Durante sessão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, em 9 de setembro de 2025, o Exército Brasileiro (EB) anunciou a intenção de adquirir entre 10 e 12 helicópteros Helibras H145, caso sejam aprovados novos recursos para as Forças Armadas, especialmente por meio do orçamento mínimo, que garante a previsibilidade dos investimentos na Defesa.
Segundo a apresentação feita pelo general de divisão Everton Pacheco da Silva, chefe do Escritório de Projetos do Exército (EPEx), os dois primeiros H145 seriam entregues em 2028, seguidos por quatro em 2029, quatro em 2030 e dois em 2031.
A notícia causou surpresa, já que a Aviação do Exército (AvEx) que será a operadora das aeronaves caso o projeto avance, não previa em seus planos de modernização e aquisição um novo helicóptero de manobra, além dos 12 Sikorsky UH-60M Black Hawk atualmente em produção, com entregas previstas a partir de 2026.
Como parte do Programa Estratégico do Exército – Aviação, que busca garantir o fluxo de recursos para os projetos de modernização e aquisição, a AvEx está inserida em um conjunto de seis programas principais.
De acordo com o site do EPEx, eles são:
- Capacidade de Manobra, que abrange a compra já realizada dos novos Black Hawk;
- Sistema de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP) de categoria 3, voltado para missões de inteligência, vigilância, reconhecimento, designação de alvos e ataque (a AvEx já opera um SARP de categoria 2);
- Sistema de Armamento Axial e Imageamento para Helicóptero (SiAAIH), aplicável aos modelos Fennec e Pantera, incluindo mísseis guiados, sensores de aquisição de alvos e capacetes com mira montada;
- Capacidade de Ataque, que prevê a aquisição de novos helicópteros de ataque a partir de 2031; e
- Capacidade de Transporte Logístico, com a compra de uma aeronave de asa fixa.
Além disso, há três Ações Complementares, que contemplam:
- a Modernização dos Helicópteros Fennec e Pantera (já concluída);
- o Comando e Controle; e
- e Infraestrutura.
Segundo a AvEx, “a possível aquisição da aeronave H145M está sendo tratada no âmbito do Ministério da Defesa, por meio de uma proposta de acordo “Gov to Gov” entre Brasil e França caso a iniciativa prospere. Assim, a AvEx não participou diretamente do processo de planejamento inicial e escolha de modelo.
A Aviação do Exército visualiza o emprego da nova aeronave em substituição aos HA-1A Fennec das OM operacionais (1º e 3º BAvEx), sendo destinada, portanto, a cumprir o papel de aeronave multimissão com capacidade de ataque leve.
A AvEx intenciona que o sistema de armas que equipará o helicóptero seja dotado de metralhadora, canhão 20mm, foguete guiado e míssil, além de Sistemas de Autoproteção de Guerra Eletrônica (APGE).”
Desde 2024, há um movimento para a aquisição do H145M em um pacote amplo que abrangeria as três Forças além de outros órgãos e ministérios federais.
De acordo com notícia da Agência Gov, publicada em 3 de julho de 2025, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o Ministério da Europa e dos Assuntos Exteriores da França (MEAEF) manifestaram a intenção de transformar a Helibras em um polo de produção e exportação do H145. Os países assinaram uma carta de intenções após reunião entre o ministro Geraldo Alckmin (MDIC) e o ministro Laurent Saint-Martin (MEAEF), em Brasília.
Segundo a notícia, está previsto o investimento de cerca de R$ 1 bilhão na produção do H145, com a fabricação de até 200 unidades ao longo dos próximos 15 anos, destinadas aos mercados nacional e internacional. Cada helicóptero tem valor de mercado estimado em US$ 15 milhões.
Já o jornal francês La Tribune, em 4 de novembro de 2025, destacou que a viagem presidencial à COP30 tem também como objetivo selar um acordo binacional para a produção do H145 em Itajubá (MG). Segundo o jornal, os países negociam há meses um pedido entre 50 e 100 unidades, operação que permitiria retomar a linha de produção da Helibras.
O La Tribune informou ainda que o Exército Brasileiro deve adquirir, em um primeiro momento, oito helicópteros, com metade das entregas previstas para 2028 e o restante em 2030. Além disso, os ministérios da Defesa, Justiça e Segurança Pública, e Meio Ambiente e Mudança do Clima manifestaram interesse conjunto em outros dez H145.
Recentemente, a Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou a compra de 11 helicópteros Sikorsky UH-60L Black Hawk, usados dos Estados Unidos e que serão modernizados, juntamente com outros 13 já em operação, para um padrão semelhante ao S-70M. Somados aos 12 novos H125, atualmente em recebimento e destinados à formação de novos pilotos de asas rotativas, substituindo os Esquilo adquiridos nos anos 1980, surge a dúvida: a FAB realmente possui demanda para uma nova plataforma dessa categoria?
Por outro lado, aproximadamente em 2010, a Marinha do Brasil (MB) deu início ao Projeto UHP (Helicóptero de Emprego Geral de Pequeno Porte), no qual concorriam modelos como o Bell 429, o Leonardo AW109 Power, o EC635 (atual H135) e o EC145 (atual H145). A Aviação Naval possui grande capilaridade em todo o território nacional e faz dos helicópteros a espinha dorsal de suas operações.
Independentemente da necessidade real de um novo vetor para as Forças Armadas e outros órgãos federais, fica o questionamento sobre os motivos que levaram à escolha do H145 como principal solução.
Outras alternativas possíveis seriam o Bell 429, o AW109 — que vem ganhando espaço no mercado brasileiro, sobretudo no segmento de segurança pública — e o AW169.
Sobre todos eles, publicaremos artigos específicos com suas características técnicas e operacionais.
A seguir, iniciamos pelo H145.
O H145
O H145 é um helicóptero multimissão, da categoria de quatro toneladas, bimotor, cujo primeiro voo ocorreu em 1999, entrando em serviço em 2002.
Desenvolvido a partir do bem-sucedido BK117, o H145 passou por diversas evoluções desde então — uma das mais significativas foi a incorporação do rotor de cauda do tipo fenestron, que carena as pás do rotor e aumenta a segurança no solo. A aeronave é equipada com dois motores Safran Arriel 2E, de 894 shp cada, certificados em dezembro de 2012, com entrada em serviço em agosto de 2014.


O cockpit conta com aviônica Helionix, composta por três telas digitais coloridas de 10,4 polegadas, piloto automático de quatro eixos e homologação para operação com um ou dois pilotos.
Os assentos utilizam tecnologia de absorção de impacto, enquanto o compartimento de cargas — de 6,03 m³ — se destaca pelo amplo vão livre e pelo acesso facilitado por meio de portas corrediças de 216 x 113 cm (laterais) e duas portas traseiras tipo concha de 140 x 99 cm. Internamente, o compartimento tem 3,44 m de comprimento e 1,57 m de largura máxima.
O modelo é versátil, podendo transportar até 10 soldados equipados, ou duas macas e dois profissionais de saúde, além de outras configurações possíveis.
Versões armadas e desempenho
A Airbus Helicopters oferece o sistema HForce, que transforma o H145 em uma plataforma apta para apoio de fogo, escolta e ataque leve. Os armamentos disponíveis incluem canhão de 20 mm, pods de metralhadora calibre 12,7 mm, sensores eletro-ópticos, mísseis ar-solo e ar-ar, além de foguetes guiados. Os pilotos têm acesso às informações táticas por meio de um capacete com visor integrado (Helmet-Mounted Sight & Display).
O H145 possui 11,69 m de comprimento, rotor principal de 10,8 m, altura de 3,98 m, largura de fuselagem de 2,72 m e distância do solo de 0,45 m. Seu peso vazio é de 1.792 kg, o peso máximo de decolagem (MTOW) é de 3.700 kg, e o peso máximo com carga externa chega a 3.800 kg, com capacidade de carga externa de 1.600 kg e útil interna de 1.905 kg.
O helicóptero atinge velocidade máxima de 129 nós (cerca de 240 km/h), alcance de 638 km, autonomia de 3h32 (ou 4h20 com tanque externo) e teto operacional de 20.000 pés.
