Empresa desenvolveu projeto em parceria com IAI e apoio da Marinha do Brasil
Instalado bem no extremo sul do Brasil, no Farol do Albardão (RS), o primeiro Radar OTH (Over The Horizon – Além do Horizonte), da América do Sul, lançado oficialmente pela IACIT durante a FIDAE 2018, o Radar OTH 0100 recebeu a visita da reportagem da revista Tecnologia & Defesa através do Jornalista Roberto Caiafa.
Empresa brasileira com produtos e serviços de alta tecnologia, a IACIT é a responsável pelo desenvolvimento original do sistema OTH, que contou com a parceria da ELTA Systems, empresa do grupo Israel Aerospace Industries (IAI), com relação a transferência de tecnologia do processador de sinais do radar, e o vital apoio da Marinha do Brasil, que cedeu as instalaçoes do Farol do Albardão para a instalação do sítio radar (600 metros de frente, tomando o mar como referência, por 300 de profundidade).
Entre as aplicações estão a vigilância marítima para controle e gerenciamento de embarcações, combate a ações ilícitas, busca e resgate no caso de acidentes aéreos e marítimos, sensoriamento meteorológico e muito mais.
Em países como Austrália, Estados Unidos, China, Rússia e Canadá, o sistema já vem sendo utilizado com sucesso.
Além das Forças Armadas, o radar pode ser utilizado pela Polícia Federal e Forças de Segurança portuárias no controle marítimo de embarcações.
Sete anos desde o início dos estudos
Em 2017, as equipes envolvidas realizaram os testes de calibração e de validação de dados do sistema, etapa concluída após um ano de obras e cerca de R$ 17 milhões investidos na construção de benfeitorias e instalações do sítio.
Hoje, o Radar OTH já está totalmente pronto e operacional, realizando o monitoramento e vigilância das fronteiras marítimas do extremo sul do Brasil.
O sensor da IACIT é capaz de monitorar embarcações localizadas em até 200 milhas náuticas da costa (e mesmo além, contatos a 300 milhas náuticas foram demonstrados), enxergando as riquezas dos mares brasileiros dentro do limite de jurisdição nacional.
Sensores oceânicos além da curvatura terrestre conferem ao País que domina essa tecnologia a habilidade em detectar as embarcações que não transmitem sinal o sinal AIS (Automatic Identification System), conhecidas como embarcações “não cooperativas”.
Rio Grande, a base inicial
Após um voo Belo Horizonte/Porto Alegre com escala no Galeão* (Rio), encontramos a equipe da IACIT no aeroporto internacional Salgado Filho e reunimos nosso equipamento e demais jornalistas convidados em três veículos cabine dupla 4×4 pick-ups diesel, essenciais para se chegar ao Farol do Albardão em segurança.
Pernoitamos na cidade de Rio Grande, em simpático hotel a beira mar. A saída de missão se deu na manhã do dia seguinte
A maior praia do mundo em extensão, Cassino, nos serviu como estrada de rodagem plana, larga e confiável.
Rodamos 145 km até chegarmos ao Farol do Albardão, a pouco mais de 100 km de distância do Uruguai (Arroio Chuí, o ponto mais setentrional do Brasil, é a outra rota de acesso, distando pouco mais de 150 km pela fronteira).
Na entrada da área do sítio radar OTH a necessidade de alugar carros 4×4 se faz entender.
O sítio do Albardão é composto por uma pequena série de construções militares simples, dispostas em torno da atual torre do Farol, uma obra de 1949 erguida em local tão inóspito pela Marinha do Brasil para apoiar a navegação e diminuir a grande quantidade de naufrágios registrados naquela região.
Com 50 metros de altura e 300 degraus, o Farol é ladeado pelos dois conjuntos de antenas do sistema OTH da IACIT, separados entre eles por uma distância de 400 metros, de modo a evitar interferência entre os equipamentos.
A antena emissora, do tipo torre anular estaiada com cabos trançados lançados é apoiada por um grupo gerador duplo computadorizado montado em container cercado por descaregadores de estáticas/para-raios (de fato, todas as instalações de energia e eletrônicos dispoem de para-raios de cobertura nos quatro quadrantes).
O grupo de 23 antenas receptoras, servido pelo mesmo dispositivo gerador de energia montado em container duplo computadorizado, está disposto em um círculo. Importante explicar que tanto o espaço da antena emissora quanto da receptora são cercados, vigiados por câmeras e sensores de movimento.
Caso um pássaro ou ser humano, por exemplo, inavertidamente entre nesse espaço, sua integridade em relação as emissões eletromagnéticas intensas é preservada, pois o radar se auto desliga (para de emitir). Lembrando que um sítio radar é uma área militar com todas as consequências para infratores e/ou invasores.
Para interpretar os sinais detectados por esse arranjo de antenas, Albardão possui mais um conjunto de shelters equipados com poderosos computadores montados lado a lado para os operadores OTH. O software que faz a interface de trabalho dos observadores é um desenvolvimento próprio da IACIT.
Com ele, os operadores podem determinar a direção do facho de 120º do radar, a compilação automática dos alvos avistados, com informações referentes a tamanho (comprimento x calado), derrota, se estão se movendo e velocidade,e identificação/bandeira quando emitindo o beacon obrigatório do sistema AIS.
As informações coletadas ficam disponíveis através de interface gráfica de menus organizados com os dados.
Salinidade da Água do Mar
O princípio de funcionamento do radar OTH da IACIT envolve a compreensão da tecnologia de emissão de radiação eletromagnética VHF propagada pela superfície do mar, usando a salinidade da água como condutor do sinal e seu reflexo quando encontra um obstáculo, que retorna permitindo assim detectar um alvo.
A conta é simples. Um sítio radar com scan de 120º e alcance de até 300 milhas náuticas, além do horizonte, custou muito menos que outros sistemas litorâneos, mesmo tomando como medida instalações de outros países..
Os estudos feitos pelos engenheiros da empresa indicam que com 14 sítios todo o litoral brasileiro pode ser coberto.
Ao invés de investir os R$ 10 bilhões prometidos pelos últimos Governos ao Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), uma megalicitação destinada a garantir justamente… a capacidade de controlar e realizar a vigilância de todo o litoral brasileiro, através da fusão de dados de sensores montados em navios, estações terrestres, satélites, etc, seria possível fechar a vigilância do litoral com um custo menor, ao menos no importante aspecto cobertura radar além do horizonte!
Traduzindo, o serviço pode ser feito por uma fração dos R$ 10 bilhões estimados para custear o Sisgaaz, racionalizando o emprego de meios como navios patrulha oceânicos, helicópteros navais equipados para esclarecimento marítimo, busca e resgate, aeronaves de patrulha antisubmarino da Força Aérea, etc.
Outro bônus, a liberação de recursos orçamentários para aquisição de capacidades complementares como veículos submarinos remotamente pilotados e novas classe de navios como os caça minas, corvetas e futuramente fragatas seria facilitada, já que a pressão sobre o orçamento diminuiria diante da óbvia relação custo x benefício vantajosa para o País proporcionada pelo radar OTH 0100 da IACIT.
Alguns dados citados na palestra de apresentação sobre o radar OTH (que pode ser assistida na íntegra no link abaixo):
- A tecnologia nacional adota o conceito de “surface wave” (onda de superfície) para a detecção de alvos, o que garante rastreabilidade de uma área maior. Sensores convencionais fazem uma “varredura” seguindo a curvatura da Terra, o que se traduz em alcance limitado pela linha de visada direta.
- Operando na faixa de HF, o Radar OTH é capaz de monitoração além do horizonte de centenas de quilômetros no ambiente marítimo. O radar emprega tecnologia “phased array” e um sistema específico de técnicas de eliminação de interferências (clutting) proporcionando cobertura de ampla área marítima em todo o tempo, independente das condições meteorológicas ou estado do mar (sea state).
- Este sistema avançado de monitoramento marítimo integra as capacidades “oceanic environmental HF” da IACIT, tecnologias capazes de monitorar as condições climáticas e fazer a vigilância da superfície dos oceanos, bem como o controle da poluição e prevenção de riscos ambientais em eventos cataclísmicos como tempestades e tsunamis.
SOBRE a IACIT
Certificada pelo Ministério da Defesa como Empresa Estratégica de Defesa (EED), a IACIT vem atuando há mais de 30 anos em projetos ligados ao setor.
Com a criação do Departamento de Engenharia de Pesquisa e Desenvolvimento e a implantação de uma unidade fabril há cerca de 10 anos, a empresa ampliou o portfólio de produtos e serviços.
Atualmente, a IACIT é a única empresa brasileira fabricante de auxílios à radionavegação aérea, e fabrica também radares meteorológicos, radares Oceânicos, radares para Vigilância Marítima – OTH, sistemas de telemetria e telecomandos e equipamentos e soluções de contramedida eletrônica aplicadas à segurança pública e defesa.
Possui uma estrutura de engenharia certificada para o desenvolvimento de soluções tecnológicas complexas tanto para hardware como para software estabelecida em São José dos Campos, tendo lançado recentemente produtos meteorológicos de software baseados em redes neurais artificiais (RNA) para aplicação a gestão do tráfego aéreo, proporcionando grandes benefícios para rotas e pouso de aeronaves.
*a reportagem de T&D voou GOL Linhas Aéreas Inteligentes.