Rumo à Roraima – Como foi o maior deslocamento estratégico de blindados do Exército Brasileiro

O deslocamento estratégico da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada rumo à Roraima, uma manobra logística complexa e muito bem executada

Por Coronel Daniel Longhi Canéppele, chefe do Estado-Maior da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada

A Operação ATLAS, coordenada pelo Ministério da Defesa (MD), é o maior exercício militar conjunto das Forças Armadas Brasileiras de 2025 e que tem por foco a proteção da Amazônia, a defesa da soberania nacional, o aprimoramento da interoperabilidade entre Marinha do Brasil (MB), Exército Brasileiro (EB) e Força Aérea Brasileira (FAB) e o adestramento das tropas naquele complexo cenário nacional.

As duas primeiras fases já foram concluídas, a de planejamento estratégico conjunto realizada em Brasília (DF), e a do exercício de adestramento dos estados-maiores das brigadas participantes, por meio de simulação construtiva em Manaus (AM).

A terceira fase, ainda em andamento, contempla a execução de um deslocamento e concentração estratégica e posterior exercício de simulação viva, com o emprego de tropas de diversas naturezas, desdobradas no terreno, no estado de Roraima.

É neste contexto que a 5ª Brigada de Cavalaria Blindada (5ª Bda C Bld), a de maior poder de combate do EB e sediada em Ponta Grossa (PR), se insere e tem a desafiadora missão de deslocar seus pesados meios blindados da região sul até o extremo norte do Brasil. Ao todo, são aproximadamente 6.700 km de deslocamento perpassando os modais rodoviário e fluvial. Para se ter uma ideia da magnitude deste deslocamento, imagine uma viagem por estradas saindo de Lisboa (Portugal), cruzando Espanha, França, Bélgica, Alemanha, Polônia, Lituânia, Letônia e adentrando 3.000 km em território russo, passando por Moscou, até a cidade de Kurgan. Este é o tamanho desafio da 5ª Bda C Bld.

Para a execução do deslocamento estratégico da brigada, foram concebidas quatro etapas:

  • 1ª etapa: concentração de meios no 5º Batalhão Logístico Blindado (5º B Log Bld), em Curitiba (PR);
  • 2ª etapa: deslocamento rodoviário no trecho Curitiba (PR) / Belém (PA);
  • 3ª etapa: deslocamento fluvial no trecho Belém / Manaus; e
  • 4ª etapa: deslocamento rodoviário no trecho Manaus / Boa Vista (RR).


O comboio foi composto por sete conjuntos cavalo-mecânico e prancha; um cavalo mecânico; três viaturas escolta; uma viatura oficina; duas viaturas caminhões baús; duas viaturas cisternas de combustível; duas viaturas caminhão 5 toneladas; uma viatura pick-up e uma van. Estão sendo transportados em prancha quatro Leopard 1A5BR; um Leopard Socorro Bergpanzer; uma viatura blindada M577 e; uma viatura blindada M113. Foram incorporados, ainda, blindados do 4º Grupamento de Engenharia e algumas viaturas sobre rodas, como ambulância, etc, totalizando 36 viaturas.

Mas por que não levar uma quantidade maior de blindados? Por que não optar por um transporte marítimo ou de cabotagem?

Um dos objetivos da Operação ATLAS, como mencionado, é o adestramento das tropas, portanto é necessário que o modal rodoviário também seja utilizado e, fruto dos ensinamentos e observações colhidas, o EB possa refinar seus planejamentos, identificar óbices, reconhecer itinerários e verificar a exequibilidade de todas as opções de transporte. Para fins de planejamento, levar 10 ou levar 100 blindados não haveria grandes diferenças, mas haveria grande impacto nos custos e na magnitude dos apoios necessários para sua execução. Desta forma, foi uma iniciativa inteligente e que certamente atingirá os mesmos propósitos com um custo bem menor.

Finalizada a 1ª etapa, com a conclusão da concentração de meios e feita uma inspeção do apronto operacional pelo comandante da Brigada, teve início a 2ª etapa do deslocamento. O comboio partiu do 5º B Log Bld, em Curitiba e passou por Campinas (SP), Araguari (MG), Brasília, Porangatu (GO), Palmas (TO), Araguaína (TO), Marabá (PA) e Paragominas (PA) até chegar em Belém. O planejamento foi realizado minuciosamente, levando em conta as capacidades das estradas e das pontes, o que restringiu o deslocamento pelo eixo citado.

Na 3ª etapa, em Belém, o comboio da 5ª Bda C Bld iniciou o deslocamento fluvial em balsas da Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA), entidade da FAB, com destino a Manaus. Este é um deslocamento lento, pois a balsa navega contra a correnteza do rio Amazonas e teve duração de 17 dias. 

Com a chegada da balsa em Manaus, o comboio desembarcou e seguiu novamente por estradas até chegar em Boa Vista, iniciando a 4ª e última etapa do deslocamento que foi concluído em 17 de setembro. Neste momento, os meios estão sendo preparados para um apronto operacional para o Comandante de Operações Terrestres (COTER).

A previsão da conclusão desta importante atividade de adestramento está marcada para o final de setembro, quando se iniciará a fase de simulação viva onde serão executadas manobras e tiro real com blindados. Será a primeira vez que os carros de combate Leopard 1A5BR atirarão no estado de Roraima. O retorno da tropa ocorrerá em 24 de novembro, já em Curitiba, após quatro meses de missão de deslocamento.

Com isso, o EB terá concluído seu objetivo de aperfeiçoar a interoperabilidade, a mobilização estratégica, a prontidão logística e a operacionalidade de suas tropas para a Defesa da Pátria.

Fotos: 5ª Brigada de Cavalaria Blindada

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