A Calidus LLC, empresa localizada em Abu Dhabi, decidiu diversificar a sua atuação de mercado embarcando na fabricação de aeronaves com dois projetos, um militar (B-250 Bader) e um civil (SOVI). Ambos com DNA brasileiro.
O turboprop B-250 Bader, de aspecto robusto, está sendo exibido com as marcas da Força Aérea dos Emirados Árabes Unidos, embora também apresente a matrícula civil brasileira PR-ZNU.
Os sete pontos duros, três em cada asa mais a linha central, podem receber diversos armamentos (expostos em volta do avião). No ventre do B-250, uma torre de sensores eletro-ópticos permitirá ao modelo disparar bombas e mísseis guiadas inteligentes, entre outras armas, de dia ou a noite e em qualquer condição climática.
O B-250 Bader foi projetado para executar missões de apoio aéreo aproximado ou Close Air Suporte (CAS); inteligência, vigilância e reconhecimento; contra-insurgência e treinamento avançado.
Pouco maior que o Super Tucano A-29 (uma comparação inevitável, já que ambos foram desenhados pelo engenheiro Joseph Kovács), o B-250 Bader terá um preço de mercado “mais em conta” que o avião da Embraer, declarou a Calidus durante entrevista concedida a Paul Jackson (Aviation Week).
O SOVI de quatro lugares, apresentado em Abu Dabi ainda em forma de protótipo, tem a mesma origem brasileira. Desenhado como T-Xc para substituir os velhos Neiva T-25 Universal, usados pela Academia da Força Aérea do País sul-americano (venda onde ainda não obteve sucesso), pode ser usado também como aeronave utilitária/LSA ou de turismo.
Ambos os aviões foram transportados para o Dubai Airshow, a partir da cidade de São José dos Campos (SP), por um AN-124 Ruslan da Antonov Airlines.
A Calidus deverá anunciar planos para a produção futura dos dois aviões nos Emirados Árabes Unidos, adicionando um novo capítulo a uma história já interessante, dois projetos brasileiros que não obtiveram sucesso no seu País de origem alcançam o sucesso no distante Golfo Pérsico.
Uma história de persistência
Em 1983, no Brasil, Joseph Kovács colocou em papel algumas ideias para um avião de turismo de dois assentos e com capacidade acrobática. O projeto do K-51 Peregrino começou em 1988, mas o primeiro voo só aconteceu em 28 de novembro de 1998.
Embora promissora, a aeronave não conseguiu encontrar um patrocinador disposto a financiar a produção de uma versão kitbuilt proposta pelo projetista, e o modelo não conseguiu entrar no mercado.
Sem demora, Kovács planejou um K-52 maior, para o qual o K-51, até então com mais de 200 horas de voo, atuaria como o Proof of Concept (provador de conceito).
A Novaer, fundada em 1998 por Luiz Paulo Junqueira (anteriormente chefe da divisão de equipamentos da Embraer e CEO da Geometra), tornou-se a contratante principal para a fabricação do trem de pouso do A-29 Super Tucano. Começava a escalada da empresa de São José dos Campos.
Em outubro de 2007, a Novaer contratou os serviços dos Kovács e adquiriu os direitos sobre seus projetos, propondo ao mercado em 2009 uma versão de assentos side by side (lado a lado), do K-52 (Projeto T-Xc Pilgrin), um avião pensado como substituto potencial para o T -25 Universal da Força Aérea Brasileira, e o seu similar civil SOVI, de quatro lugares. Com maior potencial de vendas, o SOVI voou pela primeira vez em 22 de agosto de 2014. A aeronave mostrada em Dubai é este avião original, detentor do registro brasileiro PP-ZKV e a designação de tipo N-210.
Desenvolvimentos posteriores visando o mercado de aeronaves COIN, em associação com empresas norte-americanas, resultaram na criação do projeto Dragon A-67, que culminou com a construção de um malfadado protótipo abandonado em 2006 após um acidente no seu único voo. A Golden Aviation, do Missouri, foi a última a colocar dinheiro no projeto.
Ainda assim, os abnegados engenheiros da Novaer reprojetaram o A-67 Dragon e conseguiram completar a muito custo, e em completo segredo, um segundo protótipo… O mesmo B-250 Bader apresentado ao mundo pela Calidus durante o Dubai AirShow 2017!