Operação Cucuí – Guerra e saúde na Cabeça do Cachorro

Por Antonio Ximenes (*)

A Operação Cucuí, que ocorreu na região da “Cabeça do Cachorro”, em São Gabriel da Cachoeira (AM), foi um exemplo da capacidade militar do Exército Brasileiro (EB) de combater o narcotráfico, as guerrilhas e os criminosos internacionais que tentam furar a “barreira de fogo” das fronteiras defendidas pelos setes pelotões especiais de fronteira, subordinados à 2ª Brigada de Infantaria de Selva (2ª Bda Inf Sl), a “Brigada Ararigboia”.

Comandada pelo general-de-exército Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, comandante do Comando Militar da Amazônia (CMA), a Operação Cucuí aconteceu durante os dias 14 e 15 de abril em diversas áreas como na Serra do Caparro, na BR-307 no Parque Nacional do Pico da Neblina, nas imediações da Serra do Padre, nas comunidades indígenas Matapi, da etnia Kuripako, e Anamoin/Werekena, onde foram realizadas ações de saúde com dentistas e médicos atendendo os povos da floresta profunda. Os Kuripako, no Alto Rio Içana e os Werekena no Alto Rio Xié.

Ao todo foram mais de sete horas de voo de helicóptero, um HM-2 Black Hawk, pertencente ao 4º Batalhão de Aviação do Exército (4º BAvEx), que visitou os o 4º Pelotões Especiais de Fronteira (4º PEF), de Cucuí, o 3º PEF, de São Joaquim, e o 7º PEF, de  Tunuí/Cachoeira.

Fome

Logo no início da operação no marco fronteiriço entre Brasil e Venezuela uma patrulha do 4º PEF interceptou um grupo do Exército Venezuelano (EV) composto por um sargento e dois soldados, que haviam capturado dois soldados venezuelanos que estavam fugindo, por não suportarem a falta de alimentos no batalhão deles. “Há 20 dias não recebemos comida do rancho e fugimos para escapar da fome”, disse o soldado Taylor, do EV.

O tenente Pacheco, do 4º PEF, que comandava a patrulha no marco fronteiriço deu voz de alto ao grupo, que acatou suas orientações. “Nós estamos permanentemente mobilizados e acompanhamos todos os movimentos aqui na fronteira com a Venezuela e a Colômbia. Este é o nosso trabalho”, comentou sem em nenhum momento baixar a guarda.

Ainda em Cucuí, o general Theophilo determinou que fosse feita a evacuação de um militar que havia ferido a perna esquerda e que precisava de atendimento emergencial.

“Nós estamos em operação, mas nossa prioridade é a vida e este jovem embarcou em nosso helicóptero em uma maca, para ser atendido no Hospital da Guarnição de São Gabriel da Cachoeira”, ressaltou.

Garimpos

Mas se por um lado ocorreram ações humanitárias e de saúde, de outro, as forças especiais juntamente com os guerreiros de selva dos batalhões locais mostraram toda a habilidade de combate, como na Serra do Caparro, lugar histórico de garimpo, onde o Comandante do 7º PEF, tenente Prudêncio, e outros dez militares da sua unidade e mais um oficial da 3ª Companhia de Forças Especiais (3ª Cia FEsp), de Manaus, fizeram uma varredura nas áreas de garimpo nos rios e igarapés da Serra do Caparro. “O terreno é rústico e perigoso, mas nós entramos para cumprir a missão”, disse o tenente Prudêncio.

Em uma antiga pista de terra abandonada e que no passado foi bombardeada, por ser usada por garimpeiros ilegais, o general Theophilo recebeu as informações de todas as atividades realizadas na área pela Operação Cucuí. “Aqui estamos em uma área longínqua com nossas forças do Exército protegendo a nação com as melhores técnicas de guerra na selva e com soldados, sargentos e oficiais entusiasmados que cumprem a missão independente de todos os riscos, porque estamos preparados para defender a Pátria”, destacou.

O mesmo se observou na BR-307, nas proximidades da Serra do Padre, onde o general Theophilo e demais oficiais que o acompanhavam cruzaram uma ponte praticamente podre sobre o Rio Dimiti, para observar às atividades dos guerreiros de selva que vasculharam a região suspeita de ser um ponto de escoamento de drogas.

À frente da comitiva, o general Theophilo abriu caminho sobre a ponte em ruínas, acompanhado do general-de divisão Omar Zendim, chefe do Centro de Coordenação de Operações do Comando Militar da Amazônia (CCOp/CMA), e do general-de-brigada Alexandre Ribeiro de Mendonça, comandante da 2ª Bda Inf Sl.

A BR 307 é um eixo fundamental para os indígenas e a população em geral de São Gabriel da Cachoeira e Cucuí. O EB está recuperando as pontes e parte da rodovia.

Saúde

O EB está pronto para o que der e vier no que se refere ao preparo da tropa, tanto para às atividades de resistência armada como também para a guerra tradicional. Mas não descuida da mão amiga e fraternal no atendimento às populações indígenas, como se verificou na Operação Cucuí na comunidade Matapi/Kuripako, onde o dentista militar Moraes atendeu dezenas de moradores fazendo extrações e obturações básicas. “Sou voluntário e trabalho junto aos mais carentes com total devoção profissional. O Exército me permite isso”.

A paciente Kuripako Maria Gutierrez, disse “que depois que o dentista chegou, ela conseguiu respirar aliviada. Agora não sinto mais dores”. Em condições mais artesanais, mas não menos eficiente, a tenente dentista Rocha extraiu um dente da jovem Diana Candido, da etnia Baré, na aldeia Anamoin. “Ela foi valente, porque tive que anestesiar toda a boca para arrancar o dente que estava morto e saiu com raiz e tudo”, disse a tenente Rocha.

O médico Reis do Hospital de Guarnição de São Gabriel da Cachoeira realizou diversas consultas com os indígenas Werekena e Baré. Segundo ele, “As famílias locais apresentam diversos tipos de enfermidades (hepatites diarreias e outras oriundas das águas não potáveis dos rios da região), que precisam ser tratadas com urgência, para evitar o agravamento da saúde coletiva”, comentou.

O agente indígena de saúde Rodrigo Werekena disse “que há mais de 57 famílias na região, sendo que 223 jovens precisam de atendimento médico. Ainda bem que o Exército está aqui, porque neste tempo do vírus, da pandemia, nenhuma organização não governamental veio aqui para cuidar da saúde da gente. Mas o Exército trouxe a vacina e cuida de todos”.

Apoio às famílias militares e a logística

Na Operação Cucuí mereceu destaque as falas de apoio aos familiares proferidas pelo general Theophilo nos pelotões especiais fronteira. “As esposas que acompanham seus maridos nos pelotões especiais de fronteira são um exemplo de dedicação, amor à pátria e à família militar. Elas sacrificam tudo para virem para cá, nas fronteiras mais distantes do Brasil. Elas são admiráveis”, comentou.

Para que a Operação Cucuí obtivesse êxito, também foi fundamental o apoio logístico da 12ª Região Militar (12ª RM), comandada pelo general-de-divisão Edson Skora Rosty, que a acompanhou a partir da retaguarda. “Nós fazemos a logística mais complexa da Amazônia, para que nada falte de essencial nos pelotões especiais de fronteira”, comentou o general Rosty.

 

(*) Antonio Ximenes é diretor de redação e proprietário das revistas Floresta Brasil Amazônia, Voar na Amazônia Brasil e do portal www.agroflorestamazonia.com. Realizou o curso de correspondente de guerra militar no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil, na Vila Militar, Rio de Janeiro (RJ), e cobre assuntos militares há 29 anos. Realizou diversas reportagens cobrindo atividades das Forças Armadas, mais recentemente a Operação Amazônia.

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