Celebrado em 1963 e em vigor a partir de 1964, durante o mandato do presidente Castello Branco, o Acordo Básico de Cooperação Técnica Brasil-Alemanha, que previa o estabelecimento de convênios complementares para realização de projetos específicos de interesse para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, fundamentou o Convênio Geofísica Brasil-Alemanha (CGBA), que pode ser considerado o estopim para o planejamento de grandes projetos geofísicos em território brasileiro.
Firmado em 1970 e iniciado em 1971, o convênio contemplava, além da pesquisa geofísica, a realização de investigações geológicas e geoquímicas para prospecção de recursos minerais.
Cerca de quinze levantamentos aeromagnetométricos e aerogamaespectrométricos foram realizados na área estabelecida para estudos pelo convênio, cobrindo no total cerca de 570 mil km2 dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Este cuidadoso trabalho efetuado por profissionais brasileiros e alemães rendeu descobertas que até hoje são exploradas.
Com o início de suas atividades no período do governo do presidente Ernesto Geisel, o CGBA envolveu o Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) na coordenação, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) na execução dos levantamentos e o Serviço Geológico Federal da Alemanha (Bundesanstalt für Bodenforshung – BfB) como órgão executor alemão, que forneceu equipamentos e treinamento para uma equipe brasileira de nível médio e superior, constituída por aproximadamente 50 profissionais de diferentes formações, como técnicos em eletrônica, geofísicos, geólogos e engenheiros.
Entre os nove geofísicos brasileiros que participaram do treinamento em processamento de dados na cidade de Hannover (Alemanha), estava Roberto Breves Vianna que foi o coordenador do projeto que descobriu a maior província uranífera do país e que atualmente é a única mina em operação na América Latina, a jazida de Lagoa Real, no município de Caetité (BA).
Para o cumprimento do convênio, o Serviço Geológico da Alemanha designou entre os membros de seu corpo técnico um administrador e vinte e oito funcionários dos setores de geofísica e geologia; cedeu ao governo brasileiro um avião Aero Commander 680F, um helicóptero S-58T (D-HAGB) equipado com sensores (magnetômetro, gamaespectômetro e HEM), instrumentos de geofísica terrestre, laboratórios de fotografia e um minicomputador; além de contratar a empresa germânica Prakla-Seismos para a realização do levantamento aerogeofísico de reconhecimento, como previsto no texto que firmou o convênio, no caso de não existir instituto brasileiro com capacidade técnica para tal.
O Centro de Computação da Prakla-Seismos além de realizar, com o acompanhamento dos especialistas brasileiros, o processamento dos dados obtidos, ainda preparava os respectivos mapas que, depois de interpretados preliminarmente pelo Serviço Geológico da Alemanha, eram enviados à sede do convênio, em Belo Horizonte (MG), para seleção e controle das regiões promissoras.
O CGBA gerou dezenas de relatórios técnicos de aerolevantamentos, prospecções, reconhecimentos geológico-geofísicos, detalhamentos de anomalias, entre outros, fruto do investimento de cerca de US$ 350 milhões.
Após a conclusão dos trabalhos do CGBA, a aeronave doada pelo governo alemão iniciou o levantamento do Projeto Aerogeofísico Alto Parnaíba, do DNPM.
Depois de terem sido voados cerca de oito mil km lineares, em novembro de 1974, houve um acidente aéreo que causou a morte de um piloto e a perda total do equipamento e do avião.
Centro de Geofísica Aplicada – Segundo o texto que firmou o CGBA, ao término das atividades dos especialistas alemães no convênio, o que ocorreu em 1975, todo equipamento utilizado seria transferido para o Ministério das Minas e Energia, sem custos para o governo brasileiro, com o intuito de estabelecer um centro geofísico para investigações terrestres, valendo-se assim da experiência adquirida nas atividades de processamento e interpretação, que passaram a ser desenvolvidas consecutivamente no Brasil na segunda etapa do convênio.
Em portaria assinada em novembro de 1975 foi criado o Centro de Geofísica Aplicada (CGA), instalado em Belo Horizonte e vinculado ao DNPM.
O CGA tinha como principal objetivo o fornecimento de assessoria técnica aos empresários e mineradores brasileiros, já que além de possuir os equipamentos necessários para a realização de levantamentos aéreos e terrestres em outras regiões do país, detinha o conhecimento técnico (os profissionais que trabalharam no CGBA foram integrados a este centro de geofísica) e o auxílio dos peritos alemães, que paulatinamente estavam sendo substituídos pelo pessoal brasileiro já treinado.
Após transferências e demissões, o quadro técnico do CGA em 1977 era composto por 40 funcionários. O centro encerrou suas atividades em 1983 e seus técnicos foram transferidos para a CPRM.
Entre os projetos realizados pelo CGA que foram desdobramentos do convênio, além de Lagoa Real, destacam-se os aerolevantamentos executados para pesquisa de fluorita em Santa Catarina, de cromita e carvão no Rio Grande do Sul e cobre, no Vale do Curaçá, na Bahia e em Pernambuco.
As fotos coloridas são de autoria de Mano Caldas e as preto e branco são de autoria de Pedro Xavier Filho (Todas via Vandeir Alves dos Santos)