Discurso do novo presidente da ABIMDE

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Carlos Frederico Queiroz de Aguiar, presidente da ABIMDE. (Imagem: Divulgação)

Prezadas Senhoras e Senhores,

Com a posse no dia de hoje da nova diretoria da ABIMDE, iniciamos um novo ciclo de trabalho em prol da indústria de defesa e segurança. Agradeço, na pessoa de Sami Hassuani, a todos os integrantes da antiga diretoria da ABIMDE que com muita determinação e abnegação conduziram a representatividade da indústria de defesa de forma exemplar, pelo qual destaco a iniciativa de promover o primeiro estudo econômico de investimentos no setor, contando com a participação da FIPE e do professor Delfim Neto.

A ABIMDE, ao longo do tempo, vem superando desafios que comprovam a grandeza do setor e a força da união de seus associados. Num primeiro esforço, do qual muitos aqui presentes participaram com a doação de seu tempo e expertise, muitas vezes às custas de suas empresas e indústrias, resgatamos a credibilidade da Associação, definindo regras claras de participação, consolidando a representatividade do setor e não de seus dirigentes, dando por fim meios para a sustentabilidade da ABIMDE com receitas originárias.

Num segundo ciclo, consolidamos a ABIMDE como representante legítima do setor perante as autoridades públicas, em vista de sua abrangência nacional e não apenas regional, e considerando que esta Associação não se subordina a interesses outros que não dos próprios associados. Saltamos de 29 para mais de 220 associados em todo o Brasil. Através de um trabalho de interlocução qualificada, adotando princípios de associação de classe e defesa de interesses efetivamente comuns ao setor, fomos reconhecidos e distinguidos como voz do setor e, consequentemente, tivemos a capacidade de trabalhar junto com os diferentes governos para a consecução de Políticas de Estado inerentes ao nosso setor.

O desenvolvimento dessas atividades de representatividade do setor em nível nacional permitiu aproximar a agenda da defesa e segurança pública de nossos governantes, pelo que posso citar diversos marcos basilares como o Livro Branco de Defesa, o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, a Política Nacional da Indústria de Defesa, o Plano de Articulação e Equipamento de Defesa, o Regime Especial Tributário da Indústria de Defesa e outras conquistas como a volta da Comissão Mista da Indústria de Defesa no âmbito do Ministério da Defesa.

Sinto, entretanto, que é momento de alçarmos um novo ciclo na ABIMDE. E sei da responsabilidade de fazer isso em meio à crise econômica e política. Mas crises econômicas e políticas, entremeadas de hiatos de prosperidade e calmaria, são justamente os cenários que o empresário de defesa e segurança no Brasil é especialista. Apesar destes cenários e em razão destes cenários a palavra de ordem é superação: no sentido de superar obstáculos, no sentido de ações superlativas.

Os ciclos anteriores de representatividade da ABIMDE mostraram toda nossa qualidade e competência em sermos legitimamente aceitos como interlocutores do setor, nossa capacidade de gerir interesses comuns associativos de classe, conseguir manter parcerias profícuas e de longo prazo com diversos governos, bem como ter produzido resultados em âmbito nacional para o setor.

O que não conseguimos fazer ainda, pelo menos não de modo pleno, é aproximar nossa agenda da opinião pública, de forma que defesa e segurança pública sejam parte da cultura nacional.

Evidentemente que reconhecemos os avanços nessa seara, em especial como o brasileiro médio hoje entende a necessidade de ter Forças Armadas equipadas e preparadas, mas ainda não é o bastante. Países que têm a defesa e segurança pública como valores de sua cultura, têm no seio de seu próprio povo e mídia a concepção de que apenas uma indústria forte, independente, produzindo para mercados interno e externo, alçam sua existência como nação a um patamar superior de tecnologia, desdobramentos duais em produtos e, principalmente, soberania e independência por meio de projeção de poder e influência geopolítica.

O Brasil, enquanto nação, precisa entender que a produção de ciência e tecnologia no setor de defesa e segurança, muito longe de estar associada a guerra e sangue, está intimamente ligada à criação de condições de uso da força que promovam a estabilidade entre os atores. Nesse sentido não deveria ser tratado pela grande mídia como um fato desabonador sermos exportadores de produtos de defesa, como quase sempre é veiculado.

Fazer este novo ciclo de debate, promovendo o conceito e o entendimento em nível nacional é uma tarefa muito desafiadora. Afinal, a quebra de paradigma em se tratando de criação de valor de cultura de um povo é disruptivo e provoca intensas reações contrárias. Mas nós temos a capacidade de fazer isso, de forma inteligente, consciente e duradoura, afim de que o debate sobre defesa e segurança pública possa ser realizado de forma justa, trazendo maior consciência aos brasileiros e maior apoio ao nosso setor.

Nada disso se fará da noite para o dia, talvez nem na duração de um mandato do Conselho Diretor da Associação, mas precisamos iniciar este debate internamente e, se assim for o consenso dos interesses do setor, levá-lo ao Brasil.

Aproveito o ensejo para enumerar algumas das propostas do Conselho Diretor Eleito, que permitiram mais uma vez a união do setor:

CRISE FINANCEIRA: Cortes orçamentários e inexistência de programas sustentáveis a longo prazo são mazelas conhecidas do setor de defesa e segurança que se tornam ainda mais agudas em momentos de crise. O orçamento impositivo é uma das bandeiras que a Associação precisa empunhar resilientemente, a exemplo do longo e incansável trabalho feito para aprovar a END.

MANUTENÇÃO DA END: Os esforços empreendidos para proteger a indústria nacional do imediatismo mercantil, possibilitando à mesma um crescimento compatível com a necessidade de investimento em tecnologia nacional e à altura dos anseios geopolíticos brasileiros, não podem desvanecer. Vimos nos dois últimos anos ações predatórias contra Empresas Estratégicas de Defesa que chamam atenção para algumas ineficiências na aplicação da END.

INSTRUMENTOS FINANCEIROS/COMERCIAIS DE ESTÍMULO À EXPORTAÇÃO: Os esforços realizados até aqui precisam ser multiplicados no sentido de o Brasil conceder tratamento preferencial à indústria de defesa e segurança pública, através de seus organismos oficiais (ministério, agências e bancos), facilitando a vida do exportador.

A exportação do setor em 2015, segundo a APEX, foi de apenas US$ 5 bilhões. Isso demonstra a enorme potencialidade de crescimento das exportações brasileiras, considerando nossa pífia participação no mercado global. Caberá à ABIMDE promover os estudos e as ações que nos permitirão enxergar com exatidão quais medidas podem ser propostas ao governo para aumentar nossa competitividade.

Entendo que muitos outros são os desafios de nossa BID, mas, que de uma forma ou de outra, estão contempladas nesses três pilares básicos.

Por fim, para que possamos aproveitar a cerimônia, gostaria de enfatizar a importância do crescimento de entidades regionais de defesa de classe do setor de defesa, bem como o trabalho muito próximo do nosso sindicato patronal. Solicito aos Associados que destinem parte de suas contribuições sindicais patronais no começo deste ano ao SIMDE – Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança.

Esta é a terceira vez que assumo a presidência da ABIMDE, o que faço com orgulho e com muita determinação de ombrear, junto com o empresariado, para reverter a situação que o setor enfrenta.

Muito obrigado a todos.

Carlos Frederico Queiroz de Aguiar

Presidente Eleito do Conselho Diretor da

Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança

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