Os desafios da defesa antiaérea de Média Altura no Exército Brasileiro – Parte 1

Uma das maiores carências que o Exército Brasileiro enfrenta na atualidade é sua capacidade defesa antiaérea para vetores que operem de média altura, que podem ser aviões, helicópteros, misseis ou veículos aéreos não tripulados (VANT). O problema já foi identificado e algumas soluções já estão sendo estudadas. Conheça alguns caminhos que podem ser seguidos pela Força Terrestre nessa reportagem de Paulo Roberto Bastos Jr. e João Paulo Moralez

 

Os meios atuais

Na atual estrutura do Exército Brasileiro (EB), a defesa antiaérea está organizada de duas maneiras. A Força possui hoje seis Grupos de Artilharia Antiaérea (GAAAe) que são subordinados a 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea (1ª Bda AAAe), essa criada em 1980 sediada no famoso Forte dos Andradas, em Guarujá (SP).

Os grupos, por definição, possuem a missão de realizar a defesa antiaérea de zonas de ação, de áreas e pontos sensíveis e de tropas, estacionadas ou em movimento. Seu espectro de responsabilidade inclui alvos que estejam voando a baixa altura, ou seja, a no máximo três mil metros, e a média altura, chegando a 15 mil metros. A partir daí, a responsabilidade de ação contra esses alvos seria da Força Aérea Brasileira (FAB).

Cada um dos grupos é equipado com canhões, ou as chamadas armas de tubo, e os mísseis de curto alcance portáteis, ou man-portable air-defense systems (MANPADS).

As armas de tubo são os canhões automáticos M985 Bofors L70 de 40mm comandados por diretoras de tiro EDT FILA, e alguns poucos canhões Automáticos Geminados Oerlikon C90 de 35mm comandados por Super Fledermaus 214UX-1, esses últimos em processo de desativação.

Para o segmento dos mísseis contra alvos voando a baixa altura faz parte do inventário do EB os sistemas teleguiados e com guiagem a laser RBS 70 Mk.2 e RBS 70NG da Saab Defence and Security. O sistema foi adquirido em 2014, sendo os primeiros RBS 70 Mk.2 empregados diretamente na proteção e segurança durante a Copa do Mundo. O escopo do contrato incluiu simuladores, sistemas de visão noturna, sobressalentes, ferramental, equipamentos de testes e treinamentos específicos através de cursos.

O RBS 70 tem alcance de 9 mil metros e com teto máximo de 5 mil metros de altura. Sua velocidade é de Mach 2 (cerca de 2.470 km/h) com guiagem por feixe laser, que impede que o míssil sofra qualquer tipo de interferência. Em testes realizados pelo Exército, em mais de uma ocasião, os acertos foram de 100%, embora a Saab divulgue que a média de acertos é de 94%. O remuniciamento é feito em até seis segundos e o sistema é leve e fácil de ser montado.

Em 2015 RBS 70 já estava operacional, sendo amplamente usado para a defesa do Rio de Janeiro durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos em 2016. No ano seguinte o EB fez mais um pedido para a Saab, com as encomendas sendo entregues em 2017 e 2018 e no contrato abrangendo camuflagem multiespectral.

Em 2019, o RBS 70 NG foi adquirido, ampliando um pouco mais essas capacidades. O sistema realiza o acompanhamento automático do alvo, resultando no aumento do alcance de utilização do míssil Mk.2 para 8 mil metros, podendo ser operado remotamente e cumprindo a missão de defesa antiaérea estática. Também pode ser empregado contra alvos terrestres com blindagem leve.

No inventário do EB constam ainda os mais antigos e menos modernos KBM 9K338 Igla-S (SA-24 Grinch, na nomenclatura da OTAN) guiados por calor e para o qual a Força possui ainda alguns poucos lançadores duplos 203-OPU Djiguit. Desenvolvido no auge da antiga União Soviética e tendo entrado em serviço em 1983, o tipo é o mais vendido da história em todo o planeta, sendo empregado em mais de 10 conflitos. O objetivo foi o de prover a antiga União Soviética de um sistema capaz, mais resistente às contra medidas e melhor capacidade de engajamento contra os alvos.

O Igla-S é a última geração dessa família que atinge quase Mach 2, chegando a 2.052 km/h, e podendo engajar alvos de 500 a 6 mil metros, com um teto máximo de 3 mil metros de altura, guiagem por sistema de infravermelho passivo em banda dupla. Seu peso final é de 19 kg, pronto para disparo.

Composição da 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea
OM Localização
1º GAAAe Rio de Janeiro/RJ
2º GAAAe Praia Grande/SP
3º GAAAe Caxias do Sul/RS
4º GAAAe Sete Lagoas/MG
11º GAAAe Brasília/DF
12º GAAAe Sl Manaus/AM

 

Além dos GAAAe, o EB conta ainda com sete Baterias de Artilharia Antiaérea (Bia AAAe), que são orgânicas das Brigadas e que contam com apenas mísseis, com exceção das duas Baterias Antiaérea Autopropulsada (Bia AAAe Ap), que utilizam o blindado sobre lagartas VBC DAAe Gepard 1A2. A função das Bia AAAe é de realizar a defesa de acordo com a missão tática de sua Brigada da qual é subordinada, ou seja, em geral, a defesa de ponto e de deslocamentos, o que fazem que o armamento de baixa altura seja o mais indicado.

Baterias de Artilharia Antiaérea orgânicas das Brigadas
OM Localização Subordinação
2ª Bia AAAe Santana do Livramento/RS 3ª Bda C Mec
3ª Bia AAAe Três Lagoas/MS 2ª Bda C Mec
5ª Bia AAAe L Osasco/SP 12ª Bda Inf L (Amv)
6ª Bia AAAe Ap Santa Maria/RS 6ª Bda Inf Bld
9ª Bia AAAe (Es) Macaé/RJ 9ª Bda Inf Mtz
11ª Bia AAAe Ap Rio Negro/PR 5ª Bda C Bld
21ª Bia AAAe Pqdt Rio de Janeiro/RJ Bda Inf Pqdt

 

Todas as partes

1. Os desafios da defesa antiaérea de Média Altura no EB – Os meios atuais

2. Os desafios da defesa antiaérea de Média Altura no EB – Recuperando capacidades

3. Os desafios da defesa antiaérea de Média Altura no EB – As opções do mercado

4: Os desafios da defesa antiaérea de Média Altura no EB – As outras Forças (final)

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Uma resposta

  1. Muito bom.
    No caso o ideal era os grupos serem armados com sistemas de médio alcance e as compahias com misseis de curto alcance. O único problema para mim e a falta de padronização de meios para reduzir custos.

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