VBC Cav – Centauro II, o novo blindado do Exército

Esta será a primeira vez na história do Exército que a Força Terrestre terá a seu dispor um blindado considerado o “estado da arte” de sua categoria.

No dia de hoje, 25 de novembro, o Exército Brasileiro (EB), por meio do Comando Logístico (COLOG) / Diretoria de Material (DMat), anunciou que a o Centauro II, do Consórcio Iveco–OTO Melara (CIO), venceu a concorrência internacional do projeto da viatura blindada de combate de Cavalaria média sobre rodas (VBC CAV – MSR) 8X8.

Desenvolvido pela empresa italiana CIO, uma “joint venture” entre a Iveco Defence Vehicles (IDV) e Leonardo, o Centauro II é considerado a referencia em blindado caça-tanques sobre rodas, pois é o único desenvolvido especificamente para este fim e não uma viatura blindada de transporte de pessoal adaptada. Desenvolvido como sucessor do Centauro B1, possui um peso aproximado de 30 toneladas e está equipado com uma torre Leonardo HITFACT MkII, de terceira geração (que também esta sendo ofertada para a modernização dos carros de combate Leopard 1A5), armada com um canhão de 120 mm e 45 calibres, e está em operação no Exército Italiano e sendo negociado com diversos países.

O protótipo do Centauro II ao lado do antecessor, o Centauro B1. Notar que as dimensões são parecidas (Foto: CIO)

O projeto VBC Cav

O projeto, aprovado em 11 de dezembro de 2020, pela PORTARIA – EME/C Ex Nº 275, mas que tem suas origens no Grupo de Trabalho (GT) NOVA COURAÇA, em 2019,  é referente à aquisição de 98 viaturas (originalmente eram 221), com seu respectivo suporte logístico (SLI), e um sistema de simulação.

Na primeira consulta pública, realizada entre 22 de março a 31 de maio de 2021, 55 empresas demonstraram interesse e 28 modelos foram ofertados, porém este número foi reduzido a cerca da metade no refinamento do projeto, realizado em 16 de novembro. Na entrega oficial das propostas apenas seis modelos se apresentaram, em grande parte pela exigência da viatura já estar em produção seriada, que foi tomada de forma inteligente pelo EB para diminuir os riscos (e como foi destacado por este autor em maio), e tendo o “short list”, publicado em 07 de outubro, com três candidatos: Centauro II, LAV 700 AG e ST1-BR.

As principais viaturas que concorreram no VBC Cav foram pauta em Tecnologia & Defesa

 

A escolha

A proposta escolhida apresentou diversas vantagens operacionais e logísticas em relação às concorrentes (que também possuíam vantagens específicas), incluindo o fato de possuir o único veículo desenvolvido (desde sua concepção) para ser uma viatura de combate, conforme a demanda do EB; o único ofertar como armamento o poderoso canhão de 120 mm; já contar com uma completa estrutura para fabricação e suporte logístico (com unidade de Sete Lagoas da IDV); e uma comunalidade de componentes a viatura Guarani que pode os classificar como pertencentes a uma mesma família.

Outra vantagem apresentada é que o Brasil se tornará a referencia para o modelo na América do Sul, e sua possível aquisição pelos países da região poderá ter a participação de empresas brasileiras no fornecimento de componentes e serviços, bem como fomentará a exportação de viaturas Guarani 6X6.

A grande comunalidade de componentes entre o Centauro II e o Guarani pode favorecer suas exportações (Foto: Exército Argentino)

O programa de compensação (“offset”) oferecido pelo CIO inclui a transferências de tecnologias em diversas áreas, com o investimento na a Fábrica de Juiz de Fora da Indústria Brasileira de Material Bélico (IMBEL), para a produção das munições de 120 mm, e um acordo com a empresa AEL sistemas para o desenvolvimento do simulador e nacionalização de componentes eletrônicos, dentre outros.

Próximos passos

O cronograma inicial (*) prevê o recebimento das duas primeiras viaturas (na Itália) no inicio do próximo ano e a entrega de lotes graduais até 2038, sendo que os primeiros montados no Brasil seriam entregues em 2027, com a destinação às seguintes Brigadas:

  • 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (1ª Bda C Mec), “Brigada José Luiz Menna Barreto”, de Santiago (RS), pertencente ao Comando Militar do Sul (CMS): 42 viaturas em seis subunidades;
  • 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (4ª Bda C Mec), “Brigada Guaicurus”, de Dourados (MS) , pertencente ao Comando Militar do Oeste (CMO): 42 viaturas em seis subunidades; e
  • 1ª Brigada de Infantaria de Selva (1ª Bda Inf Sl), “Brigada Lobo D’Almada”, de Boa Vista (RR), pertencente ao Comando Militar da Amazônia (CMA): 14 viaturas em duas subunidades;

(*) Estes prazos, quantidades e destinatários podem (e devem) ser alterados de acordo com as novas possibilidades e demandas da Força.

A assinatura do contrato, inicialmente prevista para 28 ou 29 de novembro, foi definida para o dia 5 de dezembro, no Quartel General do Exército (QGEx), o “Forte Caxias”.

Maquete do Centauro 2, já nas cores do EB, exposto na unidade fabril da IDV, em Sete Lagoas (Foto: IDV)
 

Nota do Editor: a revista Tecnologia & Defesa agradece ao Exército Brasileiro e a todas as empresas participantes pela disponibilização de informações que permitiram aos nossos leitores acompanharem todo o processo de forma rápida e confiável. 

P.R.B.J.

 

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Respostas de 49

  1. Escolha lógica. Equipamento de primeira linha. Referência no seguimento e, que apresenta como empresa responsável uma confiável fornecedora do Exército. Parabéns. Que outros lotes sejam adquiridos, futuramente, de maneira a chegar aos mais de 200 originalmente pretendidos.

      1. Bom dia Paulo. Foi citado na possibilidade da mesma torre equipar os Leo modernizados,o que seria muito bom. Pergunta,sem criticar os Leos,pois adoro esse blindado: como estão as estruturas,chassi,dos Leopardo? Ainda aguentam mais tempo de serviço?

  2. Otima noticia Bastos !
    Interessante na matéria é a definição de alocar 14 viaturas do Centauro na 1ª Brigada de Infantaria de Selva (1ª Bda Inf Sl), um poderoso sinal aos vizinhos do norte .
    Afinal a dissuasão é melhor que a guerra .

          1. Sei, então os Centauros esperarão do lado de cá do rio Oiapoque, em meio a floresta, igarapés etc etc. ´´É isso mesmo?

  3. Excelente noticia Bastos! Acho porém que o CMN deveria receber uma quantidade também deveria ser contemplado com essa bela máquina.

  4. Paulo

    Parabéns pelo excelente trabalho informacional, desde o início do projeto/programa, inclusive com vários artigos paralelos ao programa.
    Você, e mais alguns (poucos), são profissionais mais do que credenciados e de elevado nível na área de Defesa.
    Modestamente, entendo que é necessário às Forças Armadas, mostrar de forma mais incisiva à sociedade, a indispensabilidade de tudo que envolve Defesa, pois, sem esta, não há soberania.

    1. não tem nada de exclusividade do Sul
      serão 42 no Sul
      42 no centro-oeste
      14 no norte (amazonas)
      apenas sudeste e nordeste que não receberão blindados Centauro 2 neste lote.

      no sudeste e nordeste do Brasil não temos fronteira terrestre com nenhum país. Apenas o Oceano Atlântico.
      No norte a gigantesca floresta (Amazônia) meio que inviabiliza utilização de blindados, ainda assim o EB vai colocar 14 em uma unidade desta região.

      acho que a distribuição esta muito boa por enquanto. assim que o EB tiver mais dinheiro para um novo lote, eles podem pensar em outras unidades.

  5. Não sou militar, mas sei que foi a escolha correta para nosso exército.
    Acompanho o desenrolar desse assunto desde o começo e sempre foi dito que o ideal era o Centauro II com canhão de 120mm.

  6. Excelente escolha, principalmente pelo fato de haver muita comunalidade com o Guarani da mesma forma, o que facilitará muito a logística e possibilidade de a IMBEL produzir munição de 120 mm.
    Parabéns ao nosso Exército.
    Parabéns a TECNOLOGIA & DEFESA pelo excelente trabalho de informe.

  7. Eu apostava nele mesmo, faz mais sentido apesar da oferta chinesa ser interessante. Aliás, alguém pode informar o que são aquelas placas esféricas ao redor do veículo. São 4 ao todo.

  8. Parabéns ao EB pela decisão, uma pena que so serão 98 unidades, espero que em um futuro próximo o projeto de 221 possa ser retomado.

    PS: Parabéns Paulo Bastos por toda a cobertura que você deu, a matéria so ST1-BR ficou incrível valeu o esforço.

  9. Boa a leitura, excelente escolha do exército, mas pergunto como dúvida, há interesse do exército explorar mais “os italianos”, na parte de defesa, com uma encomenda grande e lucrativa p eles, italianos…, tirar mais proveitos na área de defesa?!, penso o mesmo com os suecos!!!
    O q vemos na Ucrânia as artilharia sendo destruídas, será q tem interesse ou mentalidade do exército inventar ou modificar artilharia de 105mm com estes chassi ou equipamentos ofertados na concorrência, (cito por causa da alta elevação do canhão do norinco, atira e foge p não ser localizado por contra bateria, drones, etc…), artilharia mecanizada móvel “ligeira”…
    Poderia vir algumas unidades do helicóptero de ataque mangusta como brinde…, abraços.

  10. Belíssimo presente de Natal antecipado para o EB.

    Que venham os 98. Depois o restante dos 221 pretendidos. E num futuro próximo que seus números sejam suficientes para substituir o Cascavel nas fileiras do EB.

  11. Perguntas que não querem calar

    1 – Quantas fabricas de blindados poderia ser montadas no Brasil com 5 bilhões de reais?

    2 – Qual o índice de componentes nacionais e de transferência de tecnologia que será zero, já que a montadora e italiana e a mesma do fabricante original?

    3 – quantos mil reais custa um drone capaz de colocar um carro de combate desses fora de operação como sobejamente ficou demonstrado na Ucrânia ?

    Em caso de eventual problema com um membro da OTAN como ocorreu com a Argentina na Guerra das Malvinas, nossos queridos parceiros italianos vão mandar pecas de reposição?

    1. Nenhuma dessas perguntas tem resposta clara. No caso dos VANTs, é de outra força armada, não tem como fazer essa comparação direta.

      Foram implantadas as oficinas nacionais da KMW ?

  12. Compras para modernizar e atender as necessidades imediatas das Forças Armadas brasileiras. E importante: não se adquirindo equipamentos e armamentos provenientes do estado de Israel, atendendo às recomendações do TIJ (Tribunal Internacional de Justiça) e do TPI (Tribunal Penal Internacional) e das principais entidades de Direitos Humanos ( Human Rights Watch, Anistia Internacional e B’tselem).

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