AS LENTES NECESSÁRIAS PARA PILOTAR (50 Anos da Embraer)

  • O piloto de ensaios da Embraer, David Branco Filho, conta como aviação e fotografia caminharam juntas na sua carreira e ensina algumas técnicas para quem quer aprender a registrar aviões.

Há 30 anos, vejo o mundo de cima.

Comecei a voar na Força Aérea Brasileira, em 1982, e desde 2001 sou piloto da Embraer.

Nessas três décadas à frente das cabines, conheci tribos isoladas na Amazônia, participei de operações contra o narcotráfico com a Polícia Federal, treinei clientes sobre as densas florestas tropicais da Tailândia, as areias quentes do deserto do Egito, os mares verdes da Grécia, os picos nevados dos Andes e as praias paradisíacas do Havaí.

Vi a beleza em seus extremos, de Punta Arenas, no sul do Chile, à nórdica Islândia.

Fiz ensaios de vôo no Brasil e no exterior para avaliar como os aviões da Embraer reagiam diante de ventos fortes, de tempestades ou com as asas carregadas de gelo.

Conheci a Terra através das janelas do cockpit.

Velocidade, foco, sensibilidade e abertura me permitiram registrar um pouco do que vivi.

Outra lente que me fez ver o mundo com mais amplitude foi a fotografia.

Esse é um hobby que cultivo desde a adolescência quando, no final dos anos 1970, peguei uma câmera Minolta Hi-Matic emprestada do meu pai e me apaixonei pelo assunto.

Ainda guardo o exemplar da revista americana Popular Photography, que comprei no aeroporto Galeão, no Rio de Janeiro, em 1980.

Nunca fiz um curso formal, mas, desde então, assinei muitas publicações estrangeiras, passei a ler e estudar tudo o que podia sobre fotografia.

Hoje, o acesso à informação mudou, ficou muito mais fácil, basta ter interesse: não passa um dia sem que eu abra uma página na web ou um tutorial no YouTube para conhecer as últimas técnicas.

Piloto de testes: não existe rotina

Durante a minha adolescência, não imaginava que isso acabaria fazendo parte da minha principal atividade profissional.

Mas a fotografia de aviação veio como uma consequência natural do ambiente onde vivo. Comecei na Embraer na área de Seção de Segurança de Voo, onde era responsável pelo acompanhamento de ações de Prevenção e Investigação de Acidentes com as aeronaves Embraer que operavam mundo afora.

No ano seguinte, 2002, passei a trabalhar como piloto na Seção de Operações de Ensaios em Voo, onde estou até hoje.

Faço voos de ensaios em todas as aeronaves da linha de aviação Comercial, Executiva e mais o KC-390 da linha da Defesa, tanto no Brasil quanto na fábrica em Melbourne, nos Estados Unidos.

De vez em quando, fico de sobreaviso no helicóptero de resgate da Embraer em Gavião Peixoto.

Com o passar do tempo, percebi que o meu dia a dia não era comum e despertava a atenção até mesmo de quem trabalha com aviação.

As atividades de ensaios em voo, com seus testes em aviões protótipos, são um nicho pouco conhecido do setor, o que torna o registro mais interessante.

É uma área onde não existe rotina. Realizamos voos de desenvolvimento de novos aviões levando à máquina aos limites exigidos para certificação, nos mais variados ambientes e também fazemos voos de verificação funcional de aeronaves que saem novas da linha de produção antes da entrega aos clientes.

Os protótipos têm configurações muito particulares, cheios de equipamentos de medição e dispositivos especiais para a realização dos ensaios.

Mesmo trabalhando em São José dos Campos, frequentemente vou a Gavião Peixoto para participar das atividades de ensaios em voo, porque lá estão a maioria dos nossos protótipos.

Sempre que posso, chego antes do amanhecer e saio depois do por do sol à espera de uma luz especial para as fotografias.

O céu em Gavião Peixoto é espetacular.

Unir aviação e fotografia foi a maneira que eu encontrei de compartilhar a excentricidade da tarefa e a beleza das imagens que eu vejo com quem não as vê de tão perto.

Luz, câmera… prevenção!

Velocidade, foco, sensibilidade e abertura são valores fundamentais que úteis para muito além de registrar momentos através de um visor.

Em paralelo ao voo e à fotografia, também tenho a atribuição de zelar pelos assuntos de prevenção de acidentes aéreos na Embraer, com trabalhos de conscientização sobre segurança operacional para o grupo de tripulantes de ensaios.

Muito da minha atividade nos últimos 30 anos envolveu a divulgação desse tema, seja por mídia escrita (atualmente online), por aulas e palestras em todo o país.

Dois dos momentos mais marcantes da minha carreira foram quando percebi que esse esforço fez a diferença na vida de alguém. No final dos anos 90, eu dava aula de prevenção de acidentes na pioneira Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS.

Um dia, a Diretora da Faculdade, na época comandada pela Professora Regina Xausa, me telefonou para contar que um ex-aluno sofreu uma falha de motor em uma condição traiçoeira, que já vitimou muita gente, mas ele conseguiu fazer os procedimentos corretos e pousar sem sofrer nenhuma lesão. Ela havia perguntado ao piloto o que ele sentiu quando o motor parou e ele disse “só lembrei das aulas do David”.

Em 2003, um piloto de ensaios da FAB teve um sério problema nos comandos de voo do seu avião de caça. Na luta para recuperar o controle da aeronave, ele acabou decidindo pela ejeção e sobreviveu para contar história.

Recentemente, ele veio conversar comigo: “Acho que eu nunca te contei. Enquanto eu estava na batalha para dominar o avião descontrolado, lembrei de um artigo teu que eu tinha lido na noite anterior. Você dizia que muitos pilotos morriam em emergências por priorizarem salvar a aeronave. Foi quando eu decidi ejetar”.

Hoje ele também é piloto de ensaios na Embraer.

Essas duas histórias justificam tudo o que fiz durante minha carreira e representam bem mais do que os voos emocionantes, as viagens a lugares exóticos e os cenários maravilhosos que tive a oportunidade de vivenciar.

Talvez concorram apenas com as fotografias que pude tirar.

Passageiros, preparar para fotografar: dicas práticas

A fotografia de aviação tem várias facetas. Entre elas, as mais relevantes são: fotografia de aeronaves estáticas; de aeronaves em operação, tiradas a partir do solo; e as fotos “ar-ar”, ou seja, uma aeronave em voo fotografando.

1. Para a fotografia estática, é importante a composição com o cenário, a perspectiva, a luz, o céu.

2. Para fotos de aeronave em operação, como nas decolagens e pousos, você precisa prever aonde a aeronave vai estar e se posicionar adequadamente. Uma teleobjetiva longa ajuda a melhorar os resultados.

Também é necessário se preocupar com a velocidade da ação e ajustar a câmera dependendo do efeito que se desejar: aeronave bem nítida ou imagem um pouco “borrada” para dar sensação de movimento.

3. Na terceira categoria, fotos ar-ar, você voa em um avião com as portas ou janelas removidas e tem uma incrível liberdade de ângulos para fotografar a outra aeronave que vai te acompanhando na ala. Na Embraer, esta categoria é reservada aos fotógrafos profissionais. É um sonho para mim como fotógrafo.

4. Embora muita gente se preocupe com a câmera, a qualidade do trabalho final depende mais da técnica do que do equipamento. Ouço com frequência “também, com essa câmera!”. Isso é quase como escrever um belo texto e alguém dizer: “também, com Word 2016, até eu”.

Utilizo equipamentos Nikon desde 1978. Mas você pode escolher o que melhor se adaptar às suas necessidades. A câmera é apenas uma ferramenta para registrar as imagens que você escolheu como compor, com a luz certa, no momento certo.

Uma boa foto se faz com um fotógrafo.

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