A quantidade de vezes com que a mídia vem noticiando, ao longo de muitos anos, a apreensão de armas e munições aqui no Brasil já é bem do conhecimento de todos. De fato, não se pode esperar que matérias de fundo eminentemente técnico sejam adequadamente abordadas dentro dos habituais curtos espaços de tempo disponíveis para serem publicadas ou irem para o ar. Todavia, há uma série de informações errôneas e fantasiosas que têm sido constantemente repetidas nos noticiários e que já se tornaram motivo de também repetidas galhofas pelos profissionais dos ramos envolvidos.
A edição de 18 de agosto do “Bom Dia Brasil” da TV Globo serve bem de exemplo. Após uma apresentadora informar que munição de armas “pesadas” (quantos quilos?) havia sido encontrada no fundo do Lago Paranoá, em Brasília, a segunda apresentadora, na Capital Federal, complementou: “a PM diz que tem capacidade de derrubar avião e furar tanque blindado”. Alguém da PMDF, de fato, disse essa bobagem? Existe algum carro de combate que não seja blindado?
Ora, os aproximadamente 300 cartuchos (que foram chamados de “munições”) eram dos calibres .45ACP e 9x19mm (usados em pistolas e submetralhadoras), 7,62x51mm e 5,56×45 (de fuzis), mais nove “clips” de oito cartuchos .30-06, usados nos fuzis norte-americanos M1 Garand da Segunda Guerra Mundial. Nada, é claro, com a tremenda capacidade destrutiva alardeada pela emissora.
Aliás, basta a apreensão de qualquer arma no chamado “calibre ponto 30” (na verdade, .30-06 ou 7,62x63mm) que lá vem a “revelação” de ser uma “metralhadora antiaérea” e coisas do gênero. Se for do calibre .50BMG (12,7x99mm), então, a agitação é geral.
O fuzil “ponto 50” apreendido recentemente pelo BOPE no Rio de Janeiro, por exemplo, foi assunto de diversas matérias nos jornais e TV. O destaque, como não poderia deixar de ser, foi a capacidade destrutiva de sua munição, de fato, capaz de parar e colocar fora de ação um blindado leve, como os que transportam valores, caso já ocorrido em nosso país, ou de uso policial. O que ninguém noticiou foi o fato de não ser uma arma de fabricação industrial, ou seja, foi um fuzil montado artesanalmente por um armeiro de aparente boa habilidade, no qual foram gravadas o logo da fábrica estadunidense ArmaLite e a marca AR-50. Todavia, o real AR-50 fabricado há alguns anos nos Estados Unidos é de municiamento manual, tiro a tiro, enquanto que o “clone” apreendido com os traficantes cariocas era alimentado por carregadores destacáveis do tipo cofre, entre outros detalhes bem diferentes.
Ronaldo Olive