A Família de Fuzis/Carabinas Imbel IA2, por Ronaldo Olive

Por Ronaldo Olive

A criação oficial do conglomerado estatal IMBEL, Indústria de Materiais Bélico do Brasil, em 14 de julho de 1975, assinalou uma nova e importante etapa na história da Fábrica de Itajubá, do Exército Brasileiro, no estado de Minas Gerais.

Essa instalação industrial foi criada em 1934 sob o curioso nome de Fábrica de Canos e Sabres para Armamento Portátil, embora o mais lembrado seja a fabricação por longo tempo de fuzis de ação Mauser 7×57 mm M1908/34.

Outro passo importante foi dado em meados da década de 1960, quando da assinatura de um acordo com a belga Fabrique Nationale dArmes de Guerre em prol da fabricação autorizada do fuzil FAL de 7,62×51 mm; o programa começou em agosto de 1964.

Em 1973, a nacionalização total dos modelos M964 (coronha fixa) e M964A1 (coronha dobrável) havia sido alcançada, tendo sido ambos amplamente adotados pelo Exército e pela Marinha do Brasil, além de terem sido recebidos alguns pedidos de exportação para países como Austrália, Botswana, Chile, Equador, Índia, Indonésia, Nova Zelândia, Peru, África do Sul, Uruguai e Venezuela.

Um número substancial de fuzis FAL semiautomáticos e PARA-FAL padrão sistema métrico, produzidos no Brasil foram vendidos no mercado dos EUA de 1985 a 1990, por meio da Springfield Armory, sob os nomes comerciais de SAR-48, SAR-4800 Sporter (cano de 21 polegadas) e SAR-4800 Bush (cano de 18 polegadas).

A adoção oficial da munição 5.56x45mm pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 1980, levou muitos países à criação de novos fuzis desse calibre. Isso também despertou ideias no pessoal do escritório de pesquisas da Fábrica de Itajubá, situada no agradável clima das montanhas do estado de Minas Gerais.

Em meados de 1983, um protótipo designado como Fz 5.56 IMBEL MD1 foi produzido e submetido a testes internos.

Este autor teve a oportunidade de atirar com aquela arma de regime de tiro seletivo, ainda na fábrica, e relembra as características gerais positivas exibidas.

Embora empregando, como esperado, vários componentes do FAL (mecanismo de disparo, coronha rígida e punho, por exemplo), ele incorporou uma mudança significativa ao empregar um ferrolho rotativo multi-lug em vez do sistema de trancamento do ferrolho do 7,62 mm.

Funcional, mas muito pesado, o MD1 (também conhecido como M989) ainda usava um carregador de 20 tiros. Para todos os efeitos, era um  FAL  no calibre 5.56x45mm.

Embora o desempenho geral desse protótipo fosse aceitável e houvesse a expectativa de que o rifle, no futuro viesse a apresentar melhorias simples como a redução no peso de 4 kg, por exemplo, alguém “lá de cima” decidiu que não seria.

A subsequente investida da empresa para criação de um fuzil nacional de calibre 5.56x45mm foi direta, mas longe de ser bem-sucedida.

Para economizar tempo e custos de produção, optou-se por adicionar ao FAL as modificações mecânicas necessárias para permitir que ele disparasse munição mais leve, o que incluía a manutenção do sistema original de trancamento da culatra.

Ainda sob a designação de Fz 5.56 IMBEL MD1, o produto ficou pronto em 1989 e funcionou satisfatoriamente, chegando a ser certificado (mas não adotado) pelo Exército Brasileiro como o M989.

Mas o peso do fuzil carregado, com o bipé dobrável adicionado, superou a marca dos 5 quilos o que acabou matando a ideia.

Em 1991, os modelos MD2/MD2A1 (coronha rebatível, habilitados somente para tiro semiautomático) foram certificados para produção e venda, com pequenos lotes de avaliação chegando a algumas unidades do Exército brasileiro e alguns órgãos policiais, inclusive do Rio de Janeiro, onde o fuzil acabou sendo adotado.

Autor do artigo atirando com o único protótipo do  Fz 5.56 IMBEL MD1, na Fábrica de Itajubá em meados de 1983. O modelo usava um carregador de 20 tiros e várias peças do FAL. A inserção mostra a luva de aço perfurada em torno de parte do cano de 464 mm.

Uma grande mudança incorporada foi o uso de carregadores compatíveis com o STANAG, mas com uma unidade completa de 30 unidades, o fuzil ainda pesava um pouco abaixo de 5 kg.

Mais tarde, o empreendimento dos fuzis de 5.56x45mm começou a ter novas perspectivas com a introdução do seletor de tiro MD97L seletiva de fogo (com uma rampa de três furos) e a carabina MD97LC de cano curto e semi-automática, que encontrou aceitação razoável com um número de agências policiais em todo o país.

As principais melhorias do projeto foram o uso de um ferrolho rotativo que tranca de forma direta em uma extensão do cano; isso permitiu o uso de materiais de liga leve na parte inferior da caixa da culatra, o que resultou em um peso vazio mais razoável de 3,3 kg.

A fabricação em série começou em 2004.

Nesse ínterim, o escritório de projetos da fábrica de Itajubá, então sob a liderança entusiasta do Capitão Paulo Augusto CAPETTI, fazia experimentos com vários modelos que foram denominados FIL-97 (FUZIL IMBEL LEVE) e FILC -97 (FUZIL IMBEL LEVE CURTO) com o único propósito de transformar algumas ideias inovadoras em protótipos-conceito, em busca da criação de uma nova família de armas.
Uma versão em desenvolvimento do fuzil IA2 com seletor de tiro, exibindo uma série de novos recursos, tais como uma estrutura do tipo alça de transporte com alça de mira interna e mira MOA AIMPOINT COMP M2 4 no trilho Picattinny, alça de transporte dobrável, coronha telescópica e quebra-chamas tipo entalhado.

Dando prosseguimento a um projeto de transição feito somente no papel informalmente chamado de Alpha One (A1) – uma versão de MD97 com algumas mudanças internas (percussor acionado por mola, culatra M4, controle de rajada de 3 tiros, etc.) – um design amplamente melhorado surgiu, provisoriamente chamado de Alpha Two (A2).

Essa designação informal acabou dando origem ao que viria a ser mais tarde, o Fuzil de Assalto 5,56 IMBEL A2 (Fz Ass 5,56 IA2).

Desmontagem de campanha do Fuzil de Assalto 7.62 IA2. Em vez da tampa da caixa da culatra de liga leve do modelo 5.56x45mm, o modelo mais pesado é usinado em aço AISI 1060.

As primeiras notícias e imagens não oficiais da arma surgiram em meados de 2010 e, em 2011, na LAAD Defesa e Segurança no Rio de Janeiro, foram exibidas com uma aparência mais formal. Por volta de 2012, a produção para valer começou gradualmente na Fábrica de Itajubá e algumas unidades do modelo com seletor de tiro foram entregues a diferentes unidades do Exército para avaliação.

Ao mesmo tempo, demonstrações com a versão semi-automática da carabina eram realizadas em todo o país para forças policiais civis e militares e os pedidos de compra logo começaram a chegar.

Um marco significativo para o programa ocorreu em 23 de outubro de 2014, quando o Exército Brasileiro anunciou a adoção oficial do IA2 como substituto inicial dos FAL M964 e M964A1 7,62 mm, os quais poderão vir a serem totalmente substituídos.

Desde então, as entregas para outras unidades (aerotransportadas, por exemplo,) foram gradualmente ocorrendo, além de fornecimentos da carabina semiautomática IA2 (CAR 5.56 IA2), para Secretarias de Segurança em todo o país.

A carabina semi-automática MD97LC de ferrolho rotativo foi fornecida a várias Secretarias de Segurança e, atualmente, continua em uso limitado. Observe os dois trilhos Picatinny curtos sobre a tampa da caixa da culatra.

Como normalmente acontece na vida útil de qualquer arma, a fabricante oferece pequenas melhorias em termos de design e acessórios.

Para o IA2, atualmente, foi adotado como padrão um punho tático de polímero opcional alinhado com a extremidade dianteira do compartimento do carregador. Presentemente é oferecida também uma opção de coronha dobrável, com seis ajustes de comprimento.

A IMBEL também está testando várias outras inovações nas armas, incluindo uma alça de transporte elevada a ser acrescentada ao trilho Picatinny superior. Isto inclui uma alça de mira interna a ser usada em conjunto com uma massa de mira elevada.

Os dois modelos em avaliação da Marinha do Brasil, cano de passo 1:7 e comprimentos do cano de 538mm e 347mm, incluindo o quebra-chamas. Ambos têm coronha dobrável/ajustável e recurso de drenagem de água.

Outros detalhes que também estão sendo estudados incluem uma alça de transporte dobrável, uma coronha telescópica e um quebra-chamas redesenhado.

As variações, que agora estão sob avaliação, as quais foram oferecidas em resposta a alguns requisitos específicos da Marinha do Brasil, são dignas de nota.

O fuzil básico recebeu um cano com passo de 1:7 polegadas (6 raias, sentido horário) em substituição do IA2 5,56 mm original que tinha cano com passo de 1:10 polegadas (mesma raiadura), enquanto a coronha é do tipo dobrável e ajustável , o que reduz um pouco o comprimento da arma nas configurações estendida e rebatida.

Mostras de Fuzis IA6 5.56x45mm dos primeiros lotes de produção fornecidos ao Exército Brasileir, sendo usados por tropas da Brigada de Infantaria Paraquedista no desfile militar, no Rio de Janeiro em 7 de setembro de 2017.

Pequeno em tamanho, mas importante no uso em combate, é uma alça de mira chanfrada em forma de disco com aumento de 100 metros no alcance de 100 a 600 metros.

Um modelo com cano mais longo (538 mm, com quebra-chamas) com o mesmo passo de 1: 7 polegadas, com encaixe para baioneta compatível com os dois modelos de faca baioneta da IMBEL também está na lista de desejos da Marinha.

Um item interessante que pode estar disponível em breve no Fuzil IA6 5.56×45 mm é um kit de conversão rápida que permite que a arma dispare munição .22′ LR – um recurso econômico e útil para treinamento.

O conjunto do transportador ferrolho do IA2 5.56x45mm original com sua unidade de mola recuperadora correspondente é visto acima do kit de peça única .22LR que transforma o fuzil em uma arma operada por blowback. O contorno da extremidade dianteira é moldada para se ajustar à câmara do cano original.

A coisa toda é bem simples: abra a arma, remova a tampa da caixa da culatra, retire o parafuso e recue os conjuntos de molas, insira o conjunto do kit, feche a arma novamente, use o carregador do tipo STANAG fornecido (com capacidade ainda a ser definida), e pronto!

Você agora terá, é claro, um fuzil operado por blow-back em suas mãos, mas que mantém a capacidade de seleção de regime de tiro.

Autor disparando um rifle IA2 5.56x45mm modificado para .22LR na linha de tiro da Fábrica de Itajubá. Observe a imagem borrada do pequeno cartucho ejetado, na parte traseira.

Evidentemente, as munições mais leves destinam-se a ser usadas principalmente apenas nas fases introdutórias do treinamento com fuzil, para que os novatos possam aprender os fundamentos básicos do manuseio de armas, procedimentos gerais de segurança, uso do aparelho de pontaria e, claro, atirar em escala reduzida em linhas de tiro situadas em áreas internas.

Além disso, atirar com a munição frágil com um fuzil de mais de 3 kg parecerá sempre (e soará!) como se você estivesse atirando com um fuzil de ar comprimido.

Um IA2 na posição aberta (desmontagem de campanha) pronto para receber o kit .22LR. O carregador, bem parecido com o STANAG 30 tiros, tem uma inserção de menor capacidade (ainda indefinida) para as munições mais leves; o carregador branco mostrado na foto é um exemplar para testes de oficina.

Em um estágio posterior, no entanto, os novatos receberão a arma real para treinar e se adaptar a coisas como recuo, estampido, flash, temperatura da arma, etc.

Num país como o Brasil, onde os orçamentos de defesa são extremamente apertados, essa pode ser uma solução inteligente.

A versão de calibre 7,62 mm foi idealizada desde o início do programa IA2.

Em 2010, fotografias dos protótipos iniciais estavam disponíveis, deixando evidente, em sua aparência externa, uma relação familiar com o modelo de 5,56 mm.

Internamente, no entanto, a arma de maior calibre era praticamente um FAL, o que incluía o sistema de trancamento da culatra e pequenas melhorias no sistema de gases e em outras peças, como resultado da experiência de projeto e produção.

Oficiais da FNSP do Brasil – Força Nacional de Segurança Pública – em um exercício com carabinas IA2 semiauto.

Afinal, a IMBEL é uma fabricante de FAL desde meados da década de 1960.

Vale ressaltar que a ênfase de desenvolvimento foi colocada na versão de 5,56x45mm desde as primeiras fases da agenda; a versão 7.62x51mm progrediu em paralelo, mas em uma cadência mais lenta.

Vários protótipos surgiram a partir de 2010 e algumas mudanças de configuração foram incorporadas. Em 2017 as configurações finais de um fuzil com seletor de tiro (Fz Ass 7,62 IMBEL IA2) e de uma carabina de cano curto e semiautomática (Ca 7,62 IMBEL IA2) foram definidas.

A conclusão bem sucedida dos Programas de Certificação do Exército Brasileiro permitirá à IMBEL lançar lotes piloto e fazer promoções de venda.

A arma mostrada na parte superior da figura acima é uma carabina semiautomática IA2, na cor preta, para uso policial, equipada com a nova coronha dobrável e ajustável em comprimento (opcional). Na parte inferior da figura é mostrado o modelo na cor verde, com seletor de tiro, do Exército Brasileiro. Observe o punho tático nivelado com o alojamento do carregador.

O programa das carabinas parece ter maior prioridade neste momento para atender às crescentes demandas das forças de segurança pública por uma arma compacta de 7,62 mm, em substituição aos bastante utilizados FAL e PARA-FAL ainda em uso.

Embora fuzis deste calibre em serviço policial possam parecer exagerados para alguns, quando se vê o armamento comumente encontrado em mãos criminosas no Brasil, a opção se torna totalmente justificável.

Quanto ao Exército Brasileiro, já claramente comprometido em usar o Fz Ass 5,56 IA2 como o rifle padrão, os “sete meia dois” ainda têm lugar para tropas que operam em ambientes ou condições táticas gerais que exigem fogo mais pesado.

Em suma, a Indústria de Material Bélico do Brasil, com orçamentos limitados em meio a frequentes crises econômicas nacionais, mostrou considerável perseverança para alcançar o status atual de seu programa de longo prazo de desenvolvimento e produção de fuzis.

Esses dois primeiros protótipos IA2 de 7.62x51mm mostram algumas claras semelhanças externas com a versão 5.56x45mm. A arma em primeiro plano usa a conhecida coronha dobrável do PARAFAL e o freio de boca, enquanto o outro rifle é equipado com a primeira coronha dobrável de polímero testada e um quebra chamas mais curto.
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
Fz Ass e Ca 5,56 IA2
Calibre 5,56x45mm
Comprimento do cano 350 mm (6 raias à direita, passo 1:10)
Comprimento total/ coronha rebatida 850/600 mm
Peso sem carregador 3,4 Kg
Fz Ass e Ca 7,62  IA2
Calibre 7,62x51mm
Comprimento do cano 390/265mm (4 raias à direita)
Comprimento total/ coronha rebatida 920/800mm,670/550mm
Peso (sem carregador) 4/3,8 Kg

 

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