1º GDA – o perfil da unidade de caça que vai operar o Gripen

No final da década de 1960, os vetores da defesa aérea brasileira estavam muito obsoletos para continuar com a missão de proteger o espaço aéreo de ameaças ou de fazer a sua vigilância de maneira rápida e efetiva.

Os meios disponíveis naquela época eram alguns poucos caças a jato bimotores Gloster Meteor, que apresentavam elevado desgaste operacional e fadiga estrutural. Além desses, que entraram em serviço a partir de 1953, a Força Aérea Brasileira (FAB) havia recebido, desde 1958, 33 caças táticos Lockheed F-80C Shooting Star, mas esses não eram as plataformas mais adequadas para a defesa aérea. Tinha apenas seis metralhadoras de calibre .50 polegadas, enquanto o Gloster Meteor dispunha de quatro canhões de 20mm.

A FAB também empregou a sua frota de 58 Lockheed T-33A e AT-33A, usados para formação dos pilotos de caça, para cumprir as missões da Aviação de Caça. Mas eram tipos ainda mais inadequados, com apenas duas metralhadoras calibre .50 polegadas.

Além da obsolescência da frota, em 1967 era preciso dispor de vetores que atendessem as exigências de um novo sistema que começou a ser implantado no país, o Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDACTA).

O conceito integrava o controle de tráfego aéreo civil e a defesa aérea usando uma mesma estrutura e rede de radares. A partir de então, de forma gradativa, foram ativados quatro Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA) cobrindo todo o território nacional.

Em 12 de maio de 1970, por uma série de razões técnicas e políticas, o Dassault Mirage IIIE/D foi escolhido como o vetor para integrar esse novo conceito, fazendo a interceptação de ameaças detectadas pelos CINDACTA. Ao todo, dez Mirage IIIE e quatro Mirage IIID foram adquiridos para equiparem a antiga 1ª Ala de Defesa Aérea – 1ª ALADA, ativada em 23 de outubro de 1972.

Foto: FAB

Diferente de tudo o que a FAB havia operado até então, o novo caça chegava a duas vezes a velocidade do som, em torno de 2.300km/h, tinha radar que atuava nos modos ar-ar e ar-tera Thompson CSF Cyrano II e um radar doppler, para navegação.

Usava míssil guiado por calor Matra R-530 e tinha dois canhões de 30mm.

O local escolhido para a operação dos Mirage pela ALADA foi a cidade de Anápolis, que teve a primeira base da FAB construída especificamente para operar um modelo de avião.

A cidade é próxima ao centro político nacional, a capital Brasília, alcança em poucos minutos, em voo, por um caça supersônico. Além disso, apresenta tempo bom em boa parte do ano. Em Anápolis havia uma área considerável para a criação de uma estrutura dedicada a operação do Mirage.

O Mirage chegou em 1973 e, em 19 de abril de 1979, a 1ª ALADA foi desativada, dando lugar para o 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), que perdura até os dias de hoje.

Ao longo de toda a sua existência, o foco principal do esquadrão foi a realização das missões de interceptação e defesa aérea. Combates ar-ar 1×1, 1×2, 2×2, estudo de doutrinas modernas, análises das lições aprendidas em conflitos ao redor do mundo e a busca constante para manter-se atualizado em termos de combate aéreo foi o objetivo no qual o 1º GDA concentrou os seus esforços. Missões ar-solo compunham a rotina de adestramento, porém em menor escala.

Durante o exercício internacional Mistral I, realizado em Natal com a participação dos Mirage 2000C da França, equipados com sensores e sistemas muito mais modernos se comparado ao Mirage IIIE, o 1º GDA obteve vantagem em vários combates após terem estudado os pontos fracos do radar dos caças franceses. O resultado de tanto esforço estava, na prática, demonstrado.

Esse perfil operacional continuou com a chegada dos Mirage 2000C/B em 2006, e se estende até os dias de hoje com o Northrop F-5EM/FM.

Foto: Sgt Johnson / FAB

As missões realizadas pelo esquadrão atualmente incluem a de interceptação, combate aéreo visual, combate aéreo BVR (com mísseis de longo alcance), escolta de uma força atacante e varredura, por exemplo.

A chegada dos novos Gripen E/F vão impactar profundamente a rotina de missões do 1º GDA, escolhido para ser a unidade pioneira a operar o novo caça da FAB.

Pelo fato de o Gripen dispor de avançados sistemas de guerra eletrônica, radar, infrared search and track (IRST), agilidade e velocidade muito superior se comparada ao F-5EM/FM, além de uma filosofia centrada em rede e ampla capacidade multifunção, é possível que existam mudanças no perfil de missões.

A FAB deve reativar o 1º/16º GAv Esquadrão Adelphi, que ao longo de toda a sua existência, até a sua desativação em 2016, operou com o Embraer AMX principalmente em missões de ataque ao solo. Apesar desse histórico, não significa que o Adelphi continuará com esse perfil.

Foto: Sgt Johnson / FAB

Alguns países rodiziam, entre esquadrões que operam um mesmo modelo de caça, a sua missão principal. Ao longo de todo um ano de instrução e adestramento, um esquadrão prioriza as missões de defesa aérea, mantendo um número bem menor de voos de ataque ao solo, enquanto o outro inverte essa relação, de forma que ambos se mantêm aptos a cumprir um variado leque de missões. Já outros países buscam manter seus esquadrões específicos numa função.

Ainda é desconhecida, detalhadamente, a maneira que a FAB vai operar os Gripen nos seus esquadrões de caça. Entretanto, seja qual for, é certo que a sua decisão estará de acordo com os mais avançados e modernos conceitos e doutrinas, atendendo as demandas e necessidades da defesa aeroespacial do Brasil.

 

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Comentários

2 respostas

  1. O governo brasileiro esta de parabens, e acho que para o futuro será ainda melhor. Nós temos que manter a soberania nacional a qualquer preço, esse país nos pertence, temos que ser patriotas e nao permitir que nos roubem diariamente como tem acontecido nos ultimos 518 anos !

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