Exclusivo – Tecnologia & Defesa entrevista Secretário Geral da Defesa e Diretor Nacional de Armamentos da Itália
A indústria de defesa da Itália é uma das mais importantes e bem sucedidas da atualidade. Para conhecer um pouco dos atuais projetos e possibilidades de cooperação com o Brasil, o jornalista entrevistou o Tenente General Nicolò Falsaperna. Oficial do Exército da Arma de Engenharia, ele ocupa o cargo de Secretário Geral da Defesa e Diretor Nacional de Armamentos da Itália.
Por Kaiser David Konrad
T&D -A Leonardo desenvolveu um jato de treinamento avançado, o M-346 Master, que está em operação na Aeronáutica Militare, treinando pilotos de combate da Itália e de nações amigas em Lecce. Qual seria o potencial de cooperação na parte de treinamento de pilotos de combate?
General Falsaperna – O Aermacchi M-346 é provavelmente a melhor aeronave de treinamento avançado disponível no mercado atualmente, a única especificamente projetada para treinar pilotos destinados a aeronaves militares de primeira linha da próxima geração. Desde 2013, o M-346 está em serviço nas Força Aéreas Italiana, da República de Cingapura e de Israel; mais recentemente foi adotado pela Força Aérea Polonesa que assinou um contrato para 8 aeronaves em 2014 e para mais 4 em 2018.
Considerando a recente aquisição pelo Brasil de 36 caças SAAB Gripen, acreditamos que a necessidade de uma moderna aeronave de treinamento a jato, preparatória para a transição de novos pilotos para os esquadrões operacionais da primeira linha, está se tornando cada vez mais atual para a FAB. Com isso em mente, a aeronave de treinamento da Leonardo certamente oferecerá uma solução econômica não apenas para a fase de treinamento, mas também para cumprir algumas outras funções a um custo operacional menor, integrando-se à frota Gripen. Em particular, a aeronave M-346, além do papel de instrutor avançado para a transição subsequente ao Gripen, permitiria a transferência de horas de voo necessárias para manter as qualificações dos pilotos, desde o Gripen até o mais barato M-346, e em sua versão de caça leve / ataque, seria um substituto válido para outras aeronaves da FAB.
Do ponto de vista da cooperação para o treinamento de pilotos de combate, a Força Aérea Italiana já resolveu o problema da preparação correta e eficiente de seus pilotos destinados a aeronaves de quarta e quinta geração com o “sistema de treinamento” M -346, percebendo também uma importante redução dos custos associados. No lado italiano, há plena disposição para abrir uma cooperação para a formação de pilotos brasileiros na Escola Internacional de Treinamento de Vôo (IFTS) em Galatina (Lecce), onde, além dos pilotos italianos, os estrangeiros já são treinados.
T&D – O consórcio Iveco-Oto Melara desenvolveu o Centauro 2, uma nova versão do reconhecido caça-tanques Centauro 1. Que novas capacidades este blindado traz ao Exército Italiano? Tendo em vista a cooperação de sucesso dentro do programa Guarani com o Exército Brasileiro, o senhor acredita que o Centauro 2 poderia ser uma boa opção para equipar a nova família de blindados de reconhecimento do Exército Brasileiro?
General Falsaperna – No que diz respeito ao fornecimento de veículos militares, a cooperação com a Itália é muito avançada. Há muitos anos a Iveco DV é uma das principais fornecedoras do Exército Brasileiro e também realizou importantes investimentos na fábrica de Sete Lagoas (MG), inaugurada em junho de 2013. Em dezembro de 2009, foi assinado um contrato com o Exército Brasileiro para o fornecimento de mais de mil veículos Guarani e em 2016 a Iveco recebeu uma licitação para o fornecimento de veículos blindados 4×4 LMV “Lince” para o o que se espera progressiva produção do veículo no Brasil. Além disso, recentemente, o Ministério da Defesa italiano vendeu (por consideração) 16 veículos “Lynx” operando atualmente no Exército Italiano para serem usados no controle territorial e nas atividades policiais.
O novo veículo Centauro II – evolução moderna do blindado Centauro I, que está em serviço nas unidades da Cavalaria do Exército Italiano, adquirida no final da década de 1980 e muito apreciada também por exércitos estrangeiros – representa um dos mais ambiciosos programas militares de defesa, o que permitirá ao Exército Italiano equipar-se com plataformas com níveis mais elevados de mobilidade, sobrevivência, bem como um alto índice de digitalização e proteção das tripulações. O fornecimento de veículos permitirá que as Forças Armadas respondam às necessidades operacionais e tenham veículos de última geração e com maior desempenho do que a primeira versão. Este é o resultado de uma sinergia de esforços entre a Defesa Italiana e o mundo da Indústria, que permitirá um veículo de alto desempenho capaz de operar em cenários operacionais modernos, para o cumprimento de missões para defender o segurança nacional e nas operações de apoio e manutenção da paz. Naturalmente, a Defesa Italiana está disponível para apoiar a criação de uma possível cooperação industrial, a médio / longo prazo, no que se refere ao Centauro 2, que está em homologação nas Forças Armadas italianas e, assim, tornando ainda mais frutíferas as excelentes relações com a Defesa Brasileira.
T&D -A Leonardo Helicopters é um dos líderes na produção de helicópteros de transporte e de ataque, sendo uma das principais empresas de transportes das Forças Armadas Italianas. Qual seria o potencial de cooperação com o Brasil neste sentido?
General Falsaperna – Sabe-se que a Divisão de Helicópteros da Leonardo oferece uma ampla gama de produtos, sendo a mais completa de todas para usos comerciais, de utilidade pública, segurança e defesa. Consequentemente, qualquer exigência do lado brasileiro no campo de helicópteros pode ser satisfeita.
Sendo mais específico, a Leonardo oferece um amplo espaço para cooperação militar, e um deles é certamente o novo helicóptero de ataque AW249 Mangusta 2, já em desenvolvimento para o Exército Italiano. O desenvolvimento conjunto deste helicóptero, além de uma redução óbvia nos custos não recorrentes, permitiria aumentar o número total de plataformas, permitindo que os custos de produção e suporte fossem distribuídos por um número maior de aeronaves.
Um programa conjunto também permitiria acordos entre as indústrias de defesa nacionais para garantir um retorno industrial adequado e transferência de tecnologia para o Brasil, semelhante ao que aconteceu com programas conjuntos anteriores bem-sucedidos, como o AMX. Essa colaboração já foi iniciada recentemente pelo Leonardo com a contraparte industrial polonesa Polska Grupa Zbrojeniowa S.A.
T&D -Existem informações de que uma fragata FREMM atualmente em fabricação pelo estaleiro Fincantieri poderia ser oferecida ao Brasil. O Sr. teria mais detalhes sobre esta oportunidade?
General Falsaperna – No âmbito do Comitê Bilateral do Nível dos Diretores de Armamentos Navais e das inúmeras reuniões entre o pessoal das duas Marinas, a Marinha do Brasil expressou grande interesse no programa FREMM e solicitou informações sobre essas unidades navais, mas a aquisição desse tipo de navio até agora não foi formalizado e não há sinais de que está prestes a fazê-lo. Portanto, a Fincantieri não fez ofertas para esse tipo de Unidade.