USA vs DJI: entenda o conflito entre o Governo Norte-Americano e a fabricante de drones

A chinesa DJI, fabricante de drones líder do segmento, foi apontada pelo governo dos Estados Unidos da América como uma espiã asiática.

De acordo com um documento vazado do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS, no original em inglês), os veículos aéreos não-tripulados da empresa podem estar recolhendo dados estratégicos sobre a infraestrutura norte-americana, transmitindo essas informações para servidores chineses.

Essa alegação não é recente: em agosto último, o Exército dos Estados Unidos emitiu um comunicado interno proibindo o uso de qualquer hardware ou software da DJI em operações militares.

Por sua vez, tal decisão foi feita com base em dois outros estudos publicados em maio (um da Marinha dos Estados Unidos e outro do Laboratório de Pesquisas do Exército).

Embora tais órgãos não tenham se pronunciado sobre o assunto, rumores afirmam que, para completar, o Departamento do Interior e o Departamento de Energia dos EUA também vetaram o uso desses equipamentos da gigante chinesa em tarefas operacionais.

Mas, afinal, por que os Estados Unidos abriu essa verdadeira perseguição à DJI? E, ainda mais importante: quais são as possíveis consequências desse conflito que parece tão inofensivo?

Por que os EUA estão rejeitando a DJI?

O governo dos Estados Unidos sempre utilizou drones da DJI para uma infinidade de tarefas, desde reconhecimento de campo em missões militares até fotografia aérea em operações técnicas.

Porém, nos últimos tempos, as autoridades norte-americanas têm demonstrado uma constante preocupação sobre a segurança de tais equipamentos. O exército do país, por exemplo, afirma que os produtos possuem vulnerabilidades graves que comprometem a sua confiabilidade.

A grosso modo, um drone é uma câmera voadora dotada de GPS e que usa ondas de radiofrequência (2,4 GHz e 5,8 GHz) para ser controlado. Além disso, esses veículos costumam permitir a conexão com um dispositivo móvel, que, por sua vez, quase sempre está conectado à internet.

Sendo assim, é muito fácil interceptar a comunicação entre um drone e seu controlador, tal como extrair as informações de voo do gadget e conseguir alguns dados estratégicos valiosos.

Há relatos de drones hackeados em operações militares?

Sim. Embora esse tipo de episódio nunca tenha ocorrido com um drone da DJI, em 2009, um VANT MQ-1 Predator (da General Atomics) dos EUA teve seu sinal de transmissão de vídeo interceptado por insurgentes iraquianos, que tiveram acesso a uma “visão privilegiada” de todo o território ocupado pelos soldados norte-americanos e puderam se preparar antecipadamente contra a investida dos ocidentais. Para tal, os guerrilheiros usaram um software russo que custa apenas US$ 26 (R$ 85).

Acontece que, tal como no modelo Predator, os drones da DJI não possuem comunicação criptografada, o que facilita muito a interceptação de seus sinais. Além disso, vulnerabilidades nos aplicativos usados para controlar os veículos podem permitir vazamentos de dados, o que incluem rotas de voo e gravações sigilosas de manobras militares.

Um drone é um computador voador, e, como qualquer computador, pode muito bem ser invadido remotamente.

Quais produtos da DJI foram vetados?

Absolutamente todo e qualquer produto ou da DJI teve seu uso proibido pelo Exército dos Estados Unidos. Atualmente, a fabricante comercializa seis linhas de drones (Spark, Mavic, Phantom, Inspire, Matrice e Spreading Wings), sendo que cada uma delas conta com diversos modelos e variantes.

O portfólio da marca agrega ainda suportes para câmeras, óculos FPV, baterias, módulos de GPS e muito mais. Tudo isso está expressamente vetado pelas forças armadas norte-americanas.

Aliás, o documento orienta, inclusive, que os militares desinstalem os aplicativos e softwares da DJI de seus computadores, laptops e dispositivos móveis em geral.

O que tal conflito significa aos cidadãos comuns?

De imediato, agências ou indivíduos contratados para prestar serviços aos órgãos governamentais dos EUA não poderão utilizar mais equipamentos da DJI — o que é inconveniente, visto que as séries Phantom e Inspire são as mais populares entre fotógrafos especializados em imagens aéreas, por exemplo.

Além disso, as constantes alfinetadas do governo norte-americano podem prejudicar a imagem da fabricante no ocidente, reduzindo seus lucros por aqui e obrigando-a a alterar sua política de vendas.

Por fim, não seria exagerado especular também que, em última instância, os EUA podem proibir totalmente a comercialização e o uso de tais drones em território nacional, algo que deixaria muita gente incomodada (incluindo os brasileiros que importam seus quadricópteros de lá e as empresas privadas que os utilizam para serviços diversos).

Por que alguém desconfiaria que a DJI é uma espiã?

Os Estados Unidos nunca confiaram na China e o inverso também é válido. As agências governamentais de cada país sempre evitaram usar soluções tecnológicas projetadas pelo outro, então tal conflito chega a ser natural.

Porém, venhamos e convenhamos: desta vez, os chineses colocaram lenha na fogueira que é a paranoia norte-americana: os termos de uso dos softwares da DJI apresentam algumas passagens suspeitas e que fariam qualquer indivíduo ficar com uma pulga atrás da orelha.

Para utilizar um app da marca, é necessário concordar que seus dados de voo “podem ser monitorados e oferecidos às autoridades governamentais de acordo com as normas regulamentadoras locais”. Isso, de acordo com a DHS, significa que a DJI está usando seus drones para recolher informações sobre o território estadunidense e enviá-las, sem o consentimento do usuário, para servidores localizados nas cidades de Taiwan e Hong Kong.

A DJI tem realmente tanta influência assim?

Acredite, ela tem. Embora o Exército dos EUA só tenha emitido 300 certificações de aeronavegabilidade para uso interno (o que significa que apenas 300 drones eram usados para fins militares), a DHS nota que, em julho de 2017, ao menos dez organizações de grande porte com operações nas áreas de transporte ferroviário, educação, segurança, mídia e agricultura utilizavam equipamentos da marca.

Não é à toa que a DJI é tida como “a Apple dos drones”, tendo uma receita estimada em 10 bilhões de yuan (US$ 1,5 bilhão). Em março último, mesmo mês em que os EUA começaram a demonstrar preocupação com seus produtos, a corporação atingiu um market share de 50% na América da Norte. Seus robôs voadores são um sucesso absoluto.

O que a DJI está fazendo para resolver esse embate?

Poucos dias após ser alertada sobre a proibição de seus drones por parte do Exército dos Estados Unidos, a DJI emitiu um comunicado oficial lamentando a decisão dos militares. Confira:

Pessoas, empresas e governos ao redor do mundo confiam nos produtos e tecnologias da DJI para os mais diversos usos, incluindo aqueles mais sensíveis e operações de missões críticas.O memorando do Departamento do Exército até mesmo reporta que eles ‘emitiram mais de 300 certificados de aeronavegabilidade para os produtos DJI em apoio de várias organizações com uma variedade de conjuntos de missão’.

Nós estamos surpresos e desapontados em ler os relatórios da restrição não-reportada pelo Exército dos Estados Unidos sobre os drones da DJI, assim como não fomos consultados durante a decisão deles. Ficamos felizes em trabalhar diretamente com qualquer organização, incluindo o Exército dos Estados Unidos, que tem preocupações sobre o nosso gerenciamento de problemas cibernéticos.

Entraremos em contato com o Exército dos EUA para confirmar o memorando e para entender o que especificamente significa ‘vulnerabilidades cibernéticas’. Até lá, nós pedimos para que todo mundo se abstenha de especulações indevidas.

Allen Wu (DJI) –  YOSHIAKI MIURA PHOTO

Poucos dias depois, a companhia anunciou que disponibilizaria, em breve, um modo de voo totalmente offline para todos os drones de seu portfólio, evitando preocupações com vazamentos de dados e interceptações indevidas. Porém, até o momento, tal novidade não foi lançada e não é possível afirmar se tal atitude resolverá o conflito com os Estados Unidos.

Fonte: Tudo Celular

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