MUSEU DO ARSENAL DE GUERRA DO RIO, o mais antigo museu militar do país

Uma das Organizações Militares mais emblemáticas e importantes do Brasil, pelo fato de auxiliar o Exército Brasileiro (EB) a manter sua independência em relação a indústria, além de desenvolver tecnologia dentro da força, os Arsenais de Guerra são considerados peças fundamentais em sua estratégia. O Arsenal de Guerra do Rio, o mais antigo dentre eles, possui dentro de suas edificações principais o mais antigo museu militar do Brasil e um dos mais antigos do mundo.

Por Paulo Bastos Jr e Roberto Caiafa

Como dito nas palavras da ilustre historiadora e professora Emília Viotti da Costa, “Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado“, mostrando que somente aprendendo com suas experiências passadas um povo pode trilhar um caminho seguro para o seu futuro.

É muito comum ouvirmos a expressão “o brasileiro não preserva sua memória”, mas isso não é totalmente verdadeiro.

É fato, se nos compararmos a algumas outras nações, principalmente aquelas que investem não só na preservação como divulgação de suas culturas (muitas vezes no intuito de se provar superior a outras), veremos que estamos em desvantagem.

No País hoje até existem pessoas mantendo viva a chama da história, das tradições e dos homens que, com bravura, ajudaram criar uma identidade brasileira ao longo de centenas de anos, mas o problema é que a maioria dos brasileiros os desconhecem.

O museu do AGR é um desses “Santuários” que cultua a nossa história permanecendo desconhecido até a atualidade pela imensa maioria dos brasileiros.

Um pouco da história do AGR

 Tendo sua origem na chamada “Casa do Trem”, quando foi criado pelo Conde de Bodabella em 1762, como depósito de armamento e munição, reparos e petrechos bélicos destinados a proteção da Colônia, o Arsenal de Guerra do Rio é uma das mais antigas e importantes instituições da vida militar brasileira. O nome “trem” significava o conjunto de petrechos necessários à atividade bélica, também chamados de “Trem de Guerra“.

Com a vinda da Corte de Lisboa para o Brasil, as atividades industriais foram liberadas no país e, com isso, em 1º de março de 1811, o Príncipe Regente D. João VI transformou as instalações existentes na Ponta do Calabouço em Arsenal Real do Exército, criando a Real Junta da Fazenda de Arsenais, Fábricas e Fundições, nomeando para presidi-la, cumulativamente com a Direção do Arsenal, o Brigadeiro Carlos Antônio Napion.

Esta data, 1º de março, marca a aquisição, pelo Arsenal, de autonomia para atividades fabris e foi adotada para comemorar seu aniversário.

Em 1832, passou o Arsenal a denominar-se Arsenal de Guerra da Corte e, em 1889, com a Proclamação da República, ainda situado na Ponta do Calabouço, recebeu o nome de Arsenal de Guerra da Capital.

Com sua transferência, em 1902, para a então Praia de São Cristóvão, atual Rua Monsenhor Manoel Gomes, passou a chamar-se Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro (AGRJ), porem, após sua total remodelação, iniciada em 1939, em função do processo de modernização que o EB passava pouco antes da Segunda Guerra Mundial, teve seu nome alterado para Arsenal de Guerra do Rio (AGR), denominação que ostenta até hoje representando de 258 anos de história.

 Atualmente, o AGR é uma das principais estruturas da Diretoria de Fabricação (DF), projetando, fabricando, montando e dando manutenção em diversos equipamentos imprescindíveis para o EB, garantindo a Força a independência e segurança que ela necessita.

Maquete do AGR após sua expansão nos anos 30

O Museu do AGR

O atual espaço dedicado à memória do AGR foi reestruturado em abril de 1995 e localiza-se no 4° andar do edifício central do Arsenal de Guerra do Rio.

É composto por duas salas de exposição onde estão a mostra suas coleções de artefatos histórico-militares.

Sua origem remonta à época do Império, quando a organização era chamada de Arsenal de Guerra da Corte e funcionava na Ponta do Calabouço.

Em suas instalações, no período de 1865 a 1902, funcionou o Museu Militar, um dos primeiros museus históricos do Brasil e o principal antecedente do Museu Histórico Nacional e do atual espaço de memória do AGR.

O Museu Militar tinha por objetivos melhorar a preparação dos Oficiais e favorecer a cristalização de um espírito de corpo.

Armazenava e expunha objetos que representavam as lutas travadas pelo Exército, bem como relíquias e troféus de guerra, compreendidos como símbolos de resistência e da construção de um Estado Nacional.

Em 19 de dezembro de 1865, foi baixada Portaria contendo as instruções regulamentares para a criação do Museu Militar:

Art. 1° – haverá no Arsenal da Corte uma ou mais salas onde serão depositados:

  1.  as armas de todas as espécies, notáveis por quaisquer circunstâncias ou por sua antiguidade e singularidade de fabrico, ou terem sido tomadas ao inimigo, troféus e relíquias;
  2. reparos, viaturas, bocas de fogo, projéteis e instrumentos de artilharia, de qualquer calibre ou espécie, também notáveis pelas circunstâncias acima referidas;
  3. equipamentos e outros objetos notáveis por sua antiguidade ou pelos fatos que comemoram;

modelo ou amostras de armamento, equipamentos e objetos de qualquer espécie de uso dos exércitos estrangeiros, invenções e melhoramentos.

Por ocasião das comemorações do Centenário da Independência, em 1922, viu-se a necessidade da criação de um museu que representasse a história nacional e, assim, boa parte do acervo pertencente ao antigo Museu Militar foi transferido para o recém criado Museu Histórico Nacional, instalado nas antigas dependências do Arsenal de Guerra, na região do Calabouço.

O acervo remanescente permaneceu encaixotado por mais de 60 anos e foi resgatado na década de 1960, sendo parte dele destinada ao Museu Histórico do Exército e parte empregada na recriação, em 1961, do Museu do AGR, o qual foi reestruturado em 1995, assumindo as atuais instalações e feições.

Atualmente o museu dispõem de um rico acervo, possuindo 239 peças sendo 223 armas de fogo,  destacando-se armamentos utilizados pelas Forças militares brasileiras desde o império, documentos históricos importantes, como o Registro de parte do Oficial de Dia referente ao atentado contra o Presidente de Morais que vitimou o Marechal Bittencourt, ou curiosidades históricas como a espada do Cabo João Francisco Lacerda, vulgo “Chico Diabo”, o algoz de Solano Lopes, além de diversas peças e bustos fundidos no próprio AGR.

Esse precioso acervo é cuidado e organizado por dois militares, o 2º Tenente Matheus CANEDO Lobo Vieira, graduado em história, e o Subtenente Elson LUIZ Barbosa Filho, Doutor e Mestre em Educação.

O Busto de Dona Rosa da Fonseca

Dentro do espirito de preservar nossa história e nossas tradições, o AGR fundiu diversos bustos de personagens importantes de nossa história, como o Marechal Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, Patrono do Exército, porém um nos chamou mais atenção: o de Dona Rosa Paulina da Fonseca, a Patrona da Família Militar brasileira.

Dona Rosa nasceu em 1802, na Cidade de Alagoas, então Capital da Província e atual município de Marechal Deodoro. Casou-se em 1824 com o então Major do Exército Imperial Manoel Mendes da Fonseca e tiveram 10 filhos: oito homes e duas mulheres.

Todos os filhos homens tornaram-se militares e sete participaram da Guerra do Paraguai. Seus filhos Afonso Aurélio, Hyppólito e Eduardo Emiliano foram mortos em combates. Nas comemorações da vitória de Itororó, recebeu a notícia da morte de Eduardo e dos graves ferimentos em Hermes e Deodoro, que mais tarde, como Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, proclamou a República e foi o primeiro Presidente do Brasil.

Declarou que: “Sei o que houve. Talvez até Deodoro esteja morto, mas hoje é dia de gala pela vitória; amanhã, chorarei a morte deles“. Após o evento cívico, recolheu-se em luto por diversos dias. Conta-se também que, ao receber o Oficial que lhe apresentaria os pêsames em nome do Imperador, respondeu que a vitória que a Pátria alcançava, e que todos tinham ido defender, valia muito mais que a vida de seus filhos.

Busto de Dona Rosa da Fonseca, Patrona da Família Militar brasileira

Ao instituir o dia 18 de setembro, data natalícia de Dona Rosa da Fonseca, a Matriarca Exemplar, como o Dia da Família Militar, o Exército Brasileiro presta a devida homenagem à família, na figura de Rosa da Fonseca, reconhecendo a importância do espírito de sacrifício e de luta, dentro do contexto da época, o qual possibilita aos integrantes da Força Terrestre alcançarem o sucesso pessoal e profissional, com o sentimento de dever cumprido, seja qual for a missão.

Visitação

O museu está localizado na Rua Monsenhor Manuel Gomes, nº 563, bairro do Caju, Rio de Janeiro-RJ, e é aberto à visitação para escolas públicas e particulares, e para o público em geral, através de visitas guiadas e gratuitas, segunda, terças e quintas (das 09:00 as 14:30) e sexta-feira (das 08:00 as 11:00), sendo que os interessados devem agendar sua visita através do e-mail agr_comsoc@eb.mil.br, ou pelo telefone (21) 3483-9075.

Por tratar-se de uma instituição militar, existem regras quanto a vestimentas, não sendo permitido o uso de camisetas do tipo “regata”, bermudas, minissaia, chinelo de dedo ou boné, bem como menores de 12 anos deverão estar acompanhados de responsável legal portando documentos.

Agradecimentos

Os autores e a Revista Tecnologia & Defesa agradecem ao General-de-Brigada TALES Eduardo Areco VILLELA, Diretor da Diretoria de Fabricação (DF), ao Coronel Álvaro Pinto CORREIA, Subdiretor da DF, ao Tenente-Coronel MAURÍCIO Ramos de Resende Neves, Diretor do AGR, ao Major Marcos Davi Padilha Bussinger, 3⁰ Subdiretor do AGR, ao Major Márcio Nascimento de Souza Leão, Chefe da Divisão Industrial do AGR, ao 2º Tenente Matheus CANEDO Lobo Vieira e Subtenente Elson LUIZ  Barbosa Filho, responsáveis pelo Museu do AGR, o 1° Sargento Daniel Clístenes de Araújo Santos, Adjunto de Comando do AGR, e a todos os militares e funcionários civis, em particular a simpática Senhora Berenice Mendes Machado, Secretária do Diretor do AGR com 50 anos de serviço na instituição, que se esforçaram ao máximo para que pudéssemos ficar à vontade ao visitar as instalações da DF e o AGR, e por seu profissionalismo em prol de auxiliar o Exército Brasileiro em cumprir seu papel com o máximo de independência,  bem como no resgate a preservação de nossa história.

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