Navio capitânia da Marinha do Brasil chega ao Rio de Janeiro

Com a chegada do PHM A-140 Atlântico* ao Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) no último dia 25 de agosto, o poder naval brasileiro recebeu um reforço estratégico de grande significado. O navio tem 204 metros de comprimento e desloca cerca de vinte e duas mil toneladas quando completamente carregado.

Todas as fotos (e texto) por Roberto Valadares Caiafa.

Após uma viagem de cinco meses longe do Brasil e todos os desafios colocados aos marinheiros brasileiros, como conviver com a tripulação inglesa absorvendo experiências e informações técnicas a respeito do Porta-Helicópteros Multipropósito em língua inglesa, oficiais, graduados e praças realizaram cursos ministrados pela Royal Navy e pelos fabricantes dos equipamentos de bordo, bem como acompanharam as manutenções que proporcionaram o recebimento do navio.

“Durante esse período de recebimento nós tivemos a oportunidade de conviver com os militares da Royal Navy (Marinha Britânica), os antigos tripulantes do navio, e em todo esse período eles nos colocaram a par de tudo o que eles fizeram ao longo desses 20 anos de operação do navio”, explicou o capitão-de-mar-e-guerra Giovanni Correa, comandante do Atlântico.

Após 18 dias percorrendo o mar que lhe dá nome, sob o comando do seu orgulhoso primeiro comandante, o mais novo navio de guerra da Esquadra Brasileira entrou triunfante pela orla da cidade dos cariocas para ser saudado, visto e conhecido.

Um dia histórico para os Soldados do Mar.

O começo: Arraial do Cabo

Após uma longa viagem até a cidade litorânea de Arraial do Cabo (RJ) (com pernoite), a reportagem embarcou ao amanhecer do dia 24 de agosto em um lanchão de desembarque do tipo landing craft, vehicle, personnel (LCVP), usada para lançar Fuzileiros Navais do mar para terra em um assalto anfíbio.

O jornalista Roberto Caiafa a bordo da LVCP. Foto antes de ficar mareado…

Em menos de 20 minutos de viagem (e um repórter mareado), a lancha rápida chegou ao PHM e foi içada pelo sistema de recuperação automatizado direto para seu compartimento na lateral do navio.

Após a recepção formal a bordo, a imprensa pode conhecer os compartimentos principais do navio, as operações aéreas, as confortáveis instalações de bordo, e a modernidade de seus sistemas e equipamentos.

O A-140 encontra-se em impecável estado de conservação e prontidão operacional, testemunho inegável da excelência do trabalho realizado pela sua tripulação.

Acomodados em camarotes para quatro pessoas, e compartilhando banheiros muito bem equipados, a conclusão: habitabilidade superior à média observada em outros navios da frota (a começar por um ar-condicionado realmente eficiente).

A modernidade do Atlântico se faz presente em todas as áreas. Nos conveses e deques é notável a qualidade dos equipamentos e dos materiais empregados. Detalhes pitorescos como anteparas de portas cortadas a maçarico para permitir a Rainha da Inglaterra conseguir visitar o navio no dia do seu descomissionamento (madrinha de batismo da embarcação), ou as máquinas de gelo em cubos espalhadas pelos corredores são alguns detalhes entre dezenas de itens que fazem parte do navio.

Um colosso com DNA britânico

Projetado para as tarefas de Controle de áreas marítimas, projeção de poder sobre terra, pelo mar e ar, o Atlântico dispõe de considerável capacidade de suporte hospitalar, visando a apoiar uma Força Naval em operações de guerra naval.

Além do Comandante, o navio possui atualmente uma tripulação de 303 militares. Após a sua chegada ao Brasil, deverá receber mais 129 tripulantes para completar sua dotação.

O A-140 também é talhado para realizar missões de caráter humanitário, auxílio a vítimas de desastres naturais, de evacuação de pessoal e em operações de manutenção de paz, além de poder ser empregado em missões estratégicas logísticas, transportando militares, munições e equipamentos.

Projetado para operar com até sete aeronaves em seu convoo e outras doze no hangar, pode transportar Grupamentos Operativos de 500 a 800 Fuzileiros Navais e projetá-los por movimentos helitransportados, ou por superfície, empregando suas quatro lanchas de desembarque do tipo LCVP, a partir de uma distância de até 200 milhas da costa (cerca de 320 km).

Possui, ainda, diversas salas de planejamento para uso de Estado-Maior. É dotado de um Sistema de Combate que integra o Sistema de Comando e Controle LPH CMS, quatro canhões de 30 mm DS30M Mk2, dois Radares 1007, um Radar 1008 e do moderníssimo Radar Artisan 3D 997, com elevada capacidade de detecção e acompanhamento.

Uma das salas de planejamento para uso de Estado-Maior a bordo.
Gerador do hangar principal.
Vista do hangar principal lotado de suprimentos e material destinado a manutenção e mantenimento do A-140 no Brasil nos seus meses iniciais de serviço. Uma grande quantidade de material foi embarcada no navio.
O contra-almirante Luiz Roberto Cavalcanti Valicente, chefe do CCSM, explica o funcionamento do COC do A-140 Atlântico a imprensa.
Flagrante de uma das séries de consoles do COC do Atlântico.
Um dos muitos compartimentos de guarda de munições, mísseis e outros armamentos orgânicos do navio e/ou usados pelos helicópteros embarcados.
O enorme elevador de vante. Um igual ocupa a área de popa.

A propulsão é composta por dois motores diesel (MCP) Crossley Pielstick 12 P2.6V400, de 520 RPM cada, 12 cilindros, 6750 KW acionando dois eixos propulsores e dois hélices de passo fixo com cinco pás, através de duas caixas redutoras – GEC ALSTHOM (na razão 3,029:1). O Navio possui quatro grupos diesel geradores (DG), sendo os motores diesel de marca/ modelo GEC/ Ruston 12 RKCZ e geradores Siemens/Hyundai 2000 kW, de 440 v.

Um sistema de tratamento de águas servidas permite armazenar e processar, simultaneamente, águas negras e cinzas. O processamento é realizado por degradação biológica e separação por membranas. Não há a adição de produtos químicos, possibilitando a descarga final, direta para o mar.

Um dos postos de canhões MSI de 30mm (X4)

A rede de combate a incêndio é composta por dois anéis de distribuição contínuos, nos conveses dois e cinco (convés do piso do hangar), supridos por uma das três bombas de 100 m3/h; ou por uma das cinco bombas de 300 m3/h.

Há ainda quatro moto-bombas de emergência de 100 m3/h. O navio é dotado de sete reparos (equipes) de CAV.

De fato, mais de um terço da tripulação recebe treinamento extra de controle de avarias, além de suas atividades originais, como forma de aumentar a segurança de bordo e diminuir fatores de risco.

O grande diferencial em termos de sensor radar embarcado de defesa do Grupo Tarefa contra ameaças aéreas e vetoração dos helicópteros nas operações de pouso e decolagem, o radarType 997 Artisan 3D gira no seu suporte.

Autoridades a bordo

Antes de atracar no AMRJ, o Atlântico recebeu a visita de diversas autoridades civis e militares.

O ministro da Defesa, general Silva e Luna, o embaixador do Reino Unido no Brasil, Vijay Rangarajan, acompanhados pelo comandante da Marinha do Brasil, almirante-de-esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, foram recebidos a bordo pelo comandante do A-140 e sua tripulação em forma no hangar de aeronaves.

O Embaixador do Reino Unido no Brasil, Vijay Rangarajan, o ministro da Defesa, general Silva e Luna, e o comandante da Marinha do Brasil, almirante-de-esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, durante coletiva a bordo do PHM A-140 Atlântico.

Praticamente todo o almirantado, diversos almirantes da reserva (Esquadra e Fuzileiros), o ex-comandante do Exército Brasileiro, general Enzo Peri, o ex-comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Julio Soares de Moura Neto, dentre outros, prestigiaram a chegada do Porta Helicópteros Multipropósito ao Rio de Janeiro.

As famílias e os Tripulantes

Os três canhões cerimoniais do A-140 troam nas proximidades da Escola Naval: salva de 21 tiros.

Nas proximidades da Escola Naval, o navio executou a salva protocolar de 21 tiros, tradição naval que for respondida pelos obuseiros Light Gun do Batalhão de Artilharia de Fuzileiros Navais, com suas peças posicionadas na Escola Naval.

Isso deu início a Parada Naval, ocasião em que navios da Esquadra receberam o Nau-Capitânea em postos de continência.

Corveta V-32
Navio Patrulha Oceânico P-120 Amazonas. Esse navio já foi comandado pelo atual 01 do Atlântico.
O submarino S-30 Tupi na superfície, imagem rara.
A Fragata F-46
A Fragata F-45
O Navio Doca Multipropósito G-40 Bahia.

Imagem: Marinha do Brasil

Cerca de mil pessoas foram ao Primeiro Distrito Naval, na região central do Rio de Janeiro, acompanhar a chegada do Porta-Helicópteros Multipropósito Atlântico no sábado, 25 de agosto.

A maioria do público presente era formada por familiares dos 303 militares a bordo da embarcação, e há cinco meses longe do Brasil realizando cursos para aprender a operar o navio.

Imagem: Marinha do Brasil
Imagem: Marinha do Brasil

A emoção registrada nas imagens dispensa qualquer legenda.

Nota do Autor: Ao longo da semana Tecnologia & Defesa vai publicar uma série de artigos sobre o PHM A-140 Atlântico, incluindo vídeos.

Acompanhe em www.tecnodefesa.com.br

* O PHM “Atlântico”, HMS “Ocean” na Marinha Real Britânica, foi construído em meados dos anos 90. Comissionado em setembro de 1998, operou a partir da Base Naval de Devonport, em Plymouth. No seu histórico de serviço, constam operações navais em apoio a ações humanitárias no Kosovo e na América Central;
A assinatura do contrato entre o Brasil e o Reino Unido para aquisição do HMS “Ocean” ocorreu em 19 de Fevereiro de 2018, a bordo do navio;
O descomissionamento do navio ocorreu em 27 de Março de 2018, em Plymouth;
No dia 29 de junho de 2018 foi realizada, na Base Naval de Sua Majestade, em Devonport, na cidade de Plymouth – UK, a Cerimônia de Mostra de Armamento do Navio;
Em 1º de agosto de 2018, o PHM Atlântico iniciou sua viagem com destino ao seu porto sede, no Rio de Janeiro, com escala em Lisboa, Portugal.

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