O emprego do KMW LFME no tiro real da VBCC Leopard 1A5BR

Por Bruno Fernandes Mendonça, 3º sgt cavalaria, Monitor do CIBld, e
Carlos Alexandre Geovanini dos Santos, tenente-coronel, Comandante do CIBld

Com a necessidade de fazer o acompanhamento do tiro real da plataforma de combate Leopard 1 A5 BR, o Exército Brasileiro, por intermédio do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), adquiriu, em 2014, pelo valor de US$ 2.300.000, da empresa alemã Krauss-Maffei Wegmann (KMW), o Life Firing Monitoring Equipment (LFME), equipamento destinado a monitorar toda a dinâmica do tiro do carro de combate, permitindo maior eficiência na sua execução.

A aquisição foi o resultado da participação do Brasil em diversos anos nas International Master Gunners Conference (IMGC), evento que reúne Instrutores Avançados de Tiro de vários países usuários do Leopard.

VBCC Leopard 1A5BR (Imagem: Roberto Caiafa).

Muitos deles já faziam a utilização desse meio para o acompanhamento do tiro de suas plataformas blindadas dotadas de sistema de armas, tornando-se assim, uma referência para que os IAT brasileiros vissem a importância da necessidade da compra de tal material.

Outro evento importante que também auxiliou para que houvesse esclarecimento das possibilidades desse equipamento foi o encontro de usuários do LFME, que ocorre anualmente e tem como participantes usuários e funcionários da empresa fabricante (KMW).

O objetivo do encontro é a troca de informações a respeito do uso do LFME, estado de manutenção, gerenciamento da obsolescência, programas de modernização, necessidade de desenvolvimento de novas capacidades para o sistema sendo que, todos estes aspectos, são abordados por uma dupla ótica – usuários e fabricantes.

Após o levantamento dessas informações, se optou pela compra de um conjunto altamente móvel e acomodado em caixas de transporte (modelo Portátil). Essa versão possui menos componentes, muitos deles de emprego civil e facilmente disponíveis no mercado.

Vista posterior de um VBCC leopard 1A5BR equipada com o DSET, e apta para realizar a simulação viva usando o LFME. (Imagem: Roberto Caiafa)

Seu funcionamento é através do sistema Windows 7, possui interface de operação similar ao Microsoft Office e suas conexões e sistema de gravação dispõe de tecnologia atual e comum (cabos HDMI e pendrives USB, por exemplo).

O Brasil foi o primeiro a receber o LFME com essa formatação, fato que gerou interesse de outros países em processo de modernização do equipamento, como o Reino Unido.

Atualmente esse equipamento encontra-se no Centro de Instrução de Blindados (CIBld), localizado em Santa Maria (RS), onde é utilizado nos exercícios de tiro real dos cursos de operação da VBC CC Leopard 1A5BR e no Curso Avançado de Tiro.

Por existir apenas um LFME, o CIBld disponibiliza e coordena o empréstimo aos demais usuários, Regimentos de Carros de Combate, para que também possam utilizar desse meio em seus exercícios no terreno, sendo responsável pela cautela o instrutor avançado de tiro da OM.

Figura 1: Visão geral de comunicação do sistema de LFME® Fonte: Manual do Operador – Leopard 1A5 LFME Portátil

O conjunto foi adquirido para solucionar alguns problemas para os instrutores, sendo:

  • o que realmente o atirador está observando no seu setor de tiro;
  • de que maneira é a comunicação da guarnição em uma situação de tiro real;
  • como está sendo realizada a busca dos alvos no terreno;
  • obter uma comprovação de que a munição impactou ou não o alvo;
  • como avaliar o exercício de tiro de uma forma mais confiável; e
  • como fornecer à guarnição do carro de combate todas as observações importantes para uma análise pós-ação qualificada.

O sistema portátil LFME é projetado para supervisionar até quatro carros de combate simultaneamente durante seus exercícios de tiro.

Ele é composto das seguintes partes principais:

  • uma estação de controle do instrutor (ICS);
  • quatro equipamentos veiculares de bordo (OBE) com telemetria digital; e
  • uma câmera de observação de alvos (DROC).

Proporciona a observação da visão do atirador e da imagem vista pela câmera de observação de alvos (DROC), mostradas em um monitor na estação de controle do instrutor, esteja ele usando a visão diurna ou o sistema de imagem termal.

Permite o monitoramento da aquisição de alvos e divisão de tarefas do comandante de carro, em tempo real, possibilitando, assim, treinar a guarnição dando ênfase nos aspectos que são exigidos em cada fase da capacitação.

Figura 2: Visão da câmera DROC e antena de transmissão em comunicação com o CC. Fonte: Seção de Comunicação Social do CIBld

Por possuir uma câmera posicionada de tal maneira que se pode claramente ver o(s) alvo(s), e permitir gravar o tiro ao impactá-los, é possível ter uma avaliação confiável do desempenho no exercício de tiro, até mesmo para munições de energia cinética de alta velocidade, tais como Armour Piercing Fin Stabilised Discarding Sabot (APFSDS).

Pelo uso de um disco rígido para gravar as ações de cada carro e também para a Analise Pós Ação (APA) do exercício de tiro, e por reproduzir os exercícios gravados de volta para a guarnição, o instrutor tem toda as informações de que necessita para executar uma APA qualificada.

Assim, o LFME fornece uma excelente ferramenta de monitoramento, treinamento e informação de guarnições de carros de combate em exercícios de tiro.

O sistema elimina o “bom palpite“ e a “experiência pessoal” usados no passado para avaliação de exercícios de tiro e fornece importantíssimos dados gravados para análise pós-ação da guarnição.

O uso dessas gravações, reproduzidas repetidamente, em vez de observações escritas, proporciona o melhor feedback para a equipe em seu desempenho, diminuindo o tempo de engajamento e aumentando o índice de acerto no primeiro impacto, havendo, assim, uma comprovação baseada em gravações que confirmam se o alvo foi ou não atingido.

Figura 3: Imagem quádrupla apresentando quatro vídeos do aparelho principal de pontaria do atirador (EMES 18) Fonte: O autor

Levando em consideração a opção que o instrutor do LFME possui de bloquear o disparo do CC na linha de tiro, cabe salientar que esse equipamento diminui, também, o desperdício de munição, que por vezes eram gastas devido a alguma pane na viatura ou algum erro humano da guarnição, principalmente no que diz respeito à inserção de algumas variáveis balísticas pelo atirador.

Os usuários dinamarqueses confirmaram a validade desse equipamento, o qual era indispensável inclusive no Afeganistão, proporcionando monitoramento de atividades de correção em zero e exercícios de tiro da tropa lá empregada.

Dessa forma, o LFME melhora enormemente o conjunto de informações colhidas pelo instrutor, o que, sem dúvida, resulta em padrões mais altos nos exercícios de tiro real de carros de combate.

Canhão de carro de combate Leopard 1A5BR calçado com simulador laser BT46 da Saab (Imagem: Saab via Publicis Consultants)

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