Argentina inicia a modernização de seus Tucano

Por Carlos Borda Bettolli, do portal Zona Militar, da Argentina (*)

Por meio da licitação pública N ° 57/2021, a Força Aérea Argentina (FAA) planeja contratar a modernização da aviônica de duas aeronaves Embraer EMB-312 Tucano, atualmente sediadas na III Brigada Aérea, em Reconquista. O processo constitui-se como a fase inicial de um projeto de atualização, uma vez que não se pretende apenas fornecer kits de modernização, mas também inclui “… o projeto de engenharia, materiais, certificação, documentação, treinamento e suporte técnico que são identificados como necessários para a integração completa, instalação e implementação funcional da modernização aviônica dos cockpits dianteiro e traseiro de duas aeronaves …”.

Esses dois Tucano serão os protótipos #1 e #2 , com a diferença de que no primeiro a modernização ficará “totalmente” a cargo e sob responsabilidade da contratada, enquanto no segundo a modernização ficará a cargo de a contratada, mas empregará “parcialmente” mão-de-obra da FAA para a execução das obras que demande e, exclusivamente, para a sua formação na modalidade “on the Job”, complementada com cursos teóricos e práticos, culminando com a implantação total da modernização na aeronave Protótipo #2, com a certificação de treinamento do pessoal da FAA e com a certificação da aeronave pela autoridade aeronáutica DIGAMC (Dirección General de Aeronavegabilidad Militar Conjunta).

De acordo com os dados fornecidos nas especificações técnicas, o licitante deverá apresentar uma oferta alternativa que, além do que é exigido pela FAA, que incluirá “… o projeto de engenharia detalhado, fornecimento, integração, instalação e certificação de um transmissor / equipamento receptor FM que permite enlaces de voz na faixa de frequências UHF, para uso aeronáutico, do tipo COTS comercial, com capacidade para controlar o equipamento tanto a partir de cockpits dianteiros como traseiros …”, extensiva aos dois protótipos.

Ao longo das especificações técnicas é feita referência à forma como o kit de modernização será integrado aos kit de equipamentos (componentes principais a serem integrados no nível LRU), kit de instalação (conjunto de dispositivos necessários para integrar e instalar o kit de equipamentos), suporte técnico (assistência remota para esclarecimento de dúvidas durante a instalação dos Kits, por um período de dois anos) e o kit alternativo de modernização (fornecimento do equipamento transmissor/receptor UHF, já mencionado).

Inicialmente serão modernizadas duas aeronaves (Imagem: FAA)

Requisitos operacionais gerais

Uma vez modernizados, os protótipos devem ter capacidade certificada para realizar os seguintes tipos de voos:

  • Voo por instrumentos, navegação e aproximação segundo o conceito de PBN (“performance-based navigation”), RNAV (“area navigation”) e RNP (“required navigation performance”), tanto diurno como noturno, sem restrição de luz;
  • Voos visuais e acrobáticos sem restrição de G’s, dentro do envelope de voo estabelecido pelo fabricante, e que esteja explicitamente definido no manual de voo da aeronave (+6 / -3 G’s);
  • Voo para lançamento ou disparo de armas, dentro do envelope de voo estabelecido para uso de armas pelo fabricante, de acordo com o manual de voo da aeronave, mantendo integrados e funcionais todos os dispositivos, painéis e demais componentes do sistema de armas pré-existente.

Configuração modernizada da aeronave

Aqui estão alguns dos aspectos mais relevantes solicitados para os protótipos:

  • Será integrado um novo sistema de comunicação e navegação que incorpora a funcionalidade VHF/GPS/NAV/ILS, através da integração de dois equipamentos idênticos, um instalado no painel frontal do cockpit e outro instalado no painel traseiro. A tela do equipamento a ser instalado será de LCD digital colorido com alta resolução, com dimensões mínimas de 4,5 polegadas em sua diagonal. O GPS deve ter uma opção de modo de navegação com “proa verdadeira”;
  • O ADI (indicador de atitude) e o HSI (indicador de situação horizontal) do sistema original devem ser desinstalados e removidos dos painéis da cabine dos cockpits dianteiro e traseiro. Altímetro, velocímetro, indicador de velocidade vertical, RMI, indicador de atitude principal, indicador de atitude de ré, indicador de direção e relógio também serão removidos;
  • Instalação de um sistema de instrumentos de voo digital (“electronic flight instrument system” – EFIS), tipo glass cockpit, integrado, composto por dois equipamentos idênticos, um instalado no painel frontal e outro instalado no painel traseiro. EFIS deve fornecer recursos de ADI e HSI, para serem exibidos em uma tela LCD digital de alta resolução igual ou superior a dez polegadas na diagonal;
  • O EFIS a ser instalado deve possuir tecnologia “Synthetic Vision” (SVT), proporcionando uma visão 3D em tempo real, mostrando a topografia virtual do terreno com a habilitação de alertas de colisão de terreno (TAWS). Devem também apresentar alternadamente ao piloto e copiloto, as informações de mapeamento meteorológico (detector de tempestade), mapa móvel (mapa em movimento com todas as cartas de navegação de fundo) e TAS (“traffic advisory system”);
  • Instalação de um relógio digital de precisão, indicando horas, minutos e segundos e capaz de manter uma precisão de mais ou menos 30 segundos em um período de 24 horas;
  • Instalação de equipamento de mapeamento meteorológico (“storm scope”);
  • Instalação de um indicador digital integrado de backup, com tela LCD colorida e bateria interna, capaz de representar ADI, HSI e MFD com mapa móvel;
  • O sistema irá incorporar um ADAHRS interno (sistema de referência aérea e de atitude e direção);
  • Os instrumentos do motor, o indicador de fluxo de combustível e os indicadores de combustível (DETOT) serão removidos da aeronave. As indicações fornecidas pelos instrumentos removidos devem ser convenientemente representadas nos dispositivos de apresentação digital a serem incorporados;
  • É responsabilidade da contratada certificar a aeronave compatível para voo NVIS (“night vision image system”), incluindo toda a iluminação e representações do sistema aviônico, luzes internas e externas da cabine, conforme especificado para voo NVIS de acordo com o padrão MIL. -STD-3009 Tipo II Classe B;
  • Um transponder ADS-B “Out/In” será instalado e deve apresentar uma transmissão ADS-B “Out” de 1090 MHz e permitir que o tráfego da aeronave seja exibido na tela EFIS;
  • Os alarmes sonoros dos componentes incorporados pela modernização da aviônica devem ser integrados ao sistema de áudio da aeronave.
Cabina modernizada de um AT-27M. Os Tucanos da FAA terão padrão semelhante (Imagem: CIAC)

Detalhes adicionais

Todas as atividades de instalação do sistema aviônico do EMB-312 Tucano, incluindo desmontagens, instalações, modificações, integração de novos equipamentos, testes, treinamento de pessoal, entrega de documentação e entrega e recebimento de cada aeronave devem ser realizadas em a Área Rio Material IV, em Córdoba.

O valor preventivo atribuído a esta etapa é de US $ 1.691.110,00, e o prazo de execução não deve ultrapassar 8 meses, tendo como ponto de partida a conclusão do contrato.

Conforme ficamos sabendo em setembro de 2020, o brigadeiro Xavier Isaac, chefe do Estado-Maior da FAA (JEMGFA) confirmou que a modernização do EMB-312 Tucano havia sido adiada para 2021, o que se confirma hoje com a citada licitação. Se os prazos forem mantidos, espera-se que esta fase inicial que inclui os dois protótipos seja concluída antes do final do primeiro trimestre de 2022, devendo ser assinado um novo contrato para garantir a modernização serial.

(*) Zona Militar é uma publicação argentina de defesa, segurança e geopolítica, criada em 2015, e parceira de Tecnologia & Defesa no intercâmbio de informações, para manter os leitores atualizados das notícias importantes que ocorrem entre os dois países.

Artigos Relacionados

Formulação Conceitual dos Meios Blindados do Exército Brasileiro ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO-PORTARIA Nº 162-EME, DE 12 DE JUNHO DE 2019 Documento...

Pela primeira vez no Brasil, foi realizado o reabastecimento em voo (REVO) por helicóptero, foi a chamada Operação MANGA. Na...

No dia de hoje, 17 de abril, no Quartel General do Exército (QGEx), o general de exército Fernando José Sant’ana...

Nesta segunda-feira, dia 15 de abril, o Destacamento de Aviação do Exército no Comando Militar do Norte (Dst Av Ex/CMN)...

Começou no ultimo domingo, dia 14 de abril, a Operação “Jeanne d’Arc 2024”, exercício realizado pela Marinha do Brasil (MB)...

Santiago Rivas (*) Na manhã de hoje, 16 de abril, foi finalmente assinado o contrato de aquisição das 24 aeronaves...

Comentários

3 respostas

  1. Apenas deu o primeiro passo. Queria ter essa mesma confiança dos amigos argentinos. “Inicia a modernização”. Ainda nem começou a licitação. Chuto 1 ou 2 anos para escolher o vencedor. Mais 2 anos para começar no primeiro protótipo.

    E o tal do FONDEF? Nenhuma licitação foi feita. Mais uma promessa dos hermanos.

Deixe um comentário para Marcos Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

DISPONÍVEL