O governo do presidente Michel Temer aproveitará o Sete de Setembro para marcar um novo período nas relações do Palácio do Planalto com as Forças Armadas.
A ideia é mostrar que acabou a temporada em que investimentos na área militar ficavam em segundo plano na hora de distribuir os recursos orçamentários. A partir do ano que vem, o primeiro do orçamento feito pelo governo Temer, os valores destinados globalmente a todas as despesas do setor subirão de R$ 82 bilhões para R$ 93 bilhões, conforme inscrito no projeto de lei orçamentária para 2017 enviado na semana passada ao Congresso Nacional.
“A Defesa teve seu orçamento muito comprimido de 2013 para cá. O que faremos é dar alguma descompressão que permita a continuidade dos projetos”, comentou o ministro da Defesa, Raul Jungmann.
Quando do ajuste fiscal do governo Dilma, em janeiro deste ano, os valores destinados aos projetos estratégicos da Defesa tiveram um queda de 46%. Isso sem contar a redução entre o que era previsto e o que acabava efetivamente liberado. No caso da Marinha do Brasil, por exemplo, a implantação do estaleiro e da base naval para construção e manutenção de submarinos convencionais e nucleares, que chegou a ter um orçamento previsto de R$ 1,5 bilhão em 2014, ano eleitoral, caiu para R$ 351 milhões em 2015. Agora esse valor será de R$ 614 milhões, além de R$ 364,5 para a construção do submarino de propulsão nuclear e R$ 1 bilhão para a construção de submarinos convencionais.
Das três Forças, entretanto, a que obteve maior acréscimo em seu orçamento global para 2017 foi o Exército Brasileiro. Os valores subiram de R$ 34 bilhões neste ano para R$ 40 bilhões. O da Marinha subiu de R$ 20,6 bilhões para R$ 24,6 bilhões. O orçamento da Aeronáutica subiu de R$ 18,9 bilhões para R$ 20,7 bilhões. Esses valores incluem todas as despesas, inclusive pessoal ativo e inativo. No caso do Exército, entre as prioridades em termos de investimentos está o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), com R$ 340 milhões e a aquisição de blindados, o projeto Guarani, com R$ 332 milhões.
Para a Aeronáutica, o destaque vai para os caças Gripen NG (R$ 1,5 bilhão) e pagamentos correspondentes ao programa KC-390, desenvolvido pela Embraer, que ainda precisa de certificação para ser comercializado. A proposta do governo para o ano que vem é investir mais R$ 200 milhões no projeto, além de R$ 552 milhões para o desenvolvimento do KC-X, modelo baseado no comercial Boeing 767-300ER destinado às operações de transporte estratégico e reabastecimento aéreo.
Um foco a menos
Diante dos problemas na política e na economia que prometem lotar a agenda do presidente Michel Temer quando voltar da China, a intenção do governo em retomar todos os projetos militares é jogar em duas frentes.
Ao mesmo tempo em que esses programas estratégicos geram empregos, ajudam também a eliminar qualquer foco de tensão na caserna. Em conversas reservadas, os militares não escondem as dificuldades de relacionamento na era Dilma.
No período pré-impeachment, nos momentos mais tensos, os militares chegaram a ser ouvidos para ver se poderia haver alguma interferência de um lado e de outro. O fato, entretanto, é que não moveram uma palha ao longo do processo de impeachment, nem para evitar, tampouco para acelerar.
O assunto foi tratado como uma questão civil, interna, portanto, deveria ser resolvida pelas autoridades competentes. O que os militares desejam é que o país retome sua capacidade de investimentos para que as Forças Armadas também possam cumprir bem o seu papel.
Ivan Plavetz
Fonte: Jornal Estado de Minas