Por Gustavo Baracho (*)
O cidadão que integra o Exército Brasileiro entende que ele mesmo será o escudo na defesa do povo, das terras brasileiras e de tudo o que nela existe de material e imaterial. Há outro valor maior que a vida?
Para o soldado, o patriotismo importa mais que sua própria vida, sendo esse o valor que ampara a existência do Exército Brasileiro. Sem patriotismo, toda a instituição se descaracterizaria e ficaria impedida de cumprir a sua principal missão constitucional, a defesa da Pátria.
Tudo criado por Deus tem uma finalidade, e o homem transforma essa criação para racionalmente atender à sua vontade. O que dizer do Exército Brasileiro? Não existe qualquer outra organização no Brasil que exerça as mesmas tarefas. É difícil também encontrar paralelo no mundo, em virtude da singular realidade brasileira. Isso é uma obviedade que precisa ser repetida para alguns públicos que insistem em desconhecê-la. Os fatos revelam por si essa afirmação. Há mais de 75 anos, a Força Expedicionária Brasileira foi aonde nenhum outro exército da América Latina esteve para lutar contra os nazifascistas e defender a democracia.
O século XX foi pleno de realizações do Exército Brasileiro no cumprimento de tarefas não convencionais para uma organização militar, que sempre foram executadas com efetividade e eficácia, contribuindo para o desenvolvimento e a integração nacional. Aqui faz-se referência à participação desinteressada do Exército em atender à sociedade em qualquer contingência, incluindo a realização de tarefas vocacionadas a outras organizações.
A existência de uma organização sem finalidade ou que, por anos, não venha atingindo os seus reais objetivos seria uma alucinação tal qual assistir a uma corrida de cavalos sem cavalos. Essa falta de percepção da realidade trata-se do delírio das negações, segundo Jules Cotard, em que o sujeito passa a acreditar que o mundo real se esvaeceu por completo, acabou ou está morto e, assim, não observa intuitivamente o horizonte de acontecimentos que revelam que o Exército Brasileiro foi muito além da grandiosa missão de defesa da Pátria.
No ano de 2020, um vírus surgido na China propagou-se rapidamente pelo mundo. O coronavírus chegou ao Brasil em meados do mês de março e, apesar do pouco conhecimento a respeito desse agente patógeno, ficou clara a sua eficaz capacidade de infectar a população e de se espalhar rapidamente.
Adaptado a situações de crise, o Exército Brasileiro não se surpreendeu com o cenário de pandemia e rapidamente adotou medidas para prevenir e evitar a propagação do vírus, para que sua capacidade operativa não fosse degradada por complicações sanitárias nos corpos da força e na família militar.
Prontamente, tropas especializadas do Exército Brasileiro já podiam ser vistas em praças públicas, aeroportos, terminais rodoviários, estações de metrô e em outros lugares por todo o território nacional, realizando operações de desinfecção. Simultaneamente, agentes de saúde foram transportados de grandes centros para apoiar comunidades indígenas de distantes regiões na Amazônia, no Pantanal e em outros locais de difícil acesso. Além disso, os patrulhamentos terrestres nas fronteiras não cessaram, tendo sido mantida a participação da instituição em ações de combate aos crimes transnacionais e, em muitas ocasiões, operando integrada a outros órgãos no combate e na prevenção a crimes ambientais.
Sem alterar essa postura responsável na análise dos riscos, as escolas de formação e especialização continuaram suas atividades, sem solução de continuidade, entregando profissionais cada vez mais preparados para enfrentar e superar quaisquer desafios nos diversos rincões do nosso Brasil.
Da Batalha de Guararapes à pandemia da Covid-19, o Exército Brasileiro sempre esteve ativo nas questões de defesa nacional, de segurança do Estado e de ordem pública. Avançando para além disso, a instituição sempre cooperou com outras inúmeras organizações democráticas para o Brasil alcançar o desenvolvimento idealizado pelo seu povo e, segundo o famoso intelectual Gilberto Freyre, sempre acompanhando as várias tendências brasileiras, de acordo com as tradições, aspirações e necessidades gerais do Brasil, e não tentando impor-se às demais forças nacionais nem antepondo-se sistematicamente a elas como elemento ordenador.
O Exército Brasileiro existe há mais de 370 anos, formou-se da junção de três raças – índios, negros e brancos – para expulsar o agressor estrangeiro, e é essa a mesma manifestação de patriotismo demonstrada nas inúmeras operações e ações de combate à covid-19, que tem contribuído para preservar milhares de vidas em todo o território nacional.
O compromisso com a verdade, com a ética e com a imparcialidade dos fatos não deve estar restrito apenas a um mero exercício retórico dos parâmetros de conduta daqueles que têm a responsabilidade em prestar informação à sociedade. Esses atributos devem orientar cautelosamente as organizações para que elas não incorram na corrupção da verdade e terminem por inverter ou negar os fatos da realidade e, melancolicamente, perder a finalidade de suas existências.
(*) Autor do livro Livros Brancos de Defesa: Realidade ou Ficção? é coronel da reserva do Exército Brasileiro, doutor em Administração pela Fundação Getúlio Vargas – Escola Brasileira de Administração Pública e Empresarial, mestre em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, graduado pela Academia Militar das Agulhas Negras em Ciências Militares e foi comandante do 9º Batalhão Logístico na cidade de Santiago/RS, no biênio 2015-2016.
Matéria originalmente publicada no EBlog
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