Conhecendo o ANAVIA HT-100

Em abril de 2025, o conglomerado de defesa dos Emirados Árabes Unidos (EAU), EDGE Group, fez a apresentação do helicóptero não tripulado HT-100, da sua subsidiária ANAVIA, no Centro de Avaliações do Exército (CAEx), no Rio de Janeiro.

O que se viu naquela demonstração prática foi além das capacidades técnicas do drone, destacando as possibilidades que esse sistema, com grande flexibilidade operacional, pode trazer para os segmentos civis e militares no Brasil.

Projeto moderno

As origens do HT-100 remontam ao ano de 2019, quando a empresa suíça ANAVIA iniciou o desenvolvimento do helicóptero remotamente pilotado com algumas premissas: aplicação dual, custo acessível de operação, prontidão, autonomia e facilidade de manutenção.

Após um extenso trabalho de engenharia, em 2020 a equipe realizou o voo inaugural do primeiro protótipo, onde já era possível observar um design e soluções de engenharia inovadores.

Segundo Jon Andri Jörg, co-diretor executivo e fundador da ANAVIA, os principais diferenciais do projeto, pensados desde a sua concepção, são “o sistema exclusivo de rotor duplo Flettner entrelaçado, comprovado e conhecido por oferecer alta resistência, eficiência energética e confiabilidade; um sistema de rotor sem cauda que economiza energia e peso; estrutura e fuselagem leve de carbono semimonocoque; e um projeto modular com compatibilidade para soluções personalizadas”.

Essa configuração de rotor proporciona 30% de economia de energia para cargas úteis pesadas ou missões de voo mais longas. Em situações com vento, oferece um alto nível de estabilidade e, pela ausência de peças mecânicas no cone de cauda, facilita o transporte e o armazenamento no convés ou em espaços restritos.

“A propulsão do HT-100 é uma turbina de 15 kW de alto desempenho, projetada e construída na Suíça para helicópteros. As vantagens incluem velocidade máxima de 120 km/h; consumo de combustível de nove litros por hora de voo; vibração extremamente baixa (especialmente em comparação com motores a pistão); maior confiabilidade e baixa manutenção devido à lubrificação circunferencial. O tempo entre revisões é de 1.000 horas de voo, assim como para todo o helicóptero e seus componentes e sistemas”, detalhou Jörg.

Classificado como um drone de Classe 1, segundo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), pode levar até 60 kg de carga paga (incluindo o combustível) e tem peso máximo de decolagem de 120 kg.

Em termos operacionais, é certificado para temperaturas que variam de -25 ºC a +55 ºC e velocidades de vento de até 45 km/h.

“Nós já o demonstramos na América do Sul e no Oriente Médio, onde se destacou em ambientes quentes e úmidos. Faz parte do conceito do HT-100 as operações marítimas, para as quais temos uma versão específica para pouso e decolagem autônomos embarcados, que atualmente está passando por testes para voos a partir de uma plataforma móvel e que devem ser concluídos este ano. A versão naval compartilha a mesma estrutura física que o HT-100 padrão, mas foi equipada com aviônicos e outros sistemas avançados de comando e controle para auxiliar nas operações marítimas, além de receber tratamento preventivo de corrosão nos materiais e subsistemas eletrônicos”, disse Jörg.

Sensores e missões

Tendo como principal objetivo cumprir a missão de vigilância, reconhecimento e inteligência, os sensores do HT-100 foram escolhidos para abranger uma série de aplicações em diferentes ambientes.

Os sistemas eletro-ópticos e infravermelhos incluem o Epsilon 180, 140LC e 140Z G2; o sistema multiespectral Trakka TC-300; e o L3 Harris Wescam MX10. Para o sensoriamento aéreo remoto, utiliza o sensor de detecção e alcance de luz (LiDAR) YellowScan Explorer; o scanner a laser Riegl VUX 240; a câmera PhaseOne iXM-100; e o sensor multiespectral de alta resolução RedEdge-P.

Na parte tática, um sistema que chama atenção é o de captura de identidade de assinante móvel internacional, usado para interceptar o número de IMSI (International Mobile Subscriber Identity). Ao registrar esses dados, é possível rastrear movimentações e identificar usuários, ferramenta de grande aplicação em ações policiais ou militares. Além deste, o HT-100 pode receber o radar de abertura sintética (SAR) de penetração de folhagem (FoPEN) de banda P da MetaSensing; o pod de radar óptico de detecção visual e alcance (ViDAR) VMS-5 da Sentient Vision Systems; o sistema Epsilon 180 EO/IR; e o sistema compacto de localização por radiofrequência (RF) 3D, de frequência muito alta a ultra-alta, da ComDart.

“Por oferecer um barramento de dados de carga útil e por meio da aviônica modular que suporta recursos plug-and-play, o HT-100 pode integrar uma ampla variedade de sensores, dependendo dos requisitos do cliente”, explicou Jörg.

Ainda que os sensores possuam softwares que realizem de forma automática o acompanhamento de alvos, sobreposição de mapas e disponham de filtros e ferramentas que facilitam o trabalho dos operadores, a ANAVIA está trabalhando com os fornecedores para integrar a inteligência artificial, os algoritmos e o aprendizado de máquina (machine learning), aumentando as capacidades e a eficiência nessa missão por meio desses sensores.

Por fim, vale destacar que o HT-100 pode levar uma caixa de cargas de até 50 kg, uma corda de 70 m transportando alguns materiais, ou lançar a caixa que chegará ao solo de forma remota.

Operação autônoma e segura

Contando com piloto automático e autonomia para pousos, decolagens e navegação em rotas pré-programadas pelos operadores, o HT-100 dispõe de um sistema elétrico para situações de perda do motor principal, redundância do controle de voo com quatro atuadores, transponder modo S, ADS-B, alerta de colisão com alarme de voo, paraquedas para pouso de emergência, localizador de emergência e recursos de acompanhamento de terreno. “O voo é conduzido por meio de uma câmera de visão em primeira pessoa (FPV) frontal e inferior, e o HT-100 dispõe de modo de retorno automatizado para base em caso de perda do sistema global de navegação por satélite (GNSS). É compatível com operação além da linha de visada, porém o tipo de link de dados do sistema depende dos requisitos e das operações do cliente, bem como das regulamentações nacionais. Como padrão, o HT-100 apresenta uma rede de malha totalmente criptografada, usando protocolo de Internet (IP) para comunicação. Embora o alcance das comunicações seja de até 200 km na configuração de rádio e antena, ele pode ser ampliado por meio de comunicação via satélite e comunicação LTE (long-term evolution)”, ressaltou Jörg.

A empresa está implementando o padrão OTAN STANAG 4586, que é a interface para o sistema de controle não tripulado, permitindo a interoperabilidade entre veículos aéreos não tripulados. Além disso, com o aumento da presença dos sistemas de interferência e de guerra eletrônica no ambiente operacional, a ANAVIA está integrando o sistema de navegação visual Northstar para possibilitar o voo em ambientes sem GNSS.

Produção e operação

“Nosso primeiro cliente para o ANAVIA HT-100 foi o Southern Alberta Institute of Technology, no Canadá, em outubro de 2021, quando iniciamos a produção em massa. Desde então, o sistema comprovou seu status operacional. Também recebemos um pedido significativo do Ministério da Defesa dos Emirados Árabes Unidos e outro pedido de seis unidades da variante naval para serem integradas aos navios da Marinha de um importante cliente de exportação”, revelo Jörg.

A ANAVIA mantém conversas em andamento na América do Sul, Europa, Ásia e África. “É importante entender que o HT-100 tem grande aplicação em missões de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR), inspeção, sensoriamento aéreo remoto e logística, atendendo a uma ampla variedade de setores, incluindo defesa nacional, segurança interna, combate a incêndios, petróleo e gás, agricultura e muito mais. Em combinação com nosso suporte localizado e treinamento prático, com resposta rápida às demandas, o resultado final é que nosso mercado-alvo se estende a todos os continentes”, finalizou.

A demonstração realizada em abril deste ano no Brasil contou com a participação de membros da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro; da Secretaria Nacional de Segurança Pública; da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro; da Polícia Federal; da Polícia Civil do Rio de Janeiro; do Grupo Especial de Fronteira do Estado de Mato Grosso; da Petrobras; e de empresas especializadas em segurança.

Ficha técnica

  • Comprimento: 2,82 metros;
  • Largura: 0,72 metros;
  • Altura: 1,00 metros;
  • Diâmetro do rotor: 3,75 metros;
  • Motor: turbina de 15 kW;
  • Rotor: sistema duplo tipo Flettner ;
  • Peso vazio: 66 kg;
  • Carga paga máxima e combustível: 60 kg;
  • Peso máximo de decolagem: 120 kg;
  • Capacidade de combustível:  60 litros Jet A1, JP-5 e JP-8;
  • Consumo: 9 l/h;
  • Link de dados: totalmente criptografado MESH IP (SATCOM e LTE sob demanda);
  • Alcance do link de dados: 200 km (configuração de rádio e antena);
  • Temperatura operacional: -25 °C a +55 °C;
  • Vento: 45 km/h;
  • Velocidade máxima: 120 km/h;
  • Teto operacional: 4.000 metros;
  • Autonomia: 6 horas; e
  • Prontidão operacional: 15 minutos.

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