A história do 12º BIL de MONTANHA que comemora seu centenário em Belo Horizonte

12º Batalhão de Infantaria Leve de Montanha (12º BIL Mth), o “Batalhão Lomas Valentinas“, o “Treme-Terra“, o “Batalhão da Colina do Barro Preto“, o “Batalhão do Mastro Crivado de Balas“, o “Doze” ou qualquer outra denominação que se pode dar a um dos pilares do Exército Brasileiro em toda a Minas Gerais, comemorou seu centenário em terras mineiras no 11 de dezembro de 2019 e nós da Tecnologia & Defesa tentaremos contar sua bela e importante história de Dever, Lealdade e Sacrifício.

 Por Paulo Roberto Bastos Jr., Roberto Caiafa e Vandeir Alves dos Santos

A história do 12º BIL Mth se confunde com a própria história de Belo Horizonte, pois ele é o principal Braço Forte e Mão Amiga do EB na capital dos mineiros. Por isso, nada mais justo que as comemorações do centenário de seu aquartelamento em terras mineiras fossem marcadas por uma série de eventos.

Foto do 12º RI em 1938 (Foto 12º BIL Mth)

O primeiro deles foi um Radical Trekking, realizado no Campo de Instrução Treme-Terra (CITT), que é utilizado pelo 12º BIL em seus treinamentos, no dia primeiro; uma cerimônia eucarística na Basílica de Nossa Senhora da Piedade, onde são realizadas os treinamentos de Montanha, no dia oito de dezembro; inauguração de bustos de ex-integrantes ilustres e heróis do Batalhão (que será destacado em uma próxima matéria), inauguração do quadros “Batalha de Lomas Valentinas”, da artista plástica Thayná Carneiro, lançamento das cachaças “Água da Montanha” e “Doze de Ouro”, Première do Documentário “12, Batalhão que tem alma“, o baile comemorativo e diversos outros eventos.

Todavia, a mais importante de todas foi a solenidade militar do centenário, que contou com uma belíssima e justa homenagem ao General de Brigada Ramon MARÇAL da Silva,  que assentou praça no antigo 12º BI em 1981, saindo em 1983, quando passou no concurso para a AMAN, retornando em 1986 como Aspirante a Oficial, onde ficou por mais dois anos e chegou a comandar dois de seus irmãos que eram praças, retornando de forma triunfante em  2007, já como Coronel, para comandar o “Doze de Ouro” (outra de suas denominações dadas pelo seus militares) e que comandou a missão da instalação da Cruz do Calvário, no Alto da Serra da Piedade. Por tudo isso, o General MARÇAL, que irá para a reserva no dia 08 do próximo mês, é conhecido pelo título de o “Eterno Comandante”, por isso, sua ultima formatura com tropa não poderia ser em outro lugar.

Após todas as honrarias prestadas e de discursos emocionados, seguiu-se a tradicional parada militar, iniciada pelos Veteranos da Unidade, comandados pelo General de Exército R1 Rômulo BINI Pereira, seguida pelo tradicional desfile militar de suas tropas e encerrando com um desfile de suas viaturas.

 

A história do “DOZE DE OURO”

O 12º BIL Mth é uma das Organizações Militares mais tradicionais e operacionais do Exército Brasileiro, tendo contribuído no passado e atuado no presente em momentos marcantes da história do Brasil, de Minas Gerais e de Belo Horizonte.

Suas raízes, pesquisada por historiadores da unidade, encontram-se no Corpo da Guarnição Fixa da Bahia, criado em 19 de abril de 1851, e, na ocasião, sob a denominação de 16º Batalhão de Caçadores (16º BC) lutou na Guerra do Paraguai, comandado pelo Tenente-Coronel Antônio Tibúrcio Ferreira de Souza, onde integrou a 3ª Divisão de Infantaria,  a famosa “Brigada Encouraçada” do Brigadeiro Sampaio, nosso patrono da Infantaria, sobre a alcunha de “Treme-Terra”, e que  se destacou na terrível Batalha de Lomas Valentinas, também conhecida como Batalha de Ita Ybate, que ocorreu entre 21 e 27 de dezembro de 1868. Nela, apesar de seu contingente sofrer cerca de 80% de baixas, o 16º BC cumpriu sua missão. Como reconhecimento por sua bravura, em 7 de maio de 1982, o então 12º Batalhão de Infantaria (12º BI) foi distinguido com a denominação histórica de “Batalhão Lomas Valentinas”.

Em 11 de dezembro 1919, pela fusão dos 58º e 59º Batalhões de Caçadores, localizados na época, respectivamente, nas cidades de Niterói-RJ e Salvador-BA, ambos derivados do 16º BC, recebeu nova denominação e sede, constituindo-se no 12º Regimento de Infantaria (12º RI), instalando-se em Belo Horizonte, capital das Alterosas, na Colina do Barro Preto.

Participou das campanhas internas de nosso País nas décadas de 1920 e 1930, destacando a “Revolução de 1930”, quando escreveu uma página heroica do Exército Brasileiro, ao resistir durante dias a um cerco e a várias tentativas de conquista do terreno, sede do aquartelamento, por tropas da Força Pública do estado de Minas Gerais.

O 12º RI combateu por seis dias com apenas 15 oficiais e 385 praças, os “400 do Doze de Ouro”, pois a maioria de seus militares foi emboscada de forma covarde em suas residências, liderados pelo Capitão José Justiniano Freire e pelo Tenente Ruy de Brito Melo, que com o sacrifício da vida, escreveu as páginas heroicas da unidade.

Por ocasião da 2ª Guerra Mundial, enviou um contingente de mais de mil militares para integrar o 11º Regimento de Infantaria, uma dos três Regimentos de Infantaria que compunham a 1º DIE da FEB, nos combates europeus, a fim de defender os ideais de liberdade nos campos da Itália. Participou de combates históricos nas regiões montanhosas dos Apeninos italianos, com destaque para os atos heroicos dos 3º Sargentos Mathias Júnior e Clério Bôrtolo, esse último condecorado postumamente, e ao soldado Geraldo Rodrigues de Souza, um dos três soldados que lutaram até a morte quando, durante uma missão de reconhecimento, se depararam com uma companhia alemã, e que por sua bravura foram enterrados em covas rasas pelos inimigos, com três cruzes com os dizeres “Três Heróis Brasileiros”. Esse fato foi tema da canção “Smoking Snakes”, da banda sueca de heavy metal Sabaton.

Na década de 1950, forneceu o “Contingente Mineiro” para o Batalhão Suez, na Missão de Paz da Organização das Nações Unidas no Egito, onde ocupou a faixa de Gaza, entre Israel e Egito, contribuindo para a manutenção da paz entre aquelas nações.

Nas décadas de 1960 e 1970 contribuiu para pacificar grupos de extremismo ideológico que buscavam a subversão da paz, da lei e da ordem e, em 7 de novembro de 1973, passou a denominar-se 12º Batalhão de Infantaria (12º BI), pelo desmembramento de seus 2 (dois) batalhões orgânicos, permanecendo o primeiro batalhão em sua sede em Belo Horizonte-MG e o segundo transferido para a cidade de Montes Claros-MG, recebendo a designação de 55º Batalhão de Infantaria (55º BI).

Em 1996, integrou o Batalhão Brasileiro que atuou na Missão de Paz em Angola, no continente Africano, como parte da Força de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU) naquele país, atuando mais uma vez de forma profissional e contribuindo para a pacificação daqueles povos.

Nos Anos de 2008, 2010 e 2012, participou com três contingentes da Missão de Manutenção da Paz no Haiti, mais uma vez sob a égide da ONU, onde o Exército Brasileiro e o Brasil puderam mostrar ao mundo a capacidade e o profissionalismo do soldado brasileiro. A missão no Haiti foi alvo de inúmeros elogios internacionais e serviu de modelo de missão de paz.

Participou ativamente da garantia da lei e da ordem no País, realizando a segurança na cidade de Belo Horizonte, durante a paralisação dos Órgãos de Segurança Pública, nos anos de 1997 e de 2004. O Doze de Ouro integrou também as Forças de Pacificação que atuaram nos Complexos da Penha e Alemão, em 2011, e na Maré, em 2014, no Rio de Janeiro. Participou, ainda, da segurança da Copa das Confederações, em 2013, da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em 2016, bem como integrou a Força de Intervenção Federal no estado do Rio de Janeiro, em 2018.

O Batalhão também contribuiu e contribui com ações cívico-sociais e de apoio à defesa civil. Em 2015, auxiliou no socorro às vítimas e na distribuição de alimentos à população atingida pelo desastre ambiental ocasionado pelo rompimento de uma barragem de rejeitos de uma mineradora no município de Mariana-MG e, em 2019, apoiou logisticamente as Forças de Defesa de Israel nas operações de busca e salvamento às vítimas do rompimento da barragem de Brumadinho-MG.

No dia 12 de abril de 2019, a unidade passou a denominar-se 12º Batalhão de Infantaria Leve de Montanha (12º BIL Mth) e teve sua subordinação revertida à 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha (4ª Bda Inf L Mth), localizada em Juiz de Fora-MG, e comandada pelo General de Brigada ALCIO Alves Almeida e COSTA, outro ex-comandante do batalhão. Este fato foi marcante, pois foi a oficialização e o reconhecimento a uma unidade que já era de MONTANHA há cerca de 40 anos.

Em 1988, integrantes da 1ª Cia Fuz conduziram a Cruz do Calvário ao alto da Serra da Piedade (foto 12º BIL Mth)

A organização atual

O 12º BIL Mth é um dos três batalhões da 4ª Bda Inf L Mth especializados em combates em ambientes de montanha. Atualmente é comandado pelo Coronel Rui MARTINS da MOTA e sua tropa operacional, chamada de “Força Treme-Terra” (FTT), é uma força modular de emprego com estruturação básica de três Companhias Fuzileiros Leves de Montanha (Cia Fuz L Mth), um Pelotão de Reconhecimento e Guia (Pel Rec) e a Base Operacional de Apoio (BOpAp), que é a fração responsável para prestar o apoio logístico e apoio ao combate às Companhias de Fuzileiros Leves de Montanha.

Todos os militares do Batalhão são Escaladores Militares, ou seja, possuidores do Estágio Básico do Combatente de Montanha (EBCM), mas é necessários níveis mais avançados de especialização em Operações em Ambiente de Montanha, são, em sequência crescente os possuidores do Exercício de Adestramento do Combatente de Montanha (EACM), do Curso Básico de Montanha (CBM), chamados de Guias de Cordada, e os possuidores do Curso Avançado de Montanhismo (CAM), que são os Guias de Montanha, sendo que este ultimo, via de regra, todos os oficiais comandantes o possuem.

O quartel nos dias atuais (Foto 12º BIL Mth)

Porém as algumas subunidades tem “vocações” que aumentam sua versatilidade e como podem ser empregadas, assim o Batalhão esta dividido da seguinte forma:

  • 1ª Companhia de Fuzileiros Leves de Montanha (1ª Cia Fuz L Mth), conhecida como a “INTRÉPIDA”, especializada em combate de montanha;
  • 2ª Companhia de Fuzileiros Leves de Montanha (2ª Cia Fuz L Mth), a “IMPOLUTA”, especializada em combate urbano;
  • 3ª Companhia de Fuzileiros Leves de Montanha (3ª Cia Fuz L Mth), a “INVICTA”, especializada em combate e operações de Garantias da Lei e da Ordem (GLO);
  • Pelotão de Reconhecimento e Guia (Pel Rec), composto por militares especializados (Guias de Montanha, Guia de Cordada e possuidores do EACM. É responsável por reconhecer e preparar a infiltração do Batalhão, particularmente em Ambiente de Montanha, mobilizando as rotas e paredões e guiando as frações do Batalhão a fim de permitir a infiltração da Unidade para realizar um ataque de surpresa às posições inimigas;
  • Companhia de Comando e Apoio (Cia C Ap), a “TEUTÔNICA”, responsável por toda parte comando e de apoio logístico;

O Batalhão recebeu recentemente um lote de fuzis de precisão 7,62 mm IMBEL AGLC e estará recebendo no próximo mês os fuzis 5,56 mm IMBEL IA-2, que substituirão os Para-FAL e MD-1.

No campo profissional militar, o Batalhão desenvolve, desde 1981, capacidades para combater em terreno montanhoso, preparando, anualmente, militares do Exército Brasileiro, da Força Aérea Brasileira e de integrantes de diversos Órgãos de Segurança Pública municipais, estaduais e federais, tornando-os aptos a atuarem no referido ambiente inóspito.

Documentário “12, Batalhão que tem alma

 

Por todos os seus feitos, o Doze de Ouro consagra-se como a “Sentinela das Montanhas Alterosas“, constituindo-se em verdadeiro patrimônio histórico e cultural de Belo Horizonte, de Minas Gerais e do Brasil.

Para frente e para o alto, MONTANHA!

 

AGRADECIMENTOS


Os autores e a Revista Tecnologia & Defesa agradecem ao Coronel Rui MARTINS da MOTA, Comandante do 12° BIL Mth, ao 2º Sargento Juliano HENRIQUE da Silveira, Adjunto de Comunicação Social, por toda a atenção e auxilio a pesquisa, repassando informações valiosas sobre a história dessa mítica unidade;
Ao Sd Vitor, pela disponibilização da fotografias;
E a todos os militares e veteranos que preservam e cultuam sua história.

 

Fotos, quando não creditadas, de Vandeir Alves dos Santos 

 

Veja também Museu histórico militar do 12º BIL Mth, um rico acervo pouco conhecido em BH

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Comentários

6 respostas

  1. A minha história pessoal se confunde com meu “Doze de Ouro”. Em minha família temos 3 gerações que tiveram a honra de pertencer a esse Batalhão.
    Meu Avó (materno) Walter Othon LAINERT 1941
    Meu pai Jose Lázaro de SOUSA 1974 (CCS -Cia de Comando e Serviços)
    e eu Márcio LAINERT de Sousa 1998 (3ª Cia FZOS)
    DOZE DE OURO a qualquer hora e lugar precisando é só acionar o plano de chama que estarei lá pra cumprir qualquer missão !

    1. São mensagens assim que me incentivam a contar a história das míticas unidades do EB.
      O DOZE é uma daquelas unidades com uma história riquíssima, mas que poucos conhecem.

  2. Senhores,
    Existe algum modo de contatar a turma de 1966 do antigo 12 RI?
    Tem algum site onde a referida turma pode ser consultada?
    Refiro-me ao ano de incorporação de 1966 e à 5a. Companhia.

  3. GRANDES GUERREIROS
    NAVEGO NO INFINITOS PERIFÉRICOS DAS GRANDES MSGS.

    A “MISSÃO A GARCIA” É UMA DELAS.

    LEMBREM-SE DE CRIAR E DAR ESPAÇOS PARA CONQUISTAS DE NOVOS VALORES…

    LEMBREM-SE DE EVOLUIR SEMPRE POIS A GRANDE MISSÃO DO CRIADOR FELIZMENTE CONTINUA…

    12 DE OURO
    INFANTARIA
    BATALHÃO LOMAS VALENTINAS
    BATALHÃO TREME TERRA
    MONTANNHA

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