, ainda dividida, também estava distante do conflito entre árabes e judeus, no entanto, isso não a livrou do episódio do ataque à delegação israelense durante as Olimpíadas de Munique.

Não podemos é adotar a postura do avestruz e achar que conosco nada acontece. Todo o cuidado e atenção à segurança será pouco, mesmo porque está praticamente liberado o acesso a todos os estrangeiros, sem maiores (ou nenhuma) exigência. Não esqueçamos também de que o Brasil não conta com um décimo dos recursos disponibilizados a essas questões pelos países do Primeiro Mundo – e que também não os livraram desses ataques. Dessa forma, a preocupação e toda a competência e funcionalidade possíveis, passando por cima de qualquer idiossincrasia devem prevalecer. Paris, de sexta-feira passada, pode ter sido um último aviso.

Ah, sim, uma das declarações veiculadas no site do EI chama Paris de “a capital da abominação e da perversão”.

Já imaginaram se eles virem algum vídeo do carnaval brasileiro?

Francisco Ferro
editor-chefe

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