Morre Mauro José de Godói Moreira, um dos maiores artistas de aviation art do Brasil

Mauro José de Godói Moreira, um dos maiores artistas de aviation art do Brasil faleceu hoje. Dia triste para todos aqueles que vivem e curtem a aviação. (11/05/1938 – 12/10/2019).

MAURO JOSÉ DE GODOY MOREIRA, aviador, artista plástico, ilustrador, pesquisador e historiador. Nascido em Bragança Paulista em 02 /06/1938.

Entusiasta da aviação, Mauro José de Godoy Moreira fez seu primeiro voo solo aos 17 anos.

Tido como o mestre brasileiro da “Aviation Art“, abandonou os cursos de medicina e arquitetura para dedicar-se inteiramente a aviação.

Fundou no Brasil a Associação Brasileira de Artistas em Arte Aero Aspacial, a ABRARTA.

Sobre sua paixão, a aviação, o próprio Godói conta “Tudo começou antes mesmo de meu ingresso no “Grupo Escolar Jorge Tibiriçá,” entre os anos de 1944/45, quase todas as tardes eu ia passear com minha irmã mais velha, a Laurinha, e com meu pai, em seu automóvel, até o Campo de Aviação (assim era chamado pelos meus conterrâneos), para ver os dois únicos aviões do aeroclube local, um J-3 Piper Cub PP-TMJ, e um CAP-4 Paulistinha, PP-RCV, decolar e pousar. Para mim não poderia haver passeio melhor, era uma visão maravilhosa e sonhava um dia estar dentro de um deles. Hoje tenho certeza absoluta de que já era portador do vírus aerococus.”

“O desenho de aviões começou no grupo escolar, depois o aeromodelismo em seguida com apenas 14 anos o primeiro voo num paulistinha CAP-4, a partir daí até o sonhado breve. Por problemas de saúde tive que deixar de voar já fazem 10 anos. Neste tempo todo que estou longe dos aviões, procurei continuar com meus trabalhos sobre Aviation Art. Também as pesquisas e as artes que amigos e conhecidos encomendam. Hoje tenho trabalhos espalhados pelo Brasil e exterior: Capas de livros, revistas, folders, etc. Quadros sobre aviação e outros temas.”

“Participei da revitalização do aeroclube de Bragança Paulista entre os anos 1954/58. Sou aviador civil, pelo Clube Aeronáutico Horácio Lane (CAHL) – Universidade Mackenzie, São Paulo. Tive também participação, com alguns colegas aviadores, da fundação do aeródromo do Condomínio Vale Eldorado – Bragança Paulista (SP), em 1989. Ao lado do engenheiro aeronáutico e aviador, Fernando Luiz Machado de Almeida, fundamos a Associação Brasileira de Aeronaves Antigas e Clássicas (Abaac) no ano de 1997.”

“No mesmo ano de 1997, idealizei, fundei e fui o primeiro presidente da Associação Brasileira de Artistas em Arte Aeroespacial – Abrarta. Esta entidade tinha por finalidade o resgate, a preservação, a história e a cultura aeronáutica brasileira através da arte aeronáutica, (mundialmente conhecida como “aviation art”).

Participei três vezes do concurso sobre aviation art promovido pela EAA Air Adventure Museum Gorman Art Gallery – OshkoshWI – USA, entre os anos de 1995, 2001 e 2005. Fiquei surpreso e muito feliz quando soube que tinha sido classificado e premiado pelo concurso naquele ano de 1995.  Dentre as três artes premiadas estava uma que trabalhei com a técnica bico de pena que ficou exposta por um ano naquela Galeria de Arte do Museu da EAA, entre os anos 2001 a 2002. Título da obra: “TRIBUTE TO GREAT AVIATORS,” esta obra foi doada para aquele renomado museu norte-americano.”

“A Abrarta foi a primeira associação no Brasil a manter por alguns anos uma Galeria de Arte Aeronáutica, a mesma ficava no Shopping Jardim Sul – Morumbi em São Paulo. Galeria esta doada a nossa associação pelo inesquecível idealista, mecenas e ícone da aviação brasileira, Cmt Fernando de Arruda Botelho. Quantas lembranças…”

“No ano de 1995 reunimos no hangar Pegasus, (sede da Abrarta), no Vale Eldorado as duas associações Abaac e Abrarta que marcaram na história da aviação brasileira para um evento aeronáutico com o nome de “Encontro das Águias”. A Abaac com seus aviões considerados antigos e clássicos, os legendários J-3 Piper Cub, CAP-4 Paulistinha, Taylorcraft, Aeronca, NA T-6, Fleet, Cessna 140 e 170, A-35 Bonanza, Navion, Beech D-18, Ercoupe, Stinson 108, etc, e a Abrata, com suas telas e ilustrações sobre aviation art, (que é um segmento das artes plásticas), de vários artistas associados que apresentaram ao público presente nesta primeira coletiva realizada em nosso no país”.

“Esta matéria ilustrada é apenas uma sinopse de algumas recordações de 70 anos de minha vida dedicada as “coisas” da aviação que consta do livro de minha autoria lançado no dia 08/12/2016, no Círculo Militar de São Paulo, “CONTATO – Aviação e Arte”. Lá estão vários trabalhos a cores, “aviation art” que se encontra em museus, aeroclubes, hangares, bases aéreas, APVE – Embraer, Instituto Fernando de Arruda Botelho (IFAB), escritórios, bibliotecas, consultórios e colecionadores brasileiros e estrangeiros. Ainda, 51 ilustrações utilizando a técnica bico de pena, que retratam 51 histórias da nossa aviação civil e militar contada por personalidades os fatos narrados. Ainda algumas charges aeronáuticas e algumas ilustrações sobre outros temas. As ilustrações com a técnica bico de pena para esta obra de arte sobre aviação é a primeira que foi impressa no Brasil.”

UMA GRANDE AMIZADE

“Sexta-feira da paixão, 1956, fazia frio, o céu quase todo encoberto, uma garoa fina começava a cair e as luzes que iluminavam a cidade de Bragança Paulista, já estavam acesas. Eu e mais três amigos conversávamos animadamente nas portas do “Bar Copacabana”, muito famoso na sua época principalmente pela frequência de “todos os apaixonados por tudo o que voava”, nosso assunto era sobre os novos rumos que deveríamos tomar como diretores para a reorganização do aeroclube local que teve suas atividades paralisadas desde o ano de 1949.

A conversa foi repentinamente cortada pelo barulho do motor de um avião que nós não conseguíamos visualizar devido à visibilidade estar ruim, ser praticamente noite e as camadas de nuvens encontrarem-se muito baixas, naquele momento o que nós conseguíamos distinguir, era apenas a silhueta da aeronave que voava baixo sobre a praça principal da cidade e seu piloto tentando chamar a atenção dos cidadãos com rajadas de motor, querendo dizer que o mesmo estava sem orientação e precisava de apoio para realizar um pouso “noturno” com seu avião que mais tarde iríamos saber que era um NIESS 1-80, prefixo: PP-GLK, de fabricação nacional pertencente ao aeroclube de São José dos Campos- SP.”

“Não pensamos duas vezes e com nosso automóvel e o auxílio de outros amigos também com outros veículos, rumamos apressadamente para a pista de pouso do então chamado, “campo de aviação”. Assim que chegamos colocamos os veículos posicionados, dois na cabeceira da pista, um em cada lateral e outros mais adiante também com as mesmas disposições todos com seus faróis acesos e em fração de segundos, surge o aparelho com velocidade acima do normal, cruza a cabeceira um tanto alto, reduz todo o motor, em seguida ouvimos a famosa “placada” a qual parecia que com o barulho da pancada do trem de pouso no solo, a aeronave iria se desfazer. Em seguida a este “pouso” violento e os magnetos desligados, um silêncio toma conta de todos nós, nesse momento abre-se a porta do “misterioso” avião e desce um jovem piloto aparentando um misto de medo e ansiedade com a famosa pergunta: Onde estou ???!!!… Ficamos olhando um para o outro, ele nos encarou com um sorriso um tanto disfarçado e falou: Quero me apresentar, meu nome é Fernando de Almeida, sou aluno do ITA, vocês acabaram de “livrar-me de uma boa”, decolei de São José dos Campos, já era um pouco tarde para esta navegação, fiz uns cálculos e achei que dava para chegar ao destino. Como o teto estava baixo, furei uma camada compacta e após voar por mais de uma hora sem referências senti que estava perdido, assim mesmo resolvi continuar, procurando algum buraco nessa camada e abandonei a proa original, de repente surgiu uma brecha, lá em baixo surgiram luzes de uma cidade, não pensei duas vezes, “manche para a frente” e aqui estou. Meu destino era a fazenda de um amigo na cidade de Itatiba e pelo que vejo devo estar muito longe desse lugar…”

Comentário da Jornalista Marisa Lucchiari Nunes : Conheço a muito tempo o Mauro. Ele me emocionou muito nesse dia que me entregou essa dedicatória com a gravura do Roberto Pereira de Andrade. (Fundador de Tecnologia & Defesa)

“Quando falei que ele estava em Bragança Paulista, que Itatiba estava localizada apenas alguns minutos de voo, ele ficou um tanto pensativo, meio sem graça e a partir deste momento tudo que se falava era motivo para risos e piadas sobre “Manicacas”. Senti que nascia ali, naquele momento, uma grande amizade, o próprio Fernando a todo instante se lamentava não se conformando de não ter conseguido chegar ao seu destino, muitas vezes culpando-se pela falta de experiência e ao mesmo tempo do grave erro que foi querer navegar contando apenas com o fator sorte, mas como tudo nesta vida nada é por acaso, esta “navegação” foi uma das melhores coisas que aconteceu em minha vida, pois caso contrário jamais teria conhecido alguém tão especial, com uma cultura impar, possuidor de espírito tão elevado e de alma tão generosa.

Muitos anos se passaram após aquela sexta-feira da paixão de 1956, quando reencontramos já nos anos 80, (obviamente numa pista de pouso), foi só alegria e com tantas histórias para se colocar em dia levaram também alguns anos…Trabalhamos juntos, ele como jornalista aeronáutico que escrevia para revistas sobre os testes de voo que realizava com diferentes tipos de aeronaves aqui no Brasil e no exterior, eu especializado em “aviation art”, ilustrando estas matérias. Também não poderia deixar de registrar que entre tantas coisas que realizamos, uma delas foi a reconstrução de um Aeronca 7GCB, transformamos o m,esmo em um espetacular “Citabria”, sem dúvida, o mais bonito do Brasil, o PT-ZMR.”

“Mas a que posso considerar de grande importância para a aviação brasileira, aconteceu em 1997, no aeródromo do condomínio do Vale Eldorado, especialmente no “Hangar Pegasus”, o nascimento da  Associação Brasileira de Aeronaves Antigas e Clássicas – ABAAC, tendo sido nós dois seus idealizadores e fundadores.

Não é fácil falar ou escrever em poucas linhas sobre este verdadeiro ícone da Aviação brasileira, somente quem o conheceu e conviveu com o Aviador Fernando de Almeida, entende sobre o que falei. Deixo aqui registrado neste livro, minhas homenagens ao Eterno Amigo e o que representou o convívio com o Idealista, Aviador, Engenheiro Aeronáutico e jornalista, FERNANDO LUIZ MACHADO DE ALMEIDA, em síntese, o significado para mim, desta grande amizade.

NOTA: Fernando Almeida é o autor deste texto publicado na Revista “Aero Magazine” Ano 09 Nº 100, ano 2002, com o título: “um pedaço de asa na parede”.

  
 

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Comentários

2 respostas

  1. Eu tenho um livro aqui em casa com várias pinturas dele, o livro é bem interessante, tem a história da FAB e ao invés de ter imagens reais, eles colocaram pinturas.

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