Este artigo, resultado de laborioso trabalho de pesquisa histórica, levantamento de imagens e realização de entrevistas com participantes da tragédia no Edifício Joelma foi publicado originalmente pelo site Polito Policial (www.pilotopolicial.com.br), sendo de autoria do coronel PMESP Eduardo Alexandre Beni, ex-integrante do GRPAE.
- Em 1° de Fevereiro de 1974 o COE – Comandos e Operações Especiais – em operação conjunta com helicópteros da FAB, realizou a primeira operação helitransportada da América do Sul, quando do resgate das vítimas que estavam inacessíveis no telhado do Edifício Joelma.
- Esforços de várias frentes foram somados para diminuir o número de vítimas, diversas unidades militares e civis participaram dos trabalhos de resgate e salvamento das vítimas, como COE, ROTA, Corpo de Bombeiros, Batalhões de área do centro, IV COMAR e empresas civis.
- Nosso total respeito aos que se foram neste trágico evento e a todos os heróis que arriscaram suas vidas e escreveram história naquele dia desbravando áreas de conhecimento operacional através de métodos nunca antes realizados na história do Brasil.
As 08:54h do dia 1° de fevereiro de 1974 o ar condicionado do 12° andar do Edifício Joelma apresentou problemas técnicos e entrou em curto circuito, iniciando o incêndio.
As chamas espalharam-se rapidamente pelos demais pavimentos em razão da grande quantidade de materiais inflamáveis e da falta de regramentos preventivos ligados a incêndios que não eram obrigatórios à época como escadas de emergência, brigadas de incêndio ou plano de evacuação.
No início do sinistro, muitos conseguiram fugir pelos elevadores, até que estes pararam de funcionar e também provocaram várias mortes, a escada foi rapidamente tomada pela densa fumaça, impedindo a fuga dos ocupantes, que ao invés de descerem, começaram a subir, na esperança de serem resgatados no topo do prédio, crendo na existência de um heliponto, porém, encontraram apenas uma laje com telhado feito de amianto.
Aí então começou a atuação heróica de Policiais Militares, no momento em que todas as esperanças desaparecem e os riscos são extremos, destacam-se os fortes de caráter, os destemidos, e os corajosos, que conhecem o perigo e mesmo assim não deixam de atuar e avançar!
O primeiro guerreiro a saltar de um helicóptero civil sobre o edifício em chamas foi o Sgt PM Cassaniga do COE (segundo relatos foi do helicóptero do DERSA, pilotado por Silvio Monteiro). Ele saltou da aeronave a uma altura de cerca de 4 metros e quando tocou o teto fraturou seu tornozelo, mesmo assim, esqueceu a dor e organizou o salvamento.
O único helicóptero que teve atuação efetiva na retirada de pessoas do teto do Joelma foi o helicóptero militar UH-1H da FAB pilotado pelo Maj Av Pradatzki, Ten Av Taketani e tripulado pelos seguintes militares: Sgt Silva, mecânico da aeronave, o então Ten PM Nakaharada (COE), Sd PM Juvenal (COE), Sd PM Cid Monteiro (COE) e o médico civil Dr Wanderley.
Essa foi a segunda equipe a desembarcar no telhado do Joelma que nesse ponto alcançava temperatura superior a 100° Celsius, com o detalhe de que nenhum deles dispunham de equipamentos apropriados para o resgate, como roupas, máscaras, ancoragem, etc.
Como o helicóptero militar não conseguia pousar no teto do edifício, as pessoas se agarravam nos esquis do UH-1H da FAB e, com ajuda da tripulação, eram colocadas para dentro do helicóptero.
Foi uma operação arriscada de embarque a baixa altura, mas que funcionou, sendo a pioneira na América do Sul, nunca antes realizada.
O helicóptero UH-1H fazia pairado sobre o edifício e conseguia retirar as pessoas. Os feridos eram levados ao heliponto do prédio da Câmara Municipal, onde ficaram pousados os demais helicópteros e seus pilotos civis (aeronaves civis da Pirelli, Papel Simão, DERSA, etc) auxiliando as operações de salvamento, transportando-as aos hospitais.
Enquanto isso, o Comandante Carlos Alberto, primeiro piloto de helicóptero do Brasil, com a ajuda do Eng. Carlo de Bellegarde de Saint Lary, pousou o helicóptero da empresa Pirelli sobre uma pequena laje de um prédio vizinho.
Ali, os bombeiros passaram cordas, ligando os dois prédios e tentavam retirar as pessoas, sendo que atravessaram os prédios, utilizando-se da técnica “comando craw”, os então Cap PM Hélio Caldas do Bombeiro, o Ten PM Lisias (COE), o Sd PM Antônio Benedito Santos (COE) e o Sd PM Osmar Lachelli (COE).
Além desses, participaram do salvamento no edifício, o Cap PM Idalécio, Sgt PM Newton, Sd PM Fucile e Sd PM Santos. Certamente existem outros profissionais que atuaram nesse incêndio.
Às 13h30, todos os sobreviventes haviam sido resgatados. Dos aproximadamente 756 ocupantes do edifício, 191 morreram e mais de 300 ficaram feridos….