DC-3 ex-Varig é destroçado e picado no Galeão (RJ) – Brasil, um País sem memória.

O post no no whatzapp viralizou, neste 31 de janeiro de 2020:

“Morre hoje um grande pedaço da história da aviação! Está sendo destruído neste momento (31/01) o DC-3 da gloriosa Varig que estava na área industrial da TAP, no Aeroporto Internacional do GALEÃO”.

Fotografia: Eduardo Alves (31 de janeiro 2020)

As reações indignadas da comunidade aeronáutica brasileira:

– Mas por quê não preservaram?
– Quem foi a prole de uma meretriz que mandou sucatear?
– Por quê não doaram para um museu? Ou a alguém que o preservasse?
Cara… Eu não gosto de dar pitacos em certas coisas porque saber mais que a média não faz de você um expert mas, ainda que uma parte de mim esteja doida pra pegar alguém pelo pescoço, por outro lado eu vi coisas suficientes pra deixar uma margem antes de crucificar a TAP ou quem quer que seja que tenha mandado demolir o bicho, pelo seguinte:
1) Sobra gente querendo preservar avião histórico. Gente que acha inclusive que todos aviões antigos deveriam ser preservados, como se isso fosse viável. Falta, entretanto, gente dizendo. “Manda pra mim que eu cuido”, ou que pelo menos mexa a bunda pra fazer mais do que postar indignação em redes sociais.
2) Sobra gente achando que é só mandar pra Museu, como se museus fossem entidades com espaços infindáveis e verbas infinitas. Vide os tempos em que pra todo e qualquer avião abandonado que aparecia logo surgia alguém gritando “Manda pro Museu da TAM”, como se custos de transporte e restauração fossem estrelas de uma galáxia distante.
3) “Ah, mas é só fazer parceira com a iniciativa privada!”. Porra, cara! Vai lá então, monta um projeto de patrocínio, apresenta pras empresas e depois vem dizer qual foi o teu retorno. Tem aquele pessoal que acha que é só sair pedindo patrocínio que ele aparece do céu.
Então, eu acho que antes de mais nada é preciso saber o que houve. Muita hora nessa calma. Muita reflexão e informação antes de sair crucificando pessoas ou empresas. E sim, eu sei que isso não ameniza a dor e a revolta de ver que, no frigir dos ovos e de todas essas teorias, mais uma peça histórica se perdeu. Que nada mais pode trazê-la de volta. Sim, eu também tô puto. Só não quero dar uma de Salém e sair tacando na fogueira pessoas inocentes por conta de uma histeria coletiva. Porque não me surpreenderia que o atual “dono” do sino tenha tentado arrumar alguém pra pendurá-lo no pescoço do gato, mas nenhum rato apareceu. Como pode ser que tenha sido pura incompetência mesmo e aí me passa o tubo de álcool que eu mesmo acendo a fogueira…
Vamos aguardar, ainda que lamentar desde já seja inevitável…
Vazquez

As fotos comprovam a destruição do avião:

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Respostas de 30

  1. Isso aí surpreendeu até mesmo os caras que vivem lá no Galeão, então eu não chamaria de “histeria coletiva”. Esse DC-3 não é o porta-aviões São Paulo que muita gente quis preservar mas não teve condição. E olha que o São Paulo passou por um longo período de descomissionamento e um leilão público. Quando foi que esse DC-3 passou pelo mesmo?

    Lá nos EUA os caras tiraram um B-17 de cima de uma lanchonete e botaram pra voar. Um inglês veio aqui ao Brasil para comprar 16 Stuarts que enferrujavam numa fazenda. Certeza que o descarte da aeronave foi ao mesmo minimamente difundido no exterior? Ver nossa história sendo vendida é uma dor que já estamos acostumados a sentir, mas é imensamente melhor que vê-la ser demolida como alguma casa velha caindo aos pedaços.

    Isso aí é barbarismo, não vejo justificativa. Não foi último recurso, foi pra resolver o problema deles de forma rápida.

    1. Julio, Sua resposta parece ser para o Vicente Vasques. Você tem razão e ele também. É fácil dar pitaco sem saber o caminho das pedras.
      Sendo um fã da aviação, tenho acompanhado museus desde o Museu de Aeronáutica de S.Paulo que ficava no Ibirapuera. Pesquise os motivos pelos quais fecharam esse museu, colocando peças historicas raras para se deteriorarem no Cemucan. Você vai ficar mais indignado. Algumas peças conseguiram chegar ao Museu da TAM que teve vida curta. Depois que morreu seu fundador, foi também fechado ao público, imagino que se empoeirando todo. Em um museu em Bebedouro temos alguns aviões (C-47/DC-3 da Varig, Curtiss C-46, B-25, DC-6, Viscount da Vasp, e outros). Estão em um pátio a céu aberto se deteriorando no tempo e ao tempo. Não há manutenção, mas não se pode criticar os Matarazzo por isso. Custa muito caro essa manutenção. Mas tente saber a história de um Scandia da Vasp que lá está. Diferente do que pensa Vicente, tivemos lá uma história de interessado. A própria empresa (sueca, se me lembro) que o produziu, quis levá-lo embora para restaurá-lo, colocando em condições de vôo. Parece que, em troca, a empresa ofereceu equipamentos hospitalares para o município. Matarazzo não quis ceder. Acho que, tal como aconteceu com a tradicional família Matarazzo, esses aviões e suas sagas vão desaparecer sem ficar resquícios para a História. Já estive no Museu de Aeronáutica do Campo dos Afonsos. Fico pensando se não é uma questão de tempo para o perdermos também. Concordo com Vicente em alguns pontos, mas acho que a preservação da cultura e da história nacionais, que não pode deixar de incluir a História da nossa aviação (afinal não nos jactamos por Santos Dumont ser um brasileiro?), deveria ser financiada pelo governo, via Ministério da Educação e Cultura e Turismo e… (sei lá). Mas a corrupção na República (ou res pública) não deixa sobrar dinheiro nem para o que o povo mais reclama, que dirá para um DC-3 da Varig que só tem sentido preservar na cabeça de alguns apreciadores da aviação. E nem adianta discurso do tipo: “o povo que não preserva sua História, arrisca a perder sua identidade como nação”.

  2. O pior é saber que foi o chefe da subdivisão de conservação do Musal quem deu aval para essa barbaridade! Ele mesmo declarou isso no Instagram, e ainda criticou quem se indignou. Precisam urgentemente retirar esse cara de lá e transferi-lo para cuidar de alguma pista no meio da Amazônia. Já mostrou não ter o mínimo de conhecimento para estar à altura do cargo.

  3. Discordo totalmente do Vasquez. Quantos DC-3 temos preservados no Brasil? Pouquíssimos. Sobretudo com essa história do PP-VBF. Garanto que se fizéssemos uma rápida campanha em grupos de aviação que participo, teríamos conseguido facilmente achar uma destinação a essa máquina. Nos USA, é moda ter aeronave histórica preservada em saguão de aeroporto (pendurado no teto).
    Mas, na minha opinião, a CULPA disso é toda do MUSAL. Eles foram consultados. Não tiveram interesse. Vistoriaram a aeronave e simplesmente alegaram que a estrutura estava com corrosão. Ora, se a “autoridade” em preservação da aviação diz uma coisa dessas, ao gestor da massa falida (um leigo) simplesmente só restou destruir.
    Faltou ao pessoal do MUSAL o tato e bom senso de ao menos avisar a comunidade aeronáutica. Com certeza acharíamos uma solução. Na verdade, faltou a eles paixão à aviação. Eles precisam sair desse mundinho fechado deles. Lembram os Boeing707 da FAB que foram igualmente cortados no Galeão? O MUSAL alegou que não tinha espaço pra receber um deles. Sabe…Boeing707? o primeiro jato de sucesso… a aeronave que o Instituto Smithsonian em Washington fez questão de preservar? Se eles não tinham espaço, que preservassem em outro lugar (nem que fosse ao ar livre na base de Anápolis). Lembro que na década de 1980 o Ministro da Aeronáutica mandou retirar aeronaves preservadas em várias praças do país só pra mandar tudo pro MUSAL. Era outra cultura. Claro que eles possivelmente tem restrição de dinheiro e espaço. Mas eles deveriam liderar a comunidade de preservação aeronáutica. Nem que fosse pra avisar da iminente destruição. Mas pelo visto só estão preocupados com o que acontece dentro quadradinho deles. Sabe como é…Milicos né? Acho que é pedir muito que pensem além dos limites do quartel…

  4. Cara, na moral
    Querendo justificar essa destruição
    Foi imoral e lamentavel chegar num avião histórico que extarnamente tava perfeito e os caras picarem o avião

    1. Picaram sem dó nem piedade – e o motorista da escavadeira, nem tem ideia do que estava fazendo, já que apenas cumpria ordens de quem a, certamente, alugou -; e um certo Portal escreve “foi recortado…parte será doada à Museu… “O DC-3 estava parado e sem manutenção em um hangar da TAP Manutenção e Engenharia Brasil…”.

      Que hangar!!!?? Não estava ocupando espaço útil em hangar algum, já que estava ao relento, e portanto exposto às intempéries. Matéria MUITO mal escrita. O profissional que a escreveu deveria ter vergonha de t~e-la assinada, como está.

  5. Que bobagem é esse de “histeria coletiva”?
    Até onde sei, ninguém … ninguém … ficou sabendo que o avião corria risco de ser destroçado, ou mesmo descartado.
    Houve abuso, sim! E é preciso descobrir a motivação, porque, de fato, a história da aviação sofreu um dano muito grande.

  6. Penso eu que um avião historico como esse seria acolhido fácil pela Força Aerea Brasileira, para dar um destino digno a ele.
    Esses portugueses da TAP foram negligentes, e cometeram essa barbarie.

  7. Concordo plenamente com tudo que escreveste, Júlio. Eu preferiria que a Boeing, que se fundiu à McDonnell Douglas em 1997, ficasse com o PP-VBF de graça. Duvido que não fizessem uma operação de logística para salvar esse C-47/DC-3 de um fim tão humilhantemente idiota. Ainda poderiam celebrar um contrato fazendo a única exigência de manter as cores originais do VBF na Varig, após restaurado.
    Uma aeronave ( sim, ela provavelmente voou nos céus da Europa durante a segunda guerra ) que nos ajudou a vencer o nazismo e suas ideias estúpidas, que foi a semente da aviação comercial que hoje conhecemos e que foi também, pelo que li, pilotada por Howard Hughes, se tornando, por este motivo, uma referência entre outros C-47s e DC-3s na história da aviação mundial.
    Se somos incapazes de cuidar do que é nosso, que quem tenha um mínimo de juízo o faça em nosso lugar. Quem não preserva sua história a qualquer preço, não sabe de onde veio e nem para onde irá. E não me venham falar de custo para remover ou desmontar a aeronave, de custo para reformar ou manter, de burocracias documentais.. usamos dinheiro público para coisas totalmente duvidosas e sem justificada relevância. Por quê nosso governo não poderia alocar alguns milhares de Reais para manter essa aeronave ? O Musal diz que não teria como mantê-la.. mas pelo amor de Deus.. desmonta e armazena em caixas com tudo etiquetado para um dia algum interessado iniciar a restauração. Esse C-47/DC-3 estava completo ! O PP-ANU foi reformado e está orgulhosamente sendo mostrado ao público em Porto Alegre, claro, devido ao interesse e dedicação de pessoas apaixonadas pela aviação e pela Varig. Mas o que dizer sobre o que fizeram com nossos 4 KC-137 da FAB, todos ex-Varig.. não mantiveram nem mesmo um deles.. um absurdo, porque estavam em condições de vôo, poderiam ser re-convertidos ( ao menos um ) em B707-300s e pintados iguais aos que orgulhosamente voaram pela Varig até serem vendidos à FAB. Por quê não manter um deles fazendo vôos turísticos pelo Brasil ? Nossa história viva, ainda voando. A que preço ? Sim, custa caro manter um velho gigante desses no ar, mas eu, como muitos no Brasil e no mundo, pagaria para ter a experiência de voar em um B707. E isso o manteria voando. Enfim, agora nada mais se pode fazer.. o VBF se foi e, como sempre, ninguém vai dar nenhuma justificativa. O patrimônio histórico brasileiro preserva prédios históricos, independentemente de serem propriedade privada, e quem os derruba está sujeito às penas da lei.. mas nossas aeronaves.. ninguém está nem aí para elas e não há consequência alguma para quem faz o que fez com o PP-VBF, com o FAB 2401 ( esse se acidentou no Haiti, até dá pra entender ), 2402, 2403 e 2404.

    1. Apenas uma correção: foi o FAB 2404 ( não o 2401, como mencionei) que deu perda total no Haiti. A propósito, qual foi o destino do 2404.. bem que poderia ainda estar lá e ser repatriado!

  8. Barbaridade. Qual o real motivo desse absurdo? Se vendessem por peça daria para suprir a necessidade de vários DC3 necessitados de peças. Seria difícil por a voar, mas não impossível…com boa grana, é claro

  9. Dois irresponsáveis o governo e a aeronáutica.
    Se fosse num país sério onde se usou este avião para a 2 guerra mundial ele seria colocado num museu.
    Eu entrei neste avião no aterro do flamengo e curti muito pois ele era pequeno e muito legal.
    Porque não fizeram um leilão?

    Só tem idiotas esse governo e a própria aeronáutica.

  10. Boa noite a todos.TRATA-SE DE UM CRIME LESA PÁTRIA. PODEM TER PLENA CERTEZA, SERÁ COMO SEMPRE COBERTO PELO MANTO DA IMPUNIDADE. PAIS SEM PASSADO, SEM HISTÓRIA. QUE TRISTEZA NO DIA DE HOJE. DR. PENTEADO

  11. Vicente Vazquez, não se trata de histeria coletiva não, eu acho que você não é do meio da aviação como muitos aqui ja foram, pessoas que viam e levavam seus filhos para tirar fotos ao lado do DC3 e que hoje já são adultos, pessoas que trabalharam na restauração dele na época da VEM, com certeza se algum de nós ficássemos sabendo que estava para acontecer essa catástrofe de assassinar esse avião como foi feito, nos iríamos nos mobilizar pelo nosso grupo e outros grupos e tentar pelo menos salvar ele desta atrocidade que foi cometida por pessoas no mínimo sem caráter e sem coração e amor pela história da saudosa VARIG, mais muita gente que não conseguiu trabalhar nessa empresa, guarda até hoje a inveja no coração.

  12. Quando tinha 5 anos de idade, viajei sozinha num avião da VARIG, de São Paulo a Belo Horizonte. Lembro muito bem dele. Uma aeromoça tomou conta de mim com muita gentileza e atenção. Isso foi em 1958. Será que era essa aeronave? RIP, lindo avião!

  13. Irá levar ainda algum tempo para desintoxicar e desinfetar o pais desta classe de pessoas com visão e pensamento tão obtuso e doentio, justificaram o injustificável. Foi pura e simples maldade, prazer em destruir.
    É impossível de acreditar de que não haviam pessoas interessadas em comprar a aeronave, mas a maldade irracional falou mais alto. Ainda levará algumas gerações para que o cidadão comum deste pais fique indignado e não indiferente a uma noticia desta natureza.

  14. Aos 50 anos, morreu parte de minha infância. Deixo para minha filha apenas as histórias que vivi ao “pilotar” esse avião.

  15. Li tudo aqui, li as postagens, reportagem e fotos… mas que vergonha, tristeza e nojo senti disso tudo.
    Sgt Clóvis – Mecânico de Patrulha – 1º/7º GAV – antiga BASV

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